Novo membro do BC diz que batalha nº 1 é baixar juros dos bancos
Fabio Kanczuk foi indicado para ser membro da diretoria do Banco Central, mas ainda precisa ser aprovado pelo Senado
Reuters
Publicado em 29 de outubro de 2019 às 14h37.
Última atualização em 29 de outubro de 2019 às 14h45.
Brasília — A redução do spread, medido pela diferença entre o custo de captação dos bancos e o cobrado aos clientes, será batalha número um do Banco Central , afirmou o indicado à diretoria de Política Econômica da autarquia, Fabio Kanczuk, defendendo a senadores que se comprometerá com a tarefa de diminuição dos juros na ponta caso seja aprovado ao cargo.
Em sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), 16 senadores chancelaram o nome de Kanczuk para o posto, enquanto quatro votaram contra. Agora, o plenário do Senado ainda precisa analisar sua indicação para que assuma a cadeira na autoridade monetária.
Durante sua participação, Kanczuk fez uma defesa enfática da necessidade de queda dos juros aos consumidores e ponderou que os lucros dos bancos no Brasil são extremamente elevados em relação a capital investido.
"É legítimo que a sociedade questione", disse ele, que atuou como secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo do ex-presidente Michel Temer.
Apesar disso, Kanczuk avaliou que a principal causa por trás do alto custo de financiamentos no país é a inadimplência. Em seguida, aparecem os custos administrativos e operacionais, seguidos pelos compulsórios e peso dos tributos e, finalmente, pela margem de lucro das instituições financeiras.
"Há lista grande do que fazer para trabalhar nesses pontos", afirmou ele, destacando que o BC precisa trabalhar na melhoria da recuperação de crédito, que é baixa e demorada no país.
Kanczuk também avaliou que é preciso eliminar o subsídio cruzado sobre o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito.
Ele argumentou que avaliações internas do BC já mostraram que são as pessoas com menor educação financeira que utilizam esses produtos e acabam pagando por seu alto custo, ainda que essas modalidades sejam também ofertadas ao público de renda mais alta — que não as acessam.
Em outra frente, Kanczuk disse acreditar que open banking e aumento de atuação das fintechs irão ser cruciais na "batalha do spread" no Brasil.
Em seu discurso inicial, ele avaliou que o principal papel da política monetária conduzida pelo BC é assegurar inflação baixa e estável, sendo que o sistema de metas é uma ferramenta importante para tanto.
Para Kanczuk, o sistema tem funcionado "muito bem", sendo que a banda para a meta de inflação é o que permite que choques momentâneos, como por exemplo no preço de alimentos, sejam acomodados.
Sem tecer comentários mais aprofundados sobre sua visão para a Selic, Kanczuk afirmou que "é com estabilidade monetária que convergiremos para taxas de juros a níveis mais adequados, seguindo sempre firmes no objetivo de contribuir para um ambiente de crescimento econômico sustentável".
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne nesta quarta-feira para mais uma decisão sobre os juros básicos, com um membro a menos. O economista Carlos Viana, que comandava a diretoria de Política Econômica, deixou o cargo no final de setembro, a pedido. Se aprovado, Kanczuk participará da próxima reunião, em dezembro, quando o Copom voltará a ter nove membros, incluindo o presidente Roberto Campos Neto.
Atualmente, a taxa Selic está em 5,50%, seu menor nível histórico, e a expectativa majoritária do mercado é que seja cortada em 0,5 ponto percentual, no que seria o terceiro corte seguido desta magnitude.