Economia

País terá meta contínua de inflação de 3% a partir de 2025 e Haddad cobra corte de juros em agosto

Início da nova metodologia coincide com o fim do mandato do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 29 de junho de 2023 às 17h29.

Última atualização em 29 de junho de 2023 às 18h30.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira, 29, que o presidente da República publicará um decreto para adotar o regime contínuo de metas para inflação, em 3%, a partir de 2025. A tendência foi antecipada pela EXAME na quarta-feira, 28.

Segundo ele, o início da nova metodologia coincide com o fim do mandato do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que termina em 31 de dezembro de 2024. A meta de inflação de 2024 permanece em 3%, mas com período de 12 meses.

Atualmente, o BC persegue metas anuais, o que força a autoridade monetária a definir juros mais altos para cumprir o objetivo dentro do prazo. Com mais tempo para atingir a meta, o BC poderia projetar a redução da inflação em horizontes mais largos. A partir de 2025, esse período será de 24 meses.

“Em relação à meta de inflação eu anunciei ao CMN, por ser a prerrogativa do presidente da República, uma mudança em relação ao calendário. Já tinha manifestado minha simpatia de mudança desse padrão que só se verifica em dois países do mundo. Adotaremos a meta contínua a partir de 2025 e decidimos que a meta, à luz dos indicadores econômicos, será 3% com 1,5 de intervalo. As projeções para 2025 já se encontraram nesse patamar”, disse.

Corte de juros

Haddad ainda afirmou que há uma expectativa do governo de “cortes consistentes” dos juros, já que os indicadores demonstram convergência da inflação para a meta.

“Há expectativa do governo de que tenhamos cortes consistentes dos juros já que indicadores demostram convergência e preocupação grande com crescimento econômico do ano de que vem", disse. "Temos razões para nos preocupar com a desaceleração. Praticar uma taxa de juro na casa de 9% em termos reais é algo que deveria ser revisto em proveito da sociedade, à luz dos indicadores."

CMN

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reuniu nesta quinta-feira, 29, para debater a meta de inflação de 2026 e reavaliar os objetivos de 2024 e 2025. A tendência, segundo técnicos da equipe econômica ouvidos pela EXAME, era de que o colegiado fixasse um objetivo contínuo de 3% para todos os anos, sem prazo definido para atingi-lo.

Atualmente, o Banco Central (BC) persegue metas anuais, o que força a autoridade a definir juros mais altos para cumprir o objetivo dentro do prazo.  Com mais tempo para atingir a meta, o BC poderia projetar a redução da inflação em horizontes mais largos. Para essa reunião, discute-se fixar esse período maior, de 18 meses, 24 meses, ou sem prazo definido.

Na prática, essa mudança reduz a dose do remédio amargo – a alta da Selic – para controlar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e pode consolidar as apostas de queda de juros em agosto.

Redução de juros

A decisão do CMN e a edição do decreto presidencial tem potencial para acabar com as especulações sobre mudanças de metas e ancorar as expectativas futuras de inflação. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) pontuou essas duas questões como essenciais para o início da queda de juros.

DOSSIÊ: Agosto ou setembro? Mercado diverge sobre quando BC começa corte de juros

A ata da última reunião do Copom, que manteve a Selic inalterada em13,75% ao ano, mostrou que os diretores do BC divergiram como sobre deveriam sinalizar os próximos passados. A avaliação da maioria foi de que a continuidade do processo de desinflação e os impactos sobre as expectativas podem permitir uma queda de 0,25 ponto percentual no próximo encontro, em agosto.

O governo já definiu o que deseja do BC em agosto: um corte de juros de pelo menos 0,5 ponto percentual, para 13,25% ao ano, confidenciaram à EXAME integrantes do Executivo. E a pressão para que isso ocorra partirá de ministros da equipe econômica, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice, Geraldo Alckmin.

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