Indústria: fortalecimento das exportações pode amenizar parte dos efeitos da crise do mercado interno (thinkstock)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2016 às 07h51.
São Paulo - As contratações de trabalhadores temporários anunciadas nas últimas semanas por quatro montadoras, para reforçar a produção de carros voltada às exportações, é um sinal de que o comércio exterior pode amenizar parte dos efeitos da crise atual no mercado interno.
Com a desvalorização do real, as exportações de produtos brasileiros começam a se tornar mais competitivas e as negociações internacionais voltam ao radar da indústria.
Embora alguns movimentos sejam pontuais, há indicadores mostrando que as empresas brasileiras iniciam uma recuperação no cenário internacional.
Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) apontam que a quantidade exportada da indústria de transformação cresceu 14,7% entre janeiro e abril ante o mesmo período de 2015.
As principais altas foram em produtos têxteis (27%), veículos automotores (18%) e máquinas e equipamentos (17%). "O câmbio no nível que está é mais favorável e está sendo positivo para as exportações", diz André Leone Mitidieri, economista da Funcex.
O crescimento da exportação de manufaturados também é explicado pela melhora do comércio com a Argentina. O governo Mauricio Macri começou a rever parte das medidas protecionistas adotadas pelo governo anterior, de Cristina Kirchner.
A recuperação do setor externo tem sido a principal notícia positiva da economia. No resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, a queda de 0,3% foi menos intensa do que o esperado e um dos fatores que contribuiu foi a melhora do quadro externo.
Neste ano, os economistas já estimam que o superávit da balança comercial deverá ser de US$ 50 bilhões, também favorecido pela queda das importações. Se confirmado, será o melhor resultado da série histórica.
"O fato de o governo ter agilizado acordos com Peru e México no setor automotivo e a desvalorização do câmbio colaboram para a exportação (de manufaturados) mesmo que não estejamos num cenário internacional maravilhoso", afirma Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
A Sondagem da Indústria, apurada pelo Ibre/FGV, também mostra que há otimismo dos empresários com o comércio internacional. No trimestre encerrado em maio, o indicador ficou em 104,6 pontos, praticamente estável em relação à leitura anterior.
Para a demanda prevista para os próximos três meses, o indicador aumenta para 104,9 pontos - o mais alto desde novembro.
Quando o índice fica acima de 100 pontos, há mais respostas favoráveis do que desfavoráveis, ou seja, mais empresários indicaram que a demanda externa está positiva.
O otimismo com o cenário internacional fica evidente porque o índice geral de confiança da indústria, que inclui a demanda interna, está em 79,2 pontos.
"Apesar de os dados de demanda externa estarem caindo na ponta, há uma previsão de manutenção de um patamar de exportação para os próximos meses", afirma Tabi Thuler Santos, economista do Ibre/FGV e coordenadora da pesquisa.
Na empresa 2Rios Lingerie, a venda de peças para o exterior cresceu 65% de janeiro a maio. "Quando o real estava valorizado, muitas vezes sacrificamos a nossa margem para nos manter em alguns mercados internacionais. Hoje, estamos conseguindo melhores resultados", afirma Matheus Fagundes, presidente da empresa.
A 2Rios exporta há 13 anos e tem como principal mercado os países da América do Sul.
No projeto de internacionalização da empresa está a criação de um e-commerce exclusivo para os consumidores dos Estados Unidos no segundo semestre. No ano que vem, a expectativa é inaugurar a primeira loja física fora do Brasil.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, vê os sinais de retomada das exportações como um "alento" para a indústria, embora ainda insuficiente para compensar significativamente as perdas no mercado doméstico.
"Há uma tentativa de, pouco a pouco, retomar o espaço que era do Brasil no passado e hoje está ocupado por outros países."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.