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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.
O resultado recorde das importações de agosto deu mais munição aos críticos da política cambial do governo. Empresários e economistas defendem há tempos que o Banco Central mude de atitude em relação ao mercado de dólar, a fim de evitar uma maior apreciação do real que comprometa as exportações e favoreça as compras do exterior. Os números de agosto, divulgados nesta quinta-feira (1º/9), podem ser o sinal amarelo para que as autoridades repensem o regime cambial.
"Sem olhar para o câmbio, o governo corre o risco de comprometer os saldos comerciais", diz o economista-chefe da consultoria Trevisan, Luiz Guilherme Piva. No mês passado, as importações alcançaram o valor recorde de 7,676 bilhões de dólares. Trata-se da primeira vez que as compras do exterior rompem a barreira dos 7 bilhões mensais. Em julho, o total havia somado 6,049 bilhões. O recorde anterior, 6,365 bilhões, pertencia a maio deste ano (se você é assinante, leia ainda reportagem de EXAME sobre o impacto do real forte).
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, todos os itens da pauta de importação cresceram no mês passado. Um dos destaques foi a categoria de combustíveis e lubrificantes, com acréscimo de 65%. Apesar de o país estar próximo da autosuficiência na produção de petróleo, as importações foram prejudicadas pelo aumento dos preços internacionais de óleo cru. Além disso, as compras de nafta (insumo básico do setor petroquímico) e óleos combustíveis também subiram.
Segundo Piva, um aspecto positivo das importações é o aumento das compras de bens de capital, o que mostra que as indústrias não deixaram de investir, apesar das recentes turbulências políticas e da aproximação de um ano eleitoral. A categoria de máquinas industriais aumentou 47,3%, por exemplo.
Exportações
Apesar do câmbio desfavorável, as exportações também bateram recorde e somaram 11,348 bilhões de dólares. O resultado só não foi melhor porque, se considerada a média diária de embarques de 493,4 milhões de dólares, o mês passado perdeu para julho, quando a média ficou em 526,7 milhões. O mês retrasado detinha o recorde anterior de exportações, com 11,061 bilhões de dólares.
De acordo com o Ministério, a expansão foi sustentada pelas vendas de produtos manufaturados, cujo total atingiu 5,963 bilhões de dólares. Trata-se também de um recorde mensal. Essa categoria foi puxada pelas vendas de aparelhos transmissores e receptores (95,6% de alta), açúcar refinado (87,7%), laminados planos (86,4%) e veículos de carga (61%), entre outros.
Saldos e críticas
No mês, o saldo comercial foi superavitário em 3,672 bilhões de dólares. A cifra assinala uma forte queda em relação a julho, quando foi de 5,012 bilhões. No acumulado do ano, as exportações atingiram 76,086 bilhões de dólares, contra importações de 47,738 bilhões. O saldo acumulado até agosto é de 28,348 bilhões, também recorde para o período.
Apesar do bom desempenho, os economistas alertam que a desaceleração do superávit e o salto das importações, no mês passado, são reflexos de uma taxa de câmbio distorcida. Além disso, parte do crescimento das exportações deve-se a fatores externos, como o próprio aquecimento da economia mundial.
Segundo Piva, a primeira ação do Banco Central deveria ser sua volta ao mercado de câmbio, comprando dólares para elevar a cotação. O segundo passo seria reduzir as taxas de juros pois os juros altos atraem os investidores para os títulos de renda fixa, deixando os títulos cambiais em segundo plano.