Economia

Copom define 5 pontos determinantes para subir a Selic além dos 14,25% prometidos para março

Ata da última reunião divulgada nesta terça-feira, 17, apresentou as condições necessárias para o colegiado elevar ainda mais os juros, se necessário

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 17 de dezembro de 2024 às 08h50.

Última atualização em 17 de dezembro de 2024 às 09h58.

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 17, detalhou os cinco pontos que serão observados pelos diretores do Banco Central (BC) para subir os juros além dos 14,25% que já são esperados para março.

Segundo os membros do Copom, a magnitude do ciclo dependerá de cinco fatores. São eles:

  1. evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária;
  2. projeções de inflação;
  3. expectativas de inflação;
  4. hiato do produto;
  5. balanço de riscos.

Na prática, os diretores do BC sinalizaram que esses cinco pontos serão determinantes nas futuras decisões.

“Em primeiro lugar, a magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta. Em segundo, vários riscos se materializaram tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões”, afirmaram os diretores.

Além disso, os membros do Copom afirmaram que o cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, por elevação das projeções de inflação e por um dinamismo acima do esperado na atividade econômica.

Suporte ao consumo

A combinação de um mercado de trabalho robusto, de uma política fiscal expansionista e do vigor nas concessões de crédito indica um “suporte ao consumo” que pressiona a inflação, afirmaram os diretores do BC.

“Em particular, o ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo indica uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso, apesar da política monetária contracionista. O Comitê debateu os motivos para tal dicotomia. Notou-se que há elementos mitigadores concorrendo com o impacto da política monetária sobre a atividade, tais como os impulsos de crédito e fiscais mais fortes do que antecipados. A manutenção de canais de política monetária desobstruídos, sem elementos mitigadores para sua ação, contribui para uma condução mais efetiva e mais eficiente”, disseram os diretores do BC.

Além disso, os membros do Copom voltaram a afirmar que a percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio.

“De fato, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se em todos os prazos, indicando desancoragem adicional. Nota-se que tanto o prêmio de inflação extraído dos instrumentos financeiros quanto as expectativas de inflação se elevaram no período, tornando o cenário de inflação mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista. A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”, disseram.

E, para piorar, o cenário de inflação de curto prazo se deteriorou, avaliaram os diretores do BC. Segundo eles, os preços de alimentos se elevaram de forma significativa, em função da estiagem observada ao longo do ano e da elevação de preços de carnes, também afetada pelo ciclo do boi.

“Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira. Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses. Por fim, a inflação de serviços, que tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica e aumentou nas observações mais recentes. De fato, houve não só uma interrupção no processo desinflacionário, como uma maior pressão inflacionária nas últimas divulgações”, informou o BC.

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