Derrubada de veto sobre servidores não leva a farra fiscal, diz economista
Bolsonaro disse nesta manhã que será impossível governar com o aval do Congresso para reajuste de alguns grupos de servidores
Ligia Tuon
Publicado em 20 de agosto de 2020 às 13h25.
Última atualização em 20 de agosto de 2020 às 17h26.
Na noite desta quarta-feira, 19, senadores derrubaram o veto do presidente Jair Bolsonaro ao reajuste salarial para algumas categorias de servidores públicos até o fim de 2021.
A proposta havia sido aprovada pelo Congresso dentro do socorro financeiro a estados e municípios, mas foi barrada pelo Executivo, com o argumento de que os reajustes comprometeriam uma economia fiscal entre R$ 121 bilhões e R$ 132 bilhões.
“Eu não posso governar um país se esse veto (não) for mantido na Câmara… É impossível", disse Bolsonaro na manhã desta quinta-feira, 20.
Os valores citados por Bolsonaro, se virassem realidade, de fato, poderiam prejudicar a realização de políticas públicas, como a extensão do auxílio emergencial, por exemplo. Mas o a derrubada do veto presidencial, por si só, não gera impacto fiscal:
Existe, de fato, um sinal amarelo aí, mas não significa uma automática farra fiscal, porque a decisão dos senadores não leva a reajustes na própria lei", diz Leonardo Ribeiro, economista do Senado.
Com a derrubata do veto, a intenção do Congresso, segundo ele, é manter autonomia de governadores e prefeitos para contratar funcionários, realizar concursos ou conceder reajustes ou auxílio financeiro para funções imprescindíveis para a manutenção da máquina pública em meio à crise do coronavírus.
"Somente permite que cada governador ou prefeito, juntamente com o legislativo, tenha possibilidade de contratar servidores, realizar concurso, conceder reajuste ou algum tipo de auxílio financeiro para determinadas carreiras", disse mais cedo em tread no Twitter.
Essas carreiras são: policiais, militares, agentes socioeducativos, profissionais de limpeza urbana, serviços funerários, assistência social, profissionais da educação pública e da saúde, destaca.
"Esse veto seria um disparate, se o projeto estivesse dando reajustes aos servidores, mas não é o caso, e existem dispositivos hoje que blindam o panorama fiscal de qualquer tipo de reajuste descontrolado", diz. "Por prudência o veto até pode ser mantido, mas é importante que a sociedade saiba que não significa um pandemônio fiscal".
A desaceleração econômica trazida pela pandemia impacta diretamente duas importantes fontes de receita dos entes subnacionais: ICMS e ISS, explica o economista. Como os entes não podem se financiar com a emissão de títulos, como o governo, é importante que a transferência de recursos venha de cima.
"Sem a mesma autonomia da União, que pode se endividar no mercado, os governos subnacionais dependem da ajuda do Governo federal para se manterem na linha de frente da luta contra o vírus", diz.
Militares
O economista ressalta ainda que, dias antes da aprovação do Congresso do projeto que permitia os reajustes, o Executivo "forçou" a aprovação da MP que reajustou salários de militares.
O economista ressalta ainda que, dias antes da reclamação do rpesidente, o Executivo "forçou" a aprovação da MP que reajustou salários de militares.
Em meio à pandemia do coronavírus, Bolsonaro aprovou projeto que aumenta os benefício a militarescom o chamado de “adicional de habilitação militar”.
Em junho, o Ministério Público pediu a suspensão da decisão ao Tribunal de Contas da União (TCU), usando como argumento a Lei Complementar 173/2020, criada em meio à crise sanitária, e que proíbe esse tipo de reajuste durante a crise a militares.
Em 2019, o presidente já havia autorizado aumentos de até 73% sobre o soldo(parcela relativa ao posto e graduação).