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Fed ainda subestima risco sobre inflação, diz Larry Summers

Larry Summers, que foi secretário do Tesouro de Bill Clinton e trabalhou no governo Obama, tem sido umas das principais vozes de cautela sobre inflação nos EUA

Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano (foto de arquivo): "após uma ampla experiência com alarmes falsos de inflação, há uma tendência natural de correr para o outro lado" (David Paul Morris/Bloomberg/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2021 às 16h17.

O ex-secretário do Tesouro americano Lawrence H. Summers ganhou manchetes nos EUA desde o fim do ano passado ao dizer que o pacote de pagamentos diretos aos cidadãos, do tamanho que estava sendo proposto, era "um sério erro" e poderia gerar inflação acima do desejado.

Falando a investidores brasileiros nesta terça-feira, 14, Summers comentou seu posicionamento e os riscos de inflação ao participar do MacroDay 2021 , evento do banco BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME ).

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O professor foi secretário do Tesouro no governo Bill Clinton, entre julho de 1999 e janeiro de 2000, além de ter participado do governo Barack Obama, sido vice-presidente do Banco Mundial, entre outros cargos.

Summers tem se apresentado no debate americano como um dos nomes mais preocupados com a inflação, e reiterou sua visão mais cautelosa sobre o tema.

Ele disse nesta terça-feira que tem "muito respeito" pela equipe do Federal Reserve, banco central americano, e que acredita que estão muito preparados a decidir, mas ainda avalia que há uma noção subestimada de risco.

"Após uma ampla experiência com alarmes falsos de inflação, há uma tendência natural de correr para o outro lado", disse. "E não acho que isso acontece só no Fed."

"A ideia de que você precisa agir [contra a inflação] enquanto a covid ainda é um problema é uma noção contraintuitiva", disse. Ele avalia que isso acaba gerando pressões como "compensação por perda de renda mais do que houve perda de renda".

O Fed segue com a taxa de juros entre 0 e 0,25%, enquanto a inflação para o consumidor fechou agosto em alta de 5,3% em relação ao ano anterior.

Há alguma expectativa de que possa haver um aumento de modo a controlar a pressão pelo lado da demanda, mas a grande pergunta entre agentes do mercado no momento é o quão descontrolada a inflação pode ficar e o quando o Fed deve agir.

"A política monetária opera em uma lacuna de um ano", diz sobre o dilema de o quanto e quando os BCs devem atuar. "Então, você agirá na frente de política monetária sobre um problema que já aconteceu."

A inflação tem estado no radar de governos, investidores e cidadãos em todo o mundo, em parte puxada pela retomada econômica e, na outra ponta, pela injeção de dinheiro na economia na frente da demanda - nos EUA, como parte do pacote de 1,9 trilhão de dólares do presidente Joe Biden, foram distribuídos cheques de 1.400 dólares aos americanos.

Um dos argumentos de Summers é que há mudanças estruturais que farão com que não seja possível tomar medidas sobre a inflação somente quando os EUA chegarem à taxa de emprego pré-covid, que estava na casa dos 3,5%, em situação de pleno emprego.

No momento, o desemprego está em 5,2%, mas há carência de mão de obra em vários setores.

Summers avalia que muitos "não voltarão ao trabalho tão cedo" e que haverá mudanças profundas nos hábitos de consumo.

Além da demanda aquecida, pela grande dependência global da cadeia de suprimentos da China, sua aposta é de que os choques de oferta continuarão sendo um problema.

Sobre os impactos que essas mudanças podem ter para ativos e investidores, Summers responde: "Sempre digo a meus amigos do mercado que vocês pensam mais nos formuladores de política pública do que eles pensam em vocês", brincou.

Guerra comercial

Em outra frente, o ex-secretário também comentou sobre a relação entre China e EUA e os impactos na economia global, afirmando que não acredita que o dólar esteja perto de perder sua liderança mundial.

Summers citou exemplos de investidas recentes do governo chinês contra o setor privado, como a regulação em empresas de tecnologia, e disse que esse tipo de movimento deixa claro que o yuan chinês ainda está longe de bater o dólar em mecanismo de reserva.

Apesar disso, ele avalia que é desejável para solucionar as crises globais que EUA e China ampliem sua cooperação, e, sem citar o governo do republicano Donald Trump, diz que "não tem certeza" que os avanços contra a China, como em taxação de produtos, eram de fato necessários.

"No médio prazo, estou ansioso", diz, citando a guerra comercial entre os países, taxação de produtos chineses e americanos e as disputas com relação a Taiwan.

"Meu melhor palpite é que sairemos dessa espiral, mas ainda não saímos", diz. Ele aponta que, apesar disso, as duas graves crises do momento são as mudanças climáticas e a pandemia. "E é difícil ver como vamos soluciona-las sem mais cooperação do que temos agora."

Cautela com as criptomoedas

Perguntado ainda sobre os criptomoedas e blockchain no debate monetário global, Summers acredita que o blockchain seguirá sendo muito importante nos avanços de inovação pelo mundo, mas se mostra mais cauteloso sobre as criptomoedas.

"Estou muito mais convencido de que o blockchain vai ser muito mais importante em dez anos do que qualquer criptomoeda particular."

Sua aposta é de que moedas como o bitcoin poderão, no futuro, atingir ou superar o ouro de forma consistente, mas a volatilidade ainda impede com que o ativo possa ser tratado como reserva de valor e câmbio.

"As criptomoedas provavelmente vão encontrar seu lugar em muitos portfólios institucionais ", disse. "Mas seu uso como identidade de câmbio seria mais surpreendente para mim"

"O que você ganha [ com bitcoin ] além da esperança de vendê-lo por mais dinheiro depois?", disse. "Então acho que todos têm de fazer seu próprio julgamento sobre isso."

Na frente de moedas digitais, Summers também não aposta que o Fed buscará algum tipo de moeda digital do dólar tão cedo, ao contrário do que a China vem testando com o yuan.

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