Empresas pagam até R$ 5,5 mil para atrair os melhores trainees

Ganhar um salário de até 5,5 mil reais por mês com menos de dois anos de formado e poder optar pela área de trabalho dentro de uma grande empresa tem se tornado realidade para um número cada vez maior de brasileiros - ou pelo menos para aqueles que conseguem passar na apertada peneira dos programas de trainees.

A oferta de vagas planejadas especialmente para quem acabou de concluir a faculdade cresceu pelo menos 30%, desde o ano passado e tende a aumentar ainda mais, segundo estimativas de consultores da Cia de Talentos, empresa responsável pelos programas de companhias como Natura e Unilever - veja abaixo tabela com informações sobre vagas em 16 empresas .

À medida que acirra a competição pelos recém-formados, as empresas passam a oferecer salários freqüentemente maiores do que o de funcionários mais experientes e que exerçam a mesma função. Em 2007, por exemplo, a remuneração inicial anunciada pelas empresas que abriram processo seletivo subiu 2% a 3% mais do que a média de reajustes do mercado.

"Em muitos casos, o trainee já entra ganhando mais do que um profissional júnior que foi contratado fora do programa e está na empresa há tempos", afirma Vitor Pascoal, diretor da Cia de Talentos.

Quem supera um dos longos processos de escolha - o do Unibanco, por exemplo, conta com seis fases e dura mais de três meses - passa a ganhar, em média, de 3200 a 3500 reais mensais. O piso para os trainees de grandes companhias costuma ficar nos 2900 reais, mas há aquelas, como a fabricante de produtos de limpeza Reckitt Benckiser, que acenam com mais de 5 mil reais - nesse caso, em busca de jovens que tenham conquistado o diploma recentemente, já tenham experiência como efetivos em outra empresa e cursem pós-graduação ou MBA na seqüência da faculdade.

Corrida pelas vagas

O aquecimento do mercado para trainees fica mais visível a partir de setembro, quando a maior parte das empresas já abriu seus processos seletivos. Pelo menos 15 grandes companhias encontram-se nas etapas iniciais de escolha e outras 16 ainda aceitam inscrições, nas primeiras semanas do mês.

Esse aumento da demanda por jovens profissionais tem feito surgir vagas mesmo em áreas para as quais não havia programas específicos. A Lopes, maior intermediadora imobiliária do país, lançou no fim de agosto o primeiro programa voltado à formação de supervisores e gerentes de vendas. Ao invés de se concentrarem em cargos corporativos, como nos programas já existentes, os candidatos escolhidos acompanham durante seis meses a definição das estratégias de venda e o contato com o público final. Ao término de um semestre, já é possível assumir a supervisão e, com mais seis meses, a gerência de uma equipe de 30 pessoas, com remuneração variável, mas em geral acima da oferecida aos gerentes das áreas corporativas.

A empresa adota a prática - comum entre as que contam com um programa de trainees - de não definir previamente o número de vagas disponíveis. "Se tivermos 20 finalistas adequados ao que buscamos, por exemplo, contrataremos os 20. Estamos num momento de grande expansão e precisamos ter lideranças jovens e rapidamente preparadas para enfrentar esse desafio", diz Roberta Bicalho, superintendente de Recursos Humanos da Lopes.

Também no setor imobiliário, a Gafisa é outra empresa a cortejar os recém-formados com ofertas de crescimento profissional acelerado e a chance de conseguir remunerações elevadas, em pouco tempo de carreira. Exemplo desse caminho que atrai os profissionais mais jovens é a história do carioca Eduardo Alves, que começou como trainee da empresa em 2006 e, em menos de um ano, tornou-se gerente de vendas diretas das unidades no Estado do Rio de Janeiro, com salário médio quatro vezes maior do que ganhava quando entrou.

"A experiência anterior em outras empresas me ajudou, mas o fundamental é ter o perfil que se espera do trainee, flexível e ágil", afirma.

Assim como Alves, os responsáveis pela seleção dos candidatos afirmam em coro que o principal fator para conquistar uma vaga é a capacidade de demonstrar competências como iniciativa, garra e habilidade para trabalhar em equipe. O domínio do inglês, porém, também é decisivo, na maior parte dos programas.

Algumas companhias exigem, ainda, disponibilidade para morar fora da cidade de origem ou mesmo fora do Brasil. Por fim, é importante conhecer o perfil da empresa, antes de se inscrever, e saber claramente se o tipo de trabalho oferecido e as características exigidas combinam com o candidato.