Pandemia corta R$ 16,5 bilhões da renda das famílias por ano
O estudo, que busca mensurar a perda do capital humano, considera as vítimas da doença com 20 anos ou mais, entre 16 de março de 2020 e 16 de março de 2022
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de março de 2022 às 08h54.
Última atualização em 1 de abril de 2022 às 10h58.
Os dois anos de pandemia de covid-19 já ceifaram mais de 650 mil vidas no País, o que, além da inestimável perda pessoal, significa um corte de R$ 16,5 bilhões por ano na massa de renda potencial das famílias, segundo cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre) obtidos com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
O estudo, que busca mensurar a perda do capital humano, considera as vítimas da doença com 20 anos ou mais, entre 16 de março de 2020 e 16 de março de 2022. De 20 a 69 anos, foram 326 3 mil vidas perdidas no período, o que equivale a uma massa de rendimentos médios mensais de R$ 754,3 milhões, ou R$ 9,1 bilhões em um ano.
Considerando o rendimento médio quando morreram e a expectativa de vida, as vítimas da covid nessa faixa etária teriam capacidade de somar à renda familiar R$ 285,9 bilhões até falecer por outra causa.
"Essa nossa conta acaba sendo até limitada, porque considera a renda média da data da morte, como se a pessoa não fosse evoluir. Ela poderia se instruir mais e dar um salto na carreira por exemplo", disse Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV/Ibre.
Já entre os idosos a partir de 70 anos, a covid-19 vitimou 314,3 mil em dois anos de pandemia, o equivalente a uma massa salarial média mensal de R$ 617 milhões, ou R$ 7,4 bilhões perdidos em um ano. "Essas pessoas não só usavam suas capacidades de trabalho, como também transmitiam isso para as próximas gerações", disse. "Quantas pessoas deixaram de fazer seus trabalhos e deixaram de transmitir suas experiências?".
Um dos casos mais comuns na favela de Heliópolis, na zona sul de São Paulo, foi o de famílias em que algum dos membros, mais idoso, contribuía com a renda de uma aposentadoria ou algum tipo de benefício social e foi vítima da doença. "Está muito difícil e foi muito difícil o período", afirmou Antonia Cleide Alves, presidente da Unas Heliópolis e Região, a associação de moradores do local, referindo-se à combinação do drama pessoal de perder entes queridos com os problemas financeiros relacionados a toda a crise econômica causada pela pandemia, que passa pela "carestia" e pela falta de trabalho.
Redução de danos
Desde março de 2020, a Unas atua em ações emergenciais para contenção dos danos da pandemia, como a distribuição de cestas básicas e de máscaras - a fabricação de máscaras de pano serviu tanto para produzir os equipamentos de proteção quanto para gerar renda extra para costureiras. A distribuição de alimentos chegou a atingir mil cestas básicas por mês, segundo a Unas.
Para Maria Andreia Lameiras, técnica de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a perda de vidas e de renda chegou a impactar o consumo das famílias no País ao longo da pandemia, mas os programas de transferência de renda do governo, como o Auxílio Brasil, têm potencial para sustentar as famílias mais vulneráveis até que o mercado de trabalho mostre uma melhora mais significativa, com mais empregos e melhores salários.
"Parte dessa renda perdida na pandemia está sendo recuperada com esse Auxílio Brasil", opinou. "No médio e longo prazos, o que se espera é que a gente tenha uma economia que esteja crescendo mais e que parte dessa renda perdida das famílias seja recomposta."