Economia

Cenário da América Latina perde brilho após 2013 frustrante

Pesquisa com mais de 80 bancos e consultorias mostrou redução nas projeções de crescimento econômico para 2014 na maioria das economias da região


	Pesos: revisão de cenário é mais uma evidência de que os países emergentes têm um papel cada vez menor na manutenção do crescimento da economia global
 (Diego Giudice/Bloomberg)

Pesos: revisão de cenário é mais uma evidência de que os países emergentes têm um papel cada vez menor na manutenção do crescimento da economia global (Diego Giudice/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2013 às 14h42.

São Paulo - A América Latina deve ter dificuldades para acelerar o crescimento de suas economias após um 2013 frustrante, em um cenário complicado pela perspectiva de aumento gradual dos juros nos Estados Unidos nos próximos anos.

Pesquisa Reuters com mais de 80 bancos e consultorias no mundo inteiro mostrou redução nas projeções de crescimento econômico para 2014 na maioria das economias da região em relação a uma pesquisa similar em julho. A expectativa é que países como Brasil e Chile terão no máximo uma recuperação limitada de suas economias após decepcionarem neste ano.

No geral, a América Latina segue longe de uma recessão. Entretanto, a revisão de cenário é mais uma evidência de que os países emergentes têm um papel cada vez menor na manutenção do crescimento da economia global. A pesquisa também sugere cenário mais desafiador para os governos da região, muitos dos quais com uma agenda pesada de eleições nos próximos meses.

"A América Latina deve continuar entre as regiões emergentes de crescimento mais lento em 2014 e 2015. A recuperação atual também deve ser desequilibrada", afirmaram economistas da consultoria Capital Economics em nota.

A piora nas expectativas acontece após o fraco desempenho de várias economias da América Latina no primeiro semestre. O México teve a primeira contração trimestral em quatro anos por causa do baixo investimento público, enquanto que o Peru, por exemplo, viu sua taxa anual de crescimento cair abaixo de 6 por cento, considerado mais próximo do potencial, por causa da desaceleração nas exportações de minério.

O fato de que os economistas acreditam que 2014 também será pior do que se imaginava antes, por sua vez, reflete o maior ceticismo com relação ao potencial de crescimento da região em meio ao alto endividamento das famílias e à menor demanda da China pelos vastos recursos naturais desses países.


O maior corte nas projeções de crescimento em 2014 em relação à pesquisa de julho foi nas estimativas do Brasil, caindo para 2,4 por cento, ante 3,0 por cento anteriormente. O cenário do México também piorou, com estimativa de crescimento de 3,7 por cento do PIB ante 4,0 por cento antes.

Os altos déficits em transações correntes na região, embora não pareçam grandes o bastante para provocar uma crise cambial, também devem ser outro fator a limitar o crescimento futuro, especialmente no Chile e no Peru, segundo economistas.

O calendário eleitoral também deve adiar planos de reformas estruturais em vários países. Argentina, Chile e Venezuela têm eleições locais ou nacionais ainda este ano, enquanto que, no Brasil, a presidente Dilma Rousseff deve buscar a reeleição em 2014.

Somente o México deve promover reformas no futuro próximo, alterando o sistema tributário e abrindo o setor energético. Esse é o principal motivo para que muitos economistas sigam otimistas com o México, apesar da expectativa de crescimento de apenas 1,3 por cento esperado neste ano.

"O governo deve aumentar os gastos após os atrasos típicos de uma administração em seu primeiro ano. o México aprovou importantes reformas e está debatendo outras propostas, que esperamos serem aprovadas neste ano", afirmou Nader Nazmi, economista do BNP Paribas, em nota.

Chance de juro menor, mas não para todos

No entanto, existe algum espaço para que as autoridades tentem algum estímulo imediato ao crescimento econômico. Com a inflação controlada na maioria dos países latino-americanos, os bancos centrais de alguns países podem ficar tentados a reduzir os juros nos próximos meses, segundo a pesquisa.


O problema é que qualquer estímulo poderá ter que ser revertido em breve. Economistas dizem que os juros provavelmente subirão assim que os Estados Unidos começarem a diminuir os estímulos à sua economia e, com isso, provocar uma redução nos fluxos de capital para países emergentes.

"Cedo ou tarde, isso vai acontecer. E se a alta dos juros (de mercado nos Estados Unidos) não for gradual e acabar aumentando a incerteza, pode haver um impacto nos custos de crédito e nos mercados de câmbio", disse o economista do Estudio Bein, em Buenos Aires, Iñaki Alvarez.

Esperava-se que a redução gradual dos estímulos nos Estados Unidos começasse em setembro, mas o Federal Reserve --banco central do país-- decidiu adiar seus planos por causa de incertezas sobre a política fiscal e o crescimento do país. A última pesquisa da Reuters sobre o tema mostrou que a maioria dos economistas espera que a diminuição das compras mensais de ativos deve começar somente no primeiro trimestre do próximo ano.

México e Chile devem se beneficiar dessa janela de oportunidade para reduzir os juros até o final do ano, de acordo com a projeção da maioria dos economistas. O Brasil é a maior exceção.

O BC subiu os juros cinco vezes seguidas desde abril para tentar reduzir as expectativas de inflação, e consolidou apostas de que levará a Selic ao patamar de dois dígitos ao publicar uma ata com poucas mudanças nesta quinta-feira.

Economistas dizem que a credibilidade do BC foi arranhada pela manutenção dos juros em mínimas recordes por quase um ano apesar da inflação alta, e agora o banco presidido por Alexandre Tombini tem sido de longe o mais agressivo da região em sua política de aperto monetário.

A cerca de 6 por cento, a inflação do Brasil é mais alta do que nos outros países latino-americanos com regime de metas de inflação. No entanto, ela é baixa se comparada com as taxas vistas na Argentina e especialmente na Venezuela.

A mediana das projeções para a inflação no fim de 2013 na Venezuela subiu para 45,5 por cento, ante 39,2 por cento na pesquisa anterior. A Argentina, acusada de manipular estatísticas de inflação por anos, deve ter alta de 26 por cento dos preços ao consumidor ao final de 2013.

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