Maduro muda presidente do Banco Central para contornar crise
Presidente do Banco Central é criticado pela falta de autonomia e responsabilizado pela crise econômica do país
AFP
Publicado em 23 de janeiro de 2017 às 06h54.
O presidente da Venezuela , Nicolás Maduro, anunciou neste domingo a substituição do presidente do Banco Central (BCV), uma figura criticada por sua falta de autonomia e que rege a política econômica de um país petroleiro mergulhado em uma das piores crises de sua história.
"Diante da renúncia do companheiro Nelson Merentes, que entregou sua carta de demissão da presidência do Banco Central da Venezuela, decidi indicar" Ricardo Sanguino, anunciou Maduro em seu programa de domingo na TV estatal.
Merentes, um matemático de 62 anos, estava à frente do BCV desde 2009, exceto por um período de oito meses em 2013, quando foi ministro das Finanças do governo Maduro. Em janeiro de 2014, voltou a comandar o Banco Central.
"Quero agradecer por todo o esforço que Nelson Merentes sempre fez em distintas frentes de batalha, mas quero que iniciemos uma nova etapa do desenvolvimento do Banco Central da Venezuela", acrescentou Maduro.
Sanguino, 73 anos, foi, por muitos anos, deputado e presidente da Comissão de Finanças e de Orçamento da Assembleia Nacional, controlada há um ano pela oposição.
"Eu o conheço muito bem. É um dos homens mais estudiosos e conhecedores da vida financeira, econômica e monetária do país", garantiu Maduro sobre o novo presidente do BCV.
Para o deputado opositor José Guerra, ex-diretor do Banco Central, a missão do novo presidente do banco será "reduzir a inflação, divulgar cifras e organizar a instituição".
Segundo a imprensa, foi Maduro que pediu a demissão de Merentes.
"Uma nova etapa"
O presidente socialista assinalou que "a nova etapa" do BCV será "de luta contra as máfias internas e internacionais", que, segundo ele, atacam a moeda venezuelana para desestabilizar seu governo.
Entre suas últimas medidas, Merentes determinou, sob ordens de Maduro, a circulação de novas cédulas, que excedem em até 200 vezes a que tinha o maior valor.
Os bancos de Caracas entregaram este mês as novas notas, de 500, 5.000 e 20.000 bolívares, que deveriam ter começado a circular em dezembro, mas que, segundo Maduro sofreram atraso por "sabotagem" dos Estados Unidos.
Com as novas cédulas, o governa busca atenuar os efeitos da inflação e da desvalorização do bolívar frente ao dólar paralelo, negociado por cinco vezes mais do que a taxa oficial.
Analistas e o setor privado apontam que a situação piora devido ao controle cambial em vigor desde 2003 e ao enfraquecimento do setor produtivo por falta de matérias-primas.
Reconhecendo a situação "catastrófica", Maduro governou em 2016 sob um decreto de emergência econômica, renovado há uma semana, que lhe permite o manejo dos recursos do Estado e do endividamento.
Além disso, retirou as atribuições do Parlamento de aprovar as nomeações dos diretores do BCV e o orçamento nacional.
Ao mesmo tempo, deu ao BCV o poder de conceder ou financiar créditos ao Estado e a entidades públicas ou privadas quando o presidente considerar que há situações de emergência.
"O problema não é de nome, o problema é o papel do Banco Central. Perdeu a razão de ser, já não define a política monetária, a política financeira, porque é uma entidade sem autonomia", disse à AFP o economista Asdrúbal Oliveros.
Como Maduro, Ricardo Sanguino afirma que a crise é causada por uma guerra econômica de empresários de direita, e assinala que o BCV deve estar à serviço do povo.