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Energia solar deve ter 2017 com aquisições e 1º gigawatt

O país alcançará neste ano a marca de 1 gigawatt em capacidade instalada em usinas fotovoltaicas, patamar registrado em apenas pouco mais de 20 países

Eólica: "Vem aí um desafio grande que a gente ainda tem no setor, porque apesar desse começo positivo, tivemos um tropeço importante com o cancelamento do leilão" (Sean Gallup/Getty Images)
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Reuters

Publicado em 3 de fevereiro de 2017 às 17h58.

São Paulo - O ano de 2017 deverá registrar uma série de movimentações no setor de energi a s o lar no Brasil, com várias usinas contratadas nos últimos anos entrando em operação e também com diversos empreendimentos trocando de mãos, por meio de aquisições, disse à Reuters um executivo do setor.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Rodrigo Sauaia, o país alcançará neste ano a marca de 1 gigawatt em capacidade instalada em usinas fotovoltaicas, patamar registrado em apenas pouco mais de 20 países.

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O sucesso, no entanto, poderia ser ainda maior, uma vez que leilões de energia solar realizados pelo país desde 2014 previam quase 2 gigawatts em operação até agosto de 2017.

A comemoração também poderia se dar em um momento melhor, uma vez que os investidores do setor ainda digerem o cancelamento, nos últimos dias de 2016, de um leilão que contrataria novas usinas eólicas e solares.

O governo disse que a decisão foi motivada pela queda da demanda por eletricidade causada pela crise econômica.

"Vem aí um desafio grande que a gente ainda tem no setor, porque apesar desse começo positivo, tivemos um tropeço importante com o cancelamento do leilão... foi um golpe duro, porque o setor tem que ter previsibilidade da demanda", disse Sauaia, que está à frente da associação que representa a indústria de equipamentos e investidores do setor.

Segundo ele, empresas associadas à entidade haviam revelado a intenção de entrar no certame com cerca de 5 gigawatts em projetos.

Mas ao mesmo tempo em que há o forte interesse por investimentos no setor, um grupo de empresas negocia com o governo para cancelar projetos já contratados no primeiro leilão para energia solar, em 2014.

"Ocorreu uma mudança brusca e imprevisível no cenário macroeconômico brasileiro que afetou diretamente esses projetos, e é difícil você precificar. Uma turbulência econômica e política... por conta disso os empreendedores estão em diálogo direto com o governo, buscando um caminho, uma solução", disse.

Por outro lado, a Absolar espera ver neste ano a entrega dos parques solares contratados em um leilão realizado em agosto de 2015, que ofereceu preços maiores e previa início da operação das usinas para agosto deste ano.

"A situação deles já é mais tranquila. Por conta disso, a gente vê que um número importante desses projetos vai começar a trocar de mãos... a gente vê alguns grandes grupos internacionais de olho nesses projetos", afirmou Sauaia.

Apesar do sol abundante, o Brasil possui hoje apenas 0,02 por cento de geração fotovoltaica em sua matriz elétrica, número que chegaria a 2 por cento se estivessem prontas todas usinas já contratadas nas licitações.

Para o futuro, além do crescimento por meio das grandes usinas, o dirigente da Absolar destaca o potencial do Brasil para a instalação de placas solares em telhados, uma modalidade que viu o número de adeptos dispararem, com alta de mais de 300 por cento em 2016.

Indústria no início

Ao tempo em que promoveu os leilões para contratar usinas solares, o Brasil incentivou a construção de fábricas de equipamentos no país, por meio de um programa que garante financiamentos atrativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para os projetos com determinado nível de conteúdo local.

A iniciativa atraiu fabricantes de equipamentos como seguidores solares ("trackers", que fazem as placas acompanharem a movimentação do sol ao longo do dia) e inversores, mas até o momento apenas um grande fabricante internacional de módulos fotovoltaicos está em operação no país, a Canadian Solar.

"Dentro da Absolar, contamos com pelo menos quatro fabricantes que pretendem viabilizar produção de módulos fotovoltaicos no Brasil. No entanto, esses, e mesmo os fabricantes que anunciaram fábrica ano passado, foram todos surpreendidos com o cancelamento do leilão, e isso acaba colocando isso em risco", apontou Sauaia, doutor em engenharia de materiais com foco em geração fotovoltaica, que foi pesquisador em energia solar na Alemanha e na Suíça.

Sauaia, que antes de atuar na Absolar foi assessor técnico do Greenpeace, além de ter participado de grupo dedicado ao assunto na Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), disse que para atrair os fabricantes é importante também reduzir impostos, o que poderia ser feito com a inclusão de equipamentos solares no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (PADIS), um conjunto de incentivos fiscais federais.

Em entrevista recente à Reuters, um executivo da Canadian Solar disse que os painéis da empresa no Brasil saem até 40 por cento mais caros que a importação de equipamentos da China, principalmente devido aos impostos.

"A realidade tributária que o setor está enfrentando criou barreiras que dificultaram o desenvolvimento na velocidade que havia sido programada", afirmou o dirigente da Absolar.

Ele também confirmou que a associação negocia com o BNDES uma mudança no programa de conteúdo local do setor, que prevê um aumento gradativo das exigências de conteúdo local em 2018 e em 2020, conforme antecipado pela Reuters na última semana.

"Precisaria de algumas adaptações no cronograma e também no conteúdo (local exigido)", apontou.

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