EUA, China e Alemanha precisam consumir pelo resto do mundo
Trio poderia fazer papel de "consumidor de última instância" e ajudar na recuperação global, mas não deve fazer isso, diz um relatório recente do HSBC
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de maio de 2016 às 16h18.
São Paulo - Estados Unidos, China e Alemanha : com um esforço conjunto, esse trio poderia fazer a diferença na demanda global e impulsionar um crescimento que anda medíocre.
A má notícia é que eles provavelmente não farão isso, diz um relatório recente do HSBC Global Research assinado por Stephen King.
"Apesar de um acordo ser desejado - daria impulso ao comércio global, reduziria pressões deflacionárias e pavimentaria o caminho em direção a taxas de juros toleravelmente mais altas - as chances de isso acontecer são baixas: as divergências políticas e sobre prescrição e políticas públicas não serão facilmente superadas", diz o texto.
O diagnóstico do banco é que o primeiro trimestre de 2016 terminou melhor do que começou no mercado financeiro, mas crescimento e inflação continuam baixos demais no mundo desenvolvido.
Novos estímulos fiscais têm sido pedidos por gente grande de Wall Street como Larry Fink e Jamie Dimon, presidentes da BlackRock e do Goldman Sachs, respectivamente.
Histórico
Diante da crise de 2008, o G-20 se comprometeu a fazer políticas expansionistas por quanto tempo fosse necessário. Os bancos centrais seguem cumprindo a promessa no campo da política monetária, mas a expansão fiscal teve vida curta.
Só a China continuou, mas paga o custo em dívida e desequilíbrios - não só internos, mas também nos mercados emergentes que esquentaram demais.
"Agindo sozinha, sua política sempre correu o risco de se provar insustentável. Idealmente, a China precisava que o resto do mundo acelerasse de novo para sustentar a demanda pelas exportações chinesas", diz o texto.
Já Estados Unidos e Alemanha, que tinham espaço para uma política fiscal mais frouxa, logo recuaram - resultado de pressões políticas internas por austeridade e uma avaliação de que a economia global já havia se recuperado, o que se provaria ilusório.
Quando um país poupa mais do que investe ou gasta, gera um excesso na balança de pagamentos que, por definição, flui para outro país. Quando chega lá, deprime as taxas de juros e favorece empréstimos - gerando consumo e um déficit na balança da pagamentos.
"A decisão dos cidadãos de alguns países de evitar o consumo traz um incentivo para que os cidadãos de outro país gastem mais", resume o banco.
Se os juros no destino já estiverem baixos demais, o resultado pode ser uma espiral em que ninguém se ajuda. Em outras palavras: falta ao mundo o chamado "consumidor de última instância".
Solução
Segundo o HSBC, três países estão bem posicionados para isso. Um deles é o EUA, que historicamente fez esse papel e tem privilégios únicos já que o dólar é a moeda de reserva mundial.
Já a China precisa rebalancear sua economia em direção a menos investimento e mais consumo - e imagine o que mais crédito para 1 bilhão de chineses poderia fazer pela demanda global.
A Alemanha, sempre obcecada por poupar, diz que está juntando dinheiro para pagar no futuro as aposentadorias da sua população envelhecida.
No entanto, essa visão mercantilista significa que na prática, ela está usando esse dinheiro para financia o consumo em outros países. Se todos se coordenassem, o resultado poderia ser multiplicador.
A referência histórica é o Acordo de Plaza em 1985, quando EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido fizeram um acordo para enfraquecer o dólar e conter os desequilíbrios causados pela luta do Fed contra a inflação nos anos 70.
"Mais do que qualquer coisa, o Acordo de Plaza exigia que os países concordassem em qual grau as moedas estavam desalinhadas. Hoje, isso não é tão fácil, porque os movimentos das moedas têm sido muito menores", diz o HSBC.
Ninguém esperaria que um acordo hoje viesse por caridade; afinal,o trio também se beneficiaria de mais crescimento e menos instabilidade no mundo. No entanto, os sinais vindos do G7 são de que a postura "cada um por si" deve continuar prevalecendo.
Um pequeno exemplo dos obstáculos no caminho: a possível desintegração da União Europeia e a eleição presidencial americana.
