Gestão de Gilmar Mendes foi marcada por atos polêmicos
O ministro Cezar Peluso tomou posse como presidente do Supremo Tribunal Federal na tarde desta sexta-feira.
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.
Brasília - O ministro Gimar Mendes fecha nesta sexta-feira (23) seu ciclo como presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), quando entrega o cargo a Cezar Peluso e deixa uma série de iniciativas pela modernização do Judiciário. Com uma gestão marcada pelo julgamento de temas polêmicos, Mendes deixará para o sucessor, por exemplo, a continuidade de programas como o desenvolvimento de versões eletrônicos dos processos judiciais, tanto nas defensorias públicas como nos ministérios públicos estaduais.
Também foi na sua gestão que passou a ser permitido uso de sistemas de videoconferência. Com as varas virtuais, ele tentou diminuir a lentidão da Justiça, com o controle manual de processos dando lugar à informatização das áreas de execução penal. Foi Mendes quem lançou o Sistema Justiça Aberta, que facilitou o acesso dos cidadãos a dados estatísticos do Judiciário, para tê-los como referência para identificar eventuais morosidades e, em posse desses dados, apontar casos em que a sentença não tenha sido proferida em tempo razoável.
Uma das iniciativas mais defendidas por Mendes foi o Mutirão Carcerário. Nascido da constatação de diversos problemas processuais pelos quais passavam os presidiários, Mendes lançou o mutirão com o objetivo de motivar juízes e promotores públicos a rever processos que pudessem reduzir a população carcerária do país. Cerca de 116 mil processos desse tipo foram analisados e a tarefa resultou na concessão de mais de 20 mil liberdades e de cerca de 35 mil benefícios previstos na Lei de Execução Penal.
Muitos temas polêmicos foram julgados durante sua gestão. Entre eles, a liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias; a demarcação da Terra Indígena da Reserva Raposa Serra do Sol; e o pedido de extradição do ex-ativista de esquerda Cesare Battisti para a Itália, onde havia sido condenado por quatro homicídios cometidos durante a década de 70.
O caso do ex-banqueiro Daniel Dantas - preso pela Polícia Federal por determinação do juiz federal Fausto De Sanctis, por suposta prática de corrupção, crimes financeiros e desvio de verbas públicas - também foi bastante polêmico e suscitou muitas críticas a Mendes, por ter concedido liminar com alvará de soltura em favor de Dantas.
Outro caso foi o que julgou inconstitucional a exigência do diploma de jornalismo e de registro profissional, no Ministério do Trabalho, para o exercício da profissão de jornalista. Pouco antes, o tribunal havia avaliado como inconstitucional a Lei de Imprensa. Mais recentemente, o STF julgou - e negou - um dos pedidos de habeas corpus do ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, preso por subornar uma testemunha de um esquema de corrupção envolvendo autoridades e empresários locais investigado pela Polícia Federal.
A polêmica também se fez presente no relacionamento com os outros ministros do STF. Joaquim Barbosa chegou a discutir seriamente com o ex-presidente do Supremo no ano passado. Em meio à discussão, Barbosa acusou Mendes de estar destruindo a credibilidade da Justiça brasileira e o desafiou a sair às ruas para ver a repercussão de seus atos à frente do STF.
De personalidade forte, Mendes não costuma se mostrar preocupado em agradar as pessoas. Suas ações como presidente do STF podem ser resumidas em uma das frases que costumava repetir: "Quem está em busca de aplausos não deve integrar o Supremo".