Com dólar tão alto, as exportações podem salvar o Brasil?
Os produtos brasileiros ficaram mais competitivos de repente, mas isso não é panaceia: efeito demora para aparecer e depende da situação mundial
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de setembro de 2015 às 14h41.
São Paulo – Esta foi a semana na qual o dólar chegou a bater em R$ 4,25, de longe a maior cotação da história da moeda.
Agora voltou para R$ 3,90 - ainda assim uma desvalorização histórica do real, que só ficou atrás do rublo russo nos últimos 12 meses.
Perde o consumidor brasileiro, que vê a inflação subir e seu poder de compra minguar. Também ficam vulneráveis empresas com dívida em dólar ou que precisam importar matéria-prima.
A parte boa é que o dólar alto acelera o ajuste das contas externas. O gasto dos turistas no exterior em agosto caiu pela metade em relação a agosto de 2014 e a remessa de lucros desabou (também efeito da recessão).
A última projeção é que o déficit em conta corrente caia quase 40% este ano. Até agosto, o efeito vem mais da queda de 22% das importações do que das exportações, que também caíram, mas menos: 16%.
No setor de manufatura, o real fraco tende a estimular a troca por insumos nacionais e deixar os produtos brasileiros mais em conta na comparação internacional.
Em 2014, a balança comercial brasileira teve seu primeiro déficit desde 2000. Mas a projeção para 2015 foi revisada recentemente pelo Banco Central de saldo de US$ 3 bilhões para US$ 12 bilhões.
Será então que a chamada “desvalorização competitiva” pode tirar o país da crise através do setor externo?
Instabilidade e defasagem
A resposta é não. O impacto é real e positivo, mas fica diluído em um cenário de desvalorização generalizada das outras moedas emergentes e comércio exterior fraco. A incerteza é grande em relação a China, nosso principal parceiro comercial.
“Exportação depende principalmente do que está acontecendo com o comércio internacional e com os preços de commodities – e nenhum dos dois está ajudando muito”, diz o consultor Alexandre Schwartsman, ex-Diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.
Além disso, ninguém começa (ou volta) a exportar da noite para o dia - especialmente com instabilidade da própria cotação, das regras do jogo e da economia como um todo.
“Muito do impulso viria de investimentos na produção de bens para exportar - e não tem muita gente querendo investir agora”, diz Bernardo Guimarães, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No 2º trimestre do ano, o investimento teve o maior tombo desde 1996.
O governo lançou em junho um plano de incentivo às exportações mais estratégico do que financeiro, visto pelo mercado como positivo. Mas o Reintegra, programa que devolve créditos para quem exporta, tem uma alíquota que muda o tempo todo.
De qualquer forma, o efeito do câmbio é defasado, já que anos de moeda sobrevalorizada fizeram o exportador perder mercado, contatos e relações.
“O cara que vendia sapato para China há 10 anos hoje não vende nada; agora, vai ter que ir em uma feira, estabelecer contatos, mandar amostras. Se perdeu a cultura exportadora”, diz Alberto Ramos, diretor para América Latina do Goldman Sachs.
Estudos do Goldman apontam que quanto maior o período de câmbio sobrevalorizado, maior é o tempo de resposta depois da volta para um patamar mais alto.
Fechamento
Também não ajuda que o Brasil passou muito tempo apostando no multilateralismo enquanto o mundo caminhava para acordos bilaterais.
Nosso último tratado de livre-comércio foi com Israel, em 2010. Não estamos há tanto tempo sem um novo desde o início do Mercosul em 1992 e só agora aparecem sinais promissores no caminho, como o avanço das negociações com a União Europeia,
A economia brasileira é a mais fechada do G-20, segundo estudo recente da Câmara de Comércio Mundial. As exportações são apenas cerca de 12% do nosso PIB, contra 24% na Índia e 32% na Espanha.
Elas tendem a ajudar mais agricultura e indústria em uma economia em que predominam serviços: “Achar que o Brasil vai sair dessa exportando é algo muito remoto. É pedir para uma formiguinha carregar um elefante”, diz Schwartsman.
Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, disse que “o câmbio foi inventado por Deus para humilhar os economistas”. Mas tão arrogante quando achar que dá para prever seu comportamento é achar que ele define tudo:
“O ganho via câmbio dá algum impulso para se reequilibrar, mas é sempre efêmero e nunca funciona no longo prazo. Nenhum país fica competitivo se empobrecendo: a única forma de fazer isso é sendo mais produtivo”, conclui Ramos.
- 1. Lá para fora
1 /42(Germano Lüders / EXAME)
São Paulo - De janeiro a junho de 2015, as exportações brasileiras somaram 94,32 bilhões de dólares, valor 14,66% menor do que o apresentado no primeiro semestre do ano passado. No período, as 40 empresas que mais venderam produtos a outros países, juntas, tiveram uma participação de 47,83% na balança comercial (o equivalente a 45,11 bilhões de dólares, valor 17% menor do que o observado nos seis primeiros meses de 2014). Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Alguns setores, no geral, apresentaram desaceleração nas exportações. "As mineradoras enfrentaram um cenário complicado com a queda do preço do minério de ferro de 100 para 60 dólares", explica o professor diz Rodrigo Zeidan, professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral. "Os frigoríficos também sofreram com sanções econômicas na Rússia, o aumento da produção de carne nos Estados Unidos e a diminuição do consumo chinês", acrescenta. Nas fotos, veja o ranking das maiores exportadoras do primeiro semestre.