Há urgência e confiança de menos combinada com rigidez e hesitação demais. Por enquanto, a mediocridade terá que ser suficiente.
São Paulo - Estados Unidos, China e Alemanha : com um esforço conjunto, esse trio poderia fazer a diferença na demanda global e impulsionar um crescimento que anda medíocre.
A má notícia é que eles provavelmente não farão isso, diz um relatório recente do HSBC Global Research assinado por Stephen King.
"Apesar de um acordo ser desejado - daria impulso ao comércio global, reduziria pressões deflacionárias e pavimentaria o caminho em direção a taxas de juros toleravelmente mais altas - as chances de isso acontecer são baixas: as divergências políticas e sobre prescrição e políticas públicas não serão facilmente superadas", diz o texto.
O diagnóstico do banco é que o primeiro trimestre de 2016 terminou melhor do que começou no mercado financeiro, mas crescimento e inflação continuam baixos demais no mundo desenvolvido.
Novos estímulos fiscais têm sido pedidos por gente grande de Wall Street como Larry Fink e Jamie Dimon, presidentes da BlackRock e do Goldman Sachs, respectivamente.
Histórico
Diante da crise de 2008, o G-20 se comprometeu a fazer políticas expansionistas por quanto tempo fosse necessário. Os bancos centrais seguem cumprindo a promessa no campo da política monetária, mas a expansão fiscal teve vida curta.
Só a China continuou, mas paga o custo em dívida e desequilíbrios - não só internos, mas também nos mercados emergentes que esquentaram demais.
"Agindo sozinha, sua política sempre correu o risco de se provar insustentável. Idealmente, a China precisava que o resto do mundo acelerasse de novo para sustentar a demanda pelas exportações chinesas", diz o texto.
Já Estados Unidos e Alemanha, que tinham espaço para uma política fiscal mais frouxa, logo recuaram - resultado de pressões políticas internas por austeridade e uma avaliação de que a economia global já havia se recuperado, o que se provaria ilusório.
Quando um país poupa mais do que investe ou gasta, gera um excesso na balança de pagamentos que, por definição, flui para outro país. Quando chega lá, deprime as taxas de juros e favorece empréstimos - gerando consumo e um déficit na balança da pagamentos.
"A decisão dos cidadãos de alguns países de evitar o consumo traz um incentivo para que os cidadãos de outro país gastem mais", resume o banco.
Se os juros no destino já estiverem baixos demais, o resultado pode ser uma espiral em que ninguém se ajuda. Em outras palavras: falta ao mundo o chamado "consumidor de última instância".
Solução
Segundo o HSBC, três países estão bem posicionados para isso. Um deles é o EUA, que historicamente fez esse papel e tem privilégios únicos já que o dólar é a moeda de reserva mundial.
Já a China precisa rebalancear sua economia em direção a menos investimento e mais consumo - e imagine o que mais crédito para 1 bilhão de chineses poderia fazer pela demanda global.
A Alemanha, sempre obcecada por poupar, diz que está juntando dinheiro para pagar no futuro as aposentadorias da sua população envelhecida.
No entanto, essa visão mercantilista significa que na prática, ela está usando esse dinheiro para financia o consumo em outros países. Se todos se coordenassem, o resultado poderia ser multiplicador.
A referência histórica é o Acordo de Plaza em 1985, quando EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido fizeram um acordo para enfraquecer o dólar e conter os desequilíbrios causados pela luta do Fed contra a inflação nos anos 70.
"Mais do que qualquer coisa, o Acordo de Plaza exigia que os países concordassem em qual grau as moedas estavam desalinhadas. Hoje, isso não é tão fácil, porque os movimentos das moedas têm sido muito menores", diz o HSBC.
Ninguém esperaria que um acordo hoje viesse por caridade; afinal,o trio também se beneficiaria de mais crescimento e menos instabilidade no mundo. No entanto, os sinais vindos do G7 são de que a postura "cada um por si" deve continuar prevalecendo.
Um pequeno exemplo dos obstáculos no caminho: a possível desintegração da União Europeia e a eleição presidencial americana.
Há urgência e confiança de menos combinada com rigidez e hesitação demais. Por enquanto, a mediocridade terá que ser suficiente.