Economia

Seu vizinho seria mais prestativo se lidasse com a diversidade de perto

Estudo descobriu que pessoas que convivem com a diversidade em suas vizinhanças despertam o senso de identidade e expandem capacidades colaborativas

Estudo: probabilidade de um tweet mencionar palavras que sugerem positividade, simpatia, ajuda ou aceitação social foi maior em uma cidade mais diversificada (Google Maps/Reprodução)

Estudo: probabilidade de um tweet mencionar palavras que sugerem positividade, simpatia, ajuda ou aceitação social foi maior em uma cidade mais diversificada (Google Maps/Reprodução)

Ainda há muito debate sobre se a diversidade é ou não uma coisa boa. Embora muitas empresas divulguem os benefícios da diversidade, o cientista político americano Robert Putnam sustenta que a diversidade coloca as pessoas na defensiva, criando desconfiança nas comunidades.

Investigações empíricas sobre como a diversidade afeta as comunidades são muito poucas e díspares para fornecer qualquer resposta definitiva à questão. Assim, juntamente com colegas em Cingapura e nos EUA, nos propusemos a examinar essa mesma questão em uma série de estudos - cujos resultados foram publicados recentemente no Journal of Personality and Social Psychology.

Há, de fato, evidências de que a diversidade gera desconfiança nas comunidades. Mas comunidades diversificadas também oferecem uma oportunidade para pessoas de diferentes origens raciais e étnicas entrarem em contato umas com as outras, e pensamos que essas experiências poderiam gerar um efeito positivo nas identidades: especificamente, em até que ponto as pessoas se identificam com a humanidade, como um todo.

Uma conexão humana

Esta é uma das maiores e mais amplas formas de identidade, que um ser humano pode compreender. Uma série de tradições espirituais e filosóficas sustentou que acreditar que você compartilha uma conexão fundamental com outros seres humanos - independentemente de raça, religião, sexualidade ou gênero - é o sinal de uma mente madura.

Meus colegas e eu achamos que morar em bairros diversificados pode criar oportunidades de entrar em contato com pessoas diferentes de novo e de novo, expandindo, assim, o senso de identidade de uma pessoa. Como resultado, os que vivem em diversos diversificados tendem a ser mais propensos a ajudar. Nós examinamos essa possibilidade em cinco estudos empíricos.

No primeiro estudo, no Twitter, analisamos os sentimentos de tweets nas 200 maiores áreas metropolitanas dos EUA. Este foi um teste exploratório, um tanto básico, de nossa hipótese, usando uma grande amostra de dados. Neste estudo, descobrimos que a probabilidade de um tweet mencionar palavras que sugerem positividade, simpatia, ajuda ou aceitação social foi maior em uma cidade mais diversificada.

Florescendo

Encorajados por nossas descobertas, procuramos examinar como a diversidade de um código postal pode afetar a probabilidade de as pessoas oferecerem ajuda após um desastre, como um ataque terrorista. Usamos dados de um site que o Boston Globe criou, no qual as pessoas poderiam oferecer ajuda aos que ficaram presos após os atentados de 2013 na maratona de Boston.

Depois de contabilizar fatores como a distância dos bombardeios, a diversidade política, religiosa e a renda familiar média desses códigos postais, descobrimos que as pessoas que viviam em códigos postais com maior diversidade racial eram mais propensas a oferecer ajuda aos necessitados após a bombardeios.

Para levar nossa investigação ainda mais adiante, examinamos se as pessoas que vivem em países mais diversificados relatariam que ajudaram alguém no passado recente. Usamos dados da pesquisa Gallup World em 2012, que pediu a mais de 155.000 pessoas em 146 países para relatar se haviam ajudado um estranho no passado recente. Mais uma vez, descobrimos que as pessoas em países mais diversos eram mais propensas a relatar que haviam ajudado um estranho no último mês.

Expandindo identidades

Esses três estudos pareciam fornecer evidências convergentes para nossas ideias, mas precisávamos entender se isso acontecia porque a diversidade expande as identidades das pessoas. Do ponto de vista científico, isso representou um grande desafio. Seria quase impossível realizar uma experiência real em que alocássemos pessoas para morar em diferentes bairros e verificássemos se isso afetava seu nível de ajuda.

Então, em vez disso, pegamos emprestada uma técnica usada rotineiramente pelo psicólogo social, chamada priming. Priming é um método psicológico usado para ativar um estado de espírito em um experimento. Nós preparamos as pessoas para pensar em bairros diferenciados ou não. Fizemos essa alocação aleatoriamente e, em seguida, examinamos como isso afetava sua disposição de ajudar.

Também medimos se esse simples procedimento de priming também alterou suas identidades. Usamos uma medida de pesquisa desenvolvida por outros psicólogos, que mede o quanto alguém se identifica com toda a humanidade. Em dois estudos, descobrimos que imaginar morar em uma vizinhança diversificada expandia as identidades das pessoas, o que as tornava mais dispostas a ajudar um estranho.

Esses resultados não provam definitivamente que a diversidade é sempre uma coisa boa. Mas eles oferecem uma visão encorajadora de alguns dos benefícios que a diversidade pode trazer para as comunidades, dada a maneira como as identidades das pessoas mudam quando muitas vezes encontram pessoas diferentes.

Alguns governos já estão implementando políticas para tirar o máximo desses benefícios potenciais. Por exemplo, em Cingapura, cada bloco de apartamentos públicos mantém a mesma proporção de residentes chineses, malaios e indianos que existe na população em geral. Isso evitou a segregação e criou diversidade nos bairros, o que levou a uma sociedade melhor para todos. Nos antigos textos indianos, os sábios exortam as pessoas a verem o mundo inteiro como uma só família. Nossos estudos mostram que isso não é um sonho, é uma possibilidade real.

Jayanth Narayanan é Professor de Comportamento Organizacional e Liderança no IMD.

 

Acompanhe tudo sobre:CasasCidadesPreconceitosTwitter

Mais de Economia

Plano Real, 30 anos: Gustavo Loyola e as reformas necessárias para o Brasil crescer

Governo sobe previsão de déficit de 2024 para R$ 28,8 bi, com gastos de INSS e BPC acima do previsto

Lula afirma ter interesse em conversar com China sobre projeto Novas Rotas da Seda

Mais na Exame