O BC deve intervir no câmbio?
A valorização do real nas últimas semanas está dividindo a opinião dos analistas do mercado sobre a conduta do Banco Central: o governo deveria aproveitar o momento de baixa do dólar para fazer negócio, mesmo que isso coloque em risco a trajetória de queda da cotação da moeda americana? Parte do mercado acha sim, parte […]
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.
A valorização do real nas últimas semanas está dividindo a opinião dos analistas do mercado sobre a conduta do Banco Central: o governo deveria aproveitar o momento de baixa do dólar para fazer negócio, mesmo que isso coloque em risco a trajetória de queda da cotação da moeda americana? Parte do mercado acha sim, parte discorda e o BC já afirmou que não irá intervir no câmbio.
O dólar barato traz uma série de vantagens para a economia do país e pelo menos uma desvantagem. Com a queda da moeda americana, a pressão inflacionária é menor e a relação entre a dívida líquida do país e o PIB é automaticamente reduzida. Alguns analistas acreditam que a desvalorização vista até agora - o câmbio médio de um ano atrás está acima da cotação atual - já pode ter sido incorporada aos preços livres. Da mesma forma, se o dólar continuar neste patamar, a dívida pública poderá ser reduzida para algo em torno de 53% do PIB em março - o mais baixo custo desde 2001, segundo relatório do Lloyds TSB.
Por outro lado, dólar baixo tem uma desvantagem: o resultado das contas externas. Graças ao alto valor da moeda, o país vem registrando crescentes superávits comerciais e conseguiu reduzir significativamente a dependência de capitais externos para cobrir déficits em transações correntes. O que não é pouco.
As contas externas do país são apenas um dos argumentos dos que pedem a intervenção do BC no mercado. Em seu relatório semanal, a corretora americana Merril Lynch defende a ação dizendo que esta é uma boa oportunidade para o BC recompor suas reservas internacionais - que já foram mais de 70 bilhões e hoje estão em 41 bilhões. As reservas podem garantir futuros pagamentos de empréstimos financeiros. Por fim, a operação de compra de dólares seria lucrativa para o BC, que vendeu parte de suas reservas quase 4 dólares no ano passado. Agora, pagaria 3,20 reais por elas.
O problema de o BC ir ao mercado é que tal compra poderia incentivar uma nova corrida ao dólar, o que poderia provocar uma reversão prejudicial na cotação da moeda. Além disso, estaria também em risco a formação de um "piso" para o câmbio, efeito condenado por parte do mercado. "O BC pode aproveitar o momento, mas desde que intervenha sem formar preços", diz o relatório do Lloyds TSB.