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O braço forte do BNDES

Perfil: Darc Costa

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h45.

Poucas instituições no governo Lula vêm tendo uma administração tão polêmica quanto o BNDES -- um gigante com um orçamento para este ano de 34 bilhões de reais. Desde que o economista Carlos Lessa assumiu sua presidência, no início do ano, o banco tem estado no centro das discussões muito mais por algumas idéias polêmicas de seus executivos -- Lessa chegou a defender que a instituição voltasse a ser um hospital de empresas -- do que por medidas efetivas de fomentador do desenvolvimento. No final de agosto, o banco voltou à berlinda. Lessa abdicou da presidência executiva para se dedicar às relações com o governo. Agora, quem toca o dia-a-dia do BNDES é seu vice-presidente e braço-direito, o engenheiro carioca Darc Costa.

Como Lessa, Darc não tem experiência executiva anterior. Mas sua capacidade de gerar polêmica é tão ou mais impressionante que a de seu chefe. Em sua primeira semana no comando do BNDES, Darc chegou a subverter um dos principais conceitos do capitalismo -- o da livre concorrência. "Não acreditamos no discurso da concorrência como mola do sistema capitalista", afirmou ao defender o monopólio na aviação civil resultante de uma possível fusão da Varig com a TAM.

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Darc costuma também bater numa tecla que ainda não está bem explicada: a de que o BNDES será um banco de desenvolvimento e não mais de investimento, como nas últimas gestões. Sua idéia é que a instituição se volte para o financiamento de obras de infra-estrutura capazes de alavancar o emprego, a ser tocadas principalmente pelo setor público. A preocupação de alguns analistas é que com essa visão o banco deixe de se preocupar com o retorno dos investimentos. "Se não é para dar lucro, é melhor que os recursos do banco passem para o orçamento da União", diz um ex-executivo do BNDES.

Darc Costa tem uma resposta pronta para esses críticos. Segundo ele, quem concedeu financiamento sem garantia de retorno foi a equipe da gestão passada. O caso mais rumoroso é o da empresa de energia americana AES, controladora da Eletropaulo, que aplicou um calote de 1,2 bilhão de dólares. Quando a atual gestão tentou cobrar a dívida, descobriu que quem deu a garantia ao empréstimo não foi a AES e sim uma subsidiária instalada num paraíso fiscal. Após vários embates com a multinacional, o BNDES, no começo deste mês, fechou um acordo de renegociação da dívida da AES.

Embora Darc somente agora esteja assumindo oficialmente as funções executivas do banco, na prática ele já vinha desempenhando esse papel. Foi ele o mentor da mudança radical na estrutura do BNDES no começo do ano. Foram extintas, de uma só penada, 27 superintendências. Em seu lugar foram criadas outras 11, com novos titulares. O resultado é que a máquina deu uma emperrada, com queda de 14% na liberação dos financiamentos. "O banco está dividido entre os que gostam do Darc e os que não o suportam, e isso não é muito positivo para a instituição", diz o presidente da Associação dos Funcionários do BNDES, Antônio Saraiva.

A combinação de Darc Costa e Carlos Lessa não deixa de ser curiosa. Lessa é um economista de esquerda. Tem entre os amigos mais chegados a economista Maria da Conceição Tavares. Darc, embora seja funcionário de carreira do banco, ocupava, nos últimos anos, a coordenação do Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra (ESG). Seu mais próximo interlocutor era o general Leônidas Pires Gonçalves. Suas idéias se aproximam mais do nacionalismo de direita dos anos 70, com claro viés estatizante. Darc sempre foi defensor de um setor estatal forte e deixou clara sua contrariedade com a privatização das empresas de energia. "A crise energética recente é uma passagem que demonstra a incapacidade do mercado e das soluções neoliberais", escreveu num artigo. Não é à toa que no governo Lula a Petrobras tenha se tornado o principal destino dos empréstimos do banco.

Casado, pai de três filhos, Darc é visto por seus pares como um homem de personalidade forte. "Ele tem o temperamento da Maria da Conceição Tavares, só que não fala palavrão", diz um de seus pares. Toda sexta-feira ele dá aula na pós-graduação de engenharia da UFRJ sobre políticas públicas. Tem vários ensaios publicados, a maioria versando sobre geopolítica.

Fora das hostes do BNDES, Darc enfrentou algumas derrotas. No final de agosto, o candidato que apoiou para a presidência do Clube de Engenharia, Alexandre Leal, foi derrotado. O próprio Darc não conseguiu se eleger para o conselho do clube. Mas ele tem seus defensores. Wagner Victer, secretário de energia do Rio de Janeiro é um deles. Para o secretário, os ataques são resultado do descontentamento de alguns bancos com a decisão do BNDES de acabar com a intermediação financeira em um empréstimo de 800 milhões de reais concedido à Petrobras no início do ano. "O BNDES decidiu repassar os recursos diretamente para a estatal deixando Bradesco, Itaú e Unibanco de fora da operação", diz Victer. "Com isso economizou 32 milhões de reais referentes à comissão que seria paga aos bancos." Procurado por EXAME, Darc não quis se pronunciar.

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