Exceção a professor e policial na Previdência "não faz sentido"
"Não há argumento técnico, só politico, por pressão de bancadas e sindicatos", diz Paulo Tafner, ex-técnico do Ipea que estuda Previdência há décadas.
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de abril de 2017 às 16h11.
Última atualização em 20 de abril de 2017 às 16h26.
São Paulo - A definição de regras especiais para a aposentadoria de professores e policiais na reforma da Previdência foi criticada por economistas.
A versão original da proposta previa que eles teriam idade mínima de aposentadoria de 65 anos, como todos os outros trabalhadores (com exceção dos rurais).
A nova versão, apresentada ontem pelo relator Arthur Maia após semanas de negociações, definiu a idade de 60 anos para professores e de 55 anos para policiais.
"Não faz o menor sentido, não há nada que justifique a não ser uma pressão corporativa. É descabido e não há argumento técnico, só politico, por pressão de bancadas e sindicatos", diz Paulo Tafner, técnico aposentado do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que estuda Previdência há décadas.
O timing também foi problemático, já que a mudança foi anunciada um dia depois de manifestantes, em sua maioria policiais civis, terem invadido e depredado a Câmara dos Deputados.
"Os policias ficarem de fora depois de terem usado mecanismos de força é muito ruim”, diz Luís Eduardo Afonso, professor da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em Previdência, que avalia toda a revisão como "preocupante e decepcionante".
Para Tafner, os policiais alegam que tem risco de mortalidade no trabalho - o que é verdade. Mas nesse caso, seria melhor se houvesse um seguro de vida complementado pelo governo, o que teria um foco correto e com custo fiscal muito menor.
"Previdência não é para quem morreu, é pra quem sobreviveu. Um problema diferente exige uma solução diferente", diz ele.
Os economistas notam o impacto das regras mais benéficas sobre as contas estaduais, que vão continuar muito pressionados com a despesas com essas duas categorias.
E isso apesar da nova versão prever que estados e municípios terão um prazo de seis meses para instituir regras próprias para seus funcionários. Se perderem o prazo, seus servidores ficarão sujeitos às mesmas regras dos federais.
O mecanismo é vista como um positivo "recuo do recuo", já que o presidente Michel Temer havia sinalizado anteriormente que os servidores estaduais, incluídos na versão original, ficariam de fora inteiramente.
"Voltar a colocar os estados na reforma foi a melhor surpresa da revisão da reforma, porque a questão da previdência pública é central, e ainda mais a dos estados", diz Raul Velloso, especialista em contas públicas.
No início da semana, a Câmara aprovou um projeto que permite que estados com alto endividamento alta e problemas de caixa tenham o pagamento da dívida com a União suspenso por três anos, desde que atendam algumas contrapartidas.
A recuperação valerá para aqueles estados com mais de 70% do orçamento comprometidos com gasto de pessoal e serviço da dívida, além dívida maior que a receita e caixa disponível menor que as despesas. É o caso de Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.