Campos Neto diz que BC pode anunciar mais medidas para crédito
Presidente do Banco Central acredita que PEC ajudará a melhorar a fluidez do mercado de crédito
Reuters
Publicado em 20 de abril de 2020 às 20h40.
O presidente do Banco Central , Roberto Campos Neto, destacou nesta segunda-feira que o órgão continuará monitorando se o crédito está chegando na ponta e que se for preciso a instituição anunciará mais medidas para aperfeiçoar o direcionamento dos recursos.
Campos Neto diz acreditar que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) conhecida como "Orçamento de Guerra"–que, entre outras ações, permite ao BC comprar títulos diretamente no mercado–será aprovada pelo Congresso Nacional e ajudará a melhorar a fluidez do mercado de crédito.
O chefe do BC afirmou, ainda, que o cenário analisado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em sua última reunião–em 17 e 18 de março–mudou.
Na ocasião, o colegiado cortou a Selic em 0,50 ponto percentual e avaliou que tanto uma redução maior no juro quanto afrouxamentos monetários adicionais poderiam se tornar "contraproducentes" se resultarem em aperto das condições financeiras.
"Em nenhum momento dissemos que a política monetária não era efetiva, que tinha perdido efetividade e que não estávamos olhando para isso", afirmou Campos Neto, na live promovida pelo Grupo Estado.
O presidente do BC foi questionado sobre a reação do mercado de juros a comentários feitos por ele mais cedo nesta segunda-feira em videoconferência fechada à imprensa. "Entendemos que as condições que tínhamos no Copom mudaram muito de lá para cá, inclusive as expectativas de inflação".
As taxas de DI tiveram fortes quedas, com o DI janeiro 202–que concentra apostas para o patamar da Selic ao fim de 2020–fechando na casa de 2,8%. O juro básico está atualmente em 3,75% ao ano.
Perguntado sobre a reação do mercado nesta segunda ao noticiário político doméstico, Campos Neto disse que não teve nenhum grande fator no mercado que tenha chamado sua atenção. "Nosso trabalho não é comentar o que está acontecendo (do lado político), mas entender o que isso significa para a nossa política".
Para o economista, há "pouca dúvida" de que a PEC será aprovada e não existem "grandes dificuldades" no Congresso para aprovar as medidas.
O dólar fechou na segunda maior cotação da história, e o Ibovespa ficou praticamente estável.
Fluidez do crédito
O presidente do BC foi perguntado diversas vezes sobre como a autoridade monetária garantiria que o crédito chegue a quem mais precisa e a que preço.
Campos Neto respondeu que o que o Banco Central pode fazer agora é monitorar se isso está acontecendo. Mas ressalvou que se for necessário, mais medidas de direcionamento poderão ser anunciadas, sem dar mais detalhes.
"Entendemos que o Brasil fez mais cedo (medidas) e mais quantidