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Curva dos juros parece exagerada e Brasil não está pior que outros países no fiscal, diz Campos Neto

Presidente do Banco Central alertou, porém, que Brasil precisa fazer um ajuste fiscal se quiser ter juros baixos

Brasília (DF) 27/09/2023 Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto durante audiência Pública na comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Foto Lula Marques/ Agência Brasil (Lula Marques/Agência Brasil)
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 2 de outubro de 2024 às 21h18.

Última atualização em 2 de outubro de 2024 às 21h55.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, apontou nesta quarta-feira, 2, que a curva longa dos juros, apesar de diversos desafios e do risco fiscal da economia brasileira—isto é, a expectativa de preço dos juros no futuro—parece exagerada em sua precificação. O presidente do BC esteve em um evento promovido pela Veedha Investimentos em São Paulo, do qual a EXAME participou.

"Quando olho o mundo emergente, grande parte dos países tem um problema parecido com o do Brasil. Há questões [no Brasil], mas é muito parecido nos outros países. Partimos de um ponto de dívida um pouco mais alto, mas é parecido", afirmou ele.

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"É muito difícil pensar que vamos conseguir trabalhar com um juro mais baixo de forma mais estável sem uma perspectiva de convergência da dívida", disse. "O Brasil precisa passar algum tipo de mensagem nesse sentido. Olhando a reação mais de curto prazo, principalmente olhando a mudança da meta fiscal e a questão da transparência, a gente tem uma interpretação que o governo em algum momento precisa fazer algum tipo de movimento que gere esse choque positivo em termo de perspectiva no fiscal."

Para ele, ao olhar as curvas longas do Brasil parece que tem um "pouquinho de exagero" na precificação. E ponderou que o desafio não é apenas brasileiro. "Grande parte dos países tem problemas semelhantes aos do Brasil. Gastaram muito e precisam de resultado primário [positivo] para pagar a conta da pandemia", pontuou. "Alguém está fazendo isso? Não. Muitos estão tentando um plano para fazer melhorar o resultado primário."

Mas o presidente do BC alertou que fazer esse ajuste de "forma artificial"—ou seja, forçar a taxa para baixo sem as condições técnicas para isso—é produzir inflação. "É uma transferência de renda de quem consegue se proteger versus quem não consegue".

A fala do presidente do BC acontece um dia após a agência de classificação de risco Moody's elevara nota do Brasil—a despeito das críticas de analistas do mercado sobre a insustentabilidade fiscal do país e a trajetória explosiva da dívida pública.

Inflação

Segundo Campos Neto, a inflação atualmente converge para a meta. "Olhando o curto prazo, temos alguns números melhores. Temos olhado mais para a parte de serviços, em especial os intensivos em mão de obra", disse.

Para frente, porém, o presidente da instituição enxerga uma piora. "Por quanto tempo conseguimos ficar com a inflação de serviços baixa e com a mão de obra tão pressionada?", questionou.

A preocupação para o futuro, apontou, é que o país registra um crescimento econômico forte, com expansão do crédito e uma taxa de desemprego baixa. Seriam ótimas notícias, não fosse a pressão inflacionária. "Quando olhamos, vemos que a economia está trabalhando acima do nível que gera inflação", afirmou Campos Neto.

E nesse aspecto, observou, a expectativa da trajetória da inflação está desancorada.

"Iniciamos um ciclo gradual, temos escolhido não dar guidance [de aumento de juros] em relação ao que a gente vai fazer de juros, porque a gente acha que, como tem muita incerteza, é importante olhar no curto prazo ver o que está acontecendo", afirmou.

Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a Selicem 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, em uma decisão amplamente esperada pelo mercado.

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