2 /42(Agência Vale/Divulgação)
| Participação na balança comercial | 6,04% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 5,69 bilhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 11,25 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -49,39% |
3 /42(Germano Lüders / EXAME)
| Participação na balança comercial | 5,00% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 4,71 bilhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 6,01 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -21,55% |
4 /42(Germano Lüders/EXAME)
| Participação na balança comercial | 2,86% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 2,69 bilhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 3,36 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -19,76% |
5 /42(Cristiano Mariz/Divulgação)
| Participação na balança comercial | 2,48% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 2,34 bilhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 278 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -16,06% |
6 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 1,93% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,81 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 2,07 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -12,38% |
7 /42(Diego Giudice/Bloomberg)
| Participação na balança comercial | 1,86% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,75 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 2,19 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -20,12% |
8 /42(Divulgação/Embraer)
| Participação na balança comercial | 1,80% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,69 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 1,71 bilhão |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -0,77% |
9 /42(Germano Lüders/EXAME)
| Participação na balança comercial | 1,61% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,51 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 2,05 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -26,11% |
10 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 1,34% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,26 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 1,43 bilhão |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -11,77% |
11 /42(CRISTIANO BURMESTER/Divulgacao)
| Participação na balança comercial | 1,27% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,19 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 2,10 bilhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -43,11% |
12 /42(Miriam Fichtner/Braskem)
| Participação na balança comercial | 1,25% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 1,17 bilhão |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 1,32 bilhão |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -11,00% |
13 /42(Divulgação/BG)
| Participação na balança comercial | 1,04% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 984,46 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 822,82 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 19,64% |
14 /42(Getty Images)
| Participação na balança comercial | 1,02% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 960,15 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 1,15 bilhão |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -16,68% |
15 /42(Divulgação/Amaggi)
| Participação na balança comercial | 1,00% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 938,75 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 1,04 bilhão |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -10,21% |
16 /42(Divulgação/Suzano)
| Participação na balança comercial | 0,96% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 906,39 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 726,56 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 24,75% |
17 /42(Germano Luders, EXAME)
| Participação na balança comercial | 0,96% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 902,60 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 680,59 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 32,52% |
18 /42(Fabian Bimmer/Reuters)
| Participação na balança comercial | 0,96% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 902,25 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 586,32 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 53,88% |
19 /42(Arquivo)
| Participação na balança comercial | 0,87% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 819,12 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 856,87 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -4,41% |
20 /42(Divulgação/EXAME)
| Participação na balança comercial | 0,85% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 797,47 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 870,95 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -8,44% |
21 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,81% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 764,73 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 656,96 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 16,41% |
22 /42(Fabiano Accorsi/EXAME)
| Participação na balança comercial | 0,73% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 691,68 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 768,37 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -9,98% |
23 /42(Marcos DPaula/Agência Estado)
| Participação na balança comercial | 0,73% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 690,58 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 5,90 mil |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | * |
24 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,72% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 679,89 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 831,45 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -18,23% |
25 /42(Sean Gallup/Getty Images)
| Participação na balança comercial | 0,70% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 662,77 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 961,04 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -31,04% |
26 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,68% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 642,64 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 719,98 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -10,74% |
27 /42(EXAME.com)
| Participação na balança comercial | 0,68% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 640,97 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 355,32 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 80,39% |
28 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,67% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 634,46 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 510,28 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 24,34% |
29 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,66% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 625,34 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 847,54 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -26,22% |
30 /42(Raul Júnior/Você SA)
| Participação na balança comercial | 0,64% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 603,63 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 808,30 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -25,32% |
31 /42(Divulgação/Coamo)
| Participação na balança comercial | 0,61% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 573,87 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 549,80 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 4,38% |
32 /42(Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,61% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 570,73 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 672,88 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -15,18% |
33 /42(Divulgação/Assessoria de imprensa da Fiat)
| Participação na balança comercial | 0,54% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 510,51 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 605,77 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -15,73% |
34 /42(Ricardo Teles/Divulgação)
| Participação na balança comercial | 0,54% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 505,00 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 601,00 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -15,97% |
35 /42(Dado Galdieri/Bloomberg)
| Participação na balança comercial | 0,53% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 504,65 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 595,22 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -15,22% |
36 /42(.)
| Participação na balança comercial | 0,52% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 488,45 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 401,14 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 21,77% |
37 /42(John Macdougall/AFP)
| Participação na balança comercial | 0,51% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 476,40 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 284,79 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 67,28% |
38 /42(Dado Galdieri/Bloomberg)
| Participação na balança comercial | 0,48% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 448,21 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 233,43 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 92,01% |
39 /42(Quadro Rodas)
| Participação na balança comercial | 0,47% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 440,98 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 445,14 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | -0,94% |
40 /42(David Ramos/Bloomberg)
| Participação na balança comercial | 0,47% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 438,81 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 321,12 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 36,65% |
41 /42(Germano Lüders)
| Participação na balança comercial | 0,45% |
|---|---|
| Exportações até junho de 2015 | US$ 423,55 milhões |
| Exportações até junho de 2014 | US$ 263,38 milhões |
| Variação do 1º semestre de 2014 x 2015 | 60,81% |
42 /42(REUTERS/Fabian Bimmer)