China tem medidas de estímulo na manga, mas não deve lançar por ora
Mesmo tendo abandonado uma meta formal de crescimento, governo pode fazer relaxamento monetário e impulsionar crédito e investimento em infraestrutura
João Pedro Caleiro
Publicado em 25 de maio de 2020 às 12h18.
Última atualização em 25 de maio de 2020 às 15h57.
Economistas analisaram dados do documento anual de políticas da China e concluíram que o governo de Pequim está guardando medidas de estímulo na manga, caso o impacto global da pandemia de coronavírus piore significativamente.
Relatórios do governo divulgados no primeiro dia do Congresso Nacional do Povo na sexta-feira foram revolucionários, pois descartaram uma meta explícita para o crescimento do PIB, mas, por outro lado, mantiveram o objetivo de aumentar moderadamente o apoio à economia.
Dito isso, analistas veem maior afrouxamento da política monetária no curto prazo, impulso do investimento em infraestrutura e forte crescimento do crédito neste ano.
Pressupostos reais de crescimento
O relatório do primeiro-ministro Li Keqiang pode não ter incluído uma meta de crescimento, mas isso não significa que os formuladores de políticas não tenham uma ideia aproximada de onde - dependendo da pandemia - querem que a economia aterrisse neste ano. Seria necessária expansão de cerca de 3% para atingir a meta de 9 milhões de novos empregos, segundo Wei Yao e Michelle Lam, economistas da Société Générale.
Forte crescimento do crédito
Li deixou claro que o crescimento monetário e de crédito deve ser “significativamente mais alto” do que em 2019, e isso implica cortes adicionais da taxa de reserva e outras medidas do Banco Popular da China.
Economistas do Nomura International como Lu Ting, em Hong Kong, escreveram que o PBOC deve injetar liquidez na economia por meio de cortes adicionais da taxa de reserva “em até 100 pontos-base nas próximas semanas”. A promessa de Li de mais reduções dos juros também pode resultar em corte da taxa de depósito de referência, escreveram.
Foco no investimento em infraestrutura
Alguns economistas ficaram decepcionados pelo fato de a meta oficial de déficit fiscal de “mais de 3,6%” do PIB não ter sido ampliada de forma mais agressiva. O aumento do déficit reflete principalmente uma queda da receita e expansão dos gastos. Outros se concentraram na meta de emissão de títulos especiais locais de 3,75 trilhões de yuans (US$ 525 bilhões), uma fonte de financiamento para investimentos em infraestrutura que está no teto das expectativas anteriores.
“A cota mais alta de emissão de títulos especiais do governo local, juntamente com diretriz mais rigorosa para que esses títulos sejam usados em projetos de infraestrutura em vez de reservas de terra ou projetos relacionados a propriedades, deve impulsionar o investimento em infraestrutura”, disseram economistas do HSBC Holdings, como Qu Hongbin, em relatório.
Política monetária misteriosa
O relatório de trabalho de Li mencionou que o Banco Popular da China trabalharia para desenvolver novas ferramentas monetárias para “alcançar diretamente” a economia, sem dar detalhes sobre o que isso significava. Desde então, economistas especulam que isso, na verdade, significa expansão ou adaptação de instrumentos já presentes na complicada caixa de ferramentas do PBOC.
Economistas como Robin Xing do Morgan Stanley escreveram que essa promessa poderia envolver “medidas quase fiscais”, como mais empréstimos, uma ferramenta que canaliza crédito barato para setores-alvo. Xing escreveu que isso não envolve a compra direta de títulos do governo pelo PBOC.