Desempenho da economia ficou acima do esperado em 2004
Para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, a confirmação de que o governo não seguirá fórmulas heterodoxas foi mais importante do que os indicadores macroeconômicos.
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2013 às 17h48.
No balanço geral, 2004 termina com mais acertos do que erros na economia. A maior parte dos indicadores macroeconômicos surpreendeu positivamente o mercado, que iniciou o ano ainda temeroso de uma possível guinada heterodoxa do governo Lula que comprometesse a estabilidade do país. Por isso, para Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central (BC), a maior conquista de 2004 foi a confirmação de que o governo não adotará soluções mágicas para gerir o país.
"Não há mais dúvidas sobre a linha seguida pelo governo na condução da política econômica", afirma Franco. "A fórmula está dando certo, e não adianta brigar com o sucesso", diz. Segundo ele, os grandes vencedores do debate econômico neste ano são o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do BC, Henrique Meirelles. Um exemplo do comprometimento da dupla com a seriedade do país, para Franco, foram os aumentos da taxa básica de juros (Selic) para conter a inflação, mesmo causando o inevitável desgaste político junto ao empresariado e aos consumidores.
O resultado é que o Produto Interno Bruto (PIB) acumula crescimento de 5,3% até setembro a melhor taxa desde 1995, quando houve uma expansão de 6,4% nos nove primeiros meses do ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho surpreendeu o mercado, que já reviu as projeções. No início do ano, os analistas esperavam um crescimento da economia de 3,55%, segundo o Relatório de Mercado do BC. A expectativa subiu para 5% no levantamento feito pelo Banco Central e divulgado em 3/12. O economista-chefe da Trevisan Consultores, Luiz Guilherme Piva, concorda. "Mesmo ocorrendo sobre a base muito contraída de 2003, o aumento do PIB é um resultado muito positivo", diz.
Câmbio
A valorização do real foi outro grande destaque do ano, segundo Franco. Em janeiro, o mercado previa que a moeda americana fechasse o ano cotado a 3,10 reais. Mas a entrada dos dólares gerados pelo crescimento das exportações também acima do previsto no começo do ano e o aumento dos juros reais ajudaram a valorizar a moeda brasileira, conforme Piva, da Trevisan. O resultado foi a queda da cotação da divisa americana até o patamar de 2,70 reais, na primeira semana de dezembro, o que teria forçado a intervenção do BC.
Criticado pelos exportadores por reduzir a competitividade dos produtos brasileiros no exterior, o real fortalecido não é visto com maus olhos pelo ex-presidente do Banco Central. "PIB e câmbio estão relacionados. Num regime de câmbio flutuante, a moeda forte é sinal de uma economia também forte", afirma Franco.
Surpresa negativa
Nem todos os indicadores que fugiram da previsão do mercado agradaram. O principal foi a inflação. Em janeiro, os analistas já sabiam que o centro da meta de inflação não seria alcançado em 2004, devido à inércia inflacionária que a economia carregou do ano anterior. Mas esperavam que o IPCA balizador oficial da meta do governo ficasse em 6%. Pressionado pelas altas do petróleo no exterior e pelos preços administrados, aqui no país, o IPCA já acumula 6,68% até novembro. Agora, os analistas já aguardam um índice de 7,31% para o ano, com os preços acumulados subindo 9,2%.
A lenta recuperação do nível de emprego e da renda são outros dois itens que ficaram aquém das expectativas, conforme Piva, da Trevisan. "Seria desejável que os impactos positivos do crescimento gerassem uma recuperação mais forte no mercado de trabalho", diz.
Boas perspectivas
O próximo ano começa com as incertezas sobre o rumo da economia americana, pressionada pelos déficits orçamentário e comercial, e pelo ritmo com que a China deverá frear suas atividades para conter uma possível inflação por demanda. Além disso, a crise do petróleo continua alarmante e os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos hesitam em adotar medidas para fortalecer o dólar.
Para Franco, apesar de preocupantes, esses aspectos devem ter reduzido impacto sobre as economias emergentes, como o Brasil. "Os fluxos de capitais estão melhorando para esses países", diz.
O mais importante, segundo ele, é o governo brasileiro continuar fazendo a lição de casa. Dar continuidade às reformas e não relaxar a austeridade fiscal após o término do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) são os dois principais pontos. "O ideal seria produzirmos um superávit primário maior que o atual", diz. A meta do governo é economizar 4,5% do PIB em 2004.
O que mudou nas projeções econômicas de 2004 | ||
Indicador | Em 2 de janeiro | Em 3 de dezembro |
IPCA (%) | 6,00 | 7,31 |
Taxa de câmbio fim do período (R$/US$) | 3,20 | 2,82 |
Taxa de câmbio média do período (R$/US$) | 3,10 | 2,93 |
Meta taxa Selic fim do período (% ano ano) | 13,85 | 17,75 |
Meta taxa Selic média do período (% ano ano) | 14,71 | 16,42 |
Dívida líquida do setor público (%) | 56,0 | 54,4 |
Superávit primário (% do PIB) | 4,25 | Nd |
PIB (% de crescimento) | 3,55 | 5,00 |
Conta corrente (US$ bilhões) | -3,50 | 10,5 |
Balança comercial (US$ bilhões) | 19,15 | 33,00 |
Investimento Estrangeiro Direto (US$ bilhões) | 12,00 | 16,00 |
Preços administrados | 7,00 | 9,20 |
Fonte: Banco Central - Relatório de Mercado |