Economia

Mesmo com maioria, Trump não aprova o que quiser, diz Citi

Segundo o Citi, Trump encontrará resistência de um Congresso republicano ao perseguir políticas que limitem o comércio internacional

A vitória de Trump foi uma surpresa e deve trazer instabilidade (Jonathan Ernst/Reuters)

A vitória de Trump foi uma surpresa e deve trazer instabilidade (Jonathan Ernst/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 9 de novembro de 2016 às 11h58.

Última atualização em 9 de novembro de 2016 às 17h48.

São Paulo - Donald Trump foi eleito nessa madrugada presidente dos Estados Unidos e os republicanos conseguiram manter maioria no Congresso e no Senado.

Obama só teve controle do Executivo e dos dois níveis do Legislativo nos seus dois primeiros anos de mandato, quando conseguiu aprovar políticas ambiciosas como a ampliação do seguro saúde (o Obamacare).

Isso não significa que toda a agenda de Trump vai sair do papel da forma que ele a colocou, de acordo com um relatório do Citi lançado hoje.

A deportação em massa e o muro com o México, por exemplo, são provavelmente impossíveis de executar, pelo menos no curto prazo.

Outras devem enfrentar resistência pelo mesmo motivo que fez de Trump uma figura tão fora do padrão dentro do Partido Republicano.

"Falcões fiscais podem emperrar as propostas de Trump que aumentam o déficit, enquanto os conservadores podem se opor às políticas mais liberais de Trump, como o pagamento de licença paga para famílias. Um presidente Trump também provavelmente encontrará resistência de um Congresso com maioria republicana ao perseguir políticas que limitem o comércio internacional ou azedem as relações americanas com aliados estrangeiros, dado que isso vai contra uma ortodoxia duradoura do partido", diz o banco.

Trump também tem baixos níveis de popularidade, nenhuma experiência no governo e  desconfiança de muitas figuras de peso no partido.

Ainda assim, seu estrago pode ser grande, já que o presidente americano tem algumas prerrogativas para agir sozinho se quiser fechar a economia e reorientar a relação com aliados.

“Os poderes do presidente dos Estados Unidos são muito assimétricos. Para abrir a economia, ele precisa do apoio do Congresso, mas, para fechar, ele pode decidir de forma autocrática”, disse Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em encontro com jornalistas há duas semanas.

Trump também já atacou as políticas do Federal Reserve, o banco central americano, que tem independência garantida por lei mas pode ser afetado por novas regulações.

Janet Yellen, a presidente do Fed, provavelmente será substitúida ao fim do seu mandato em janeiro de 2018 - isso se não renunciar antes.

A aposta do mercado era que tudo conspirava para que o aguardado aumento  dos juros viesse em dezembro. Com mais essa turbulência nos mercados, essa aposta perde força e há quem fale até em novo corte.

A consultoria Euromonitor estima que com um presidente Trump, o crescimento do PIB americano vai cair da faixa dos 2% para 0,3% em 2017 e 1% em 2018 mesmo se suas propostas forem diluídas pelo Legislativo.

“Relações internacionais tensas também devem levar à perda de confiança, o que deprimiria o gasto do consumidor e o investimento das empresas”, diz o texto da analista Kotryna Tamoseviciene.

O Brasil também pode ver o seu crescimento desabar, mas o efeito previsto é pior nos maiores parceiros comerciais dos EUA - como Irlanda e México.

Acompanhe tudo sobre:CitiCrescimento econômicoDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Fed – Federal Reserve SystemJanet YellenJuros

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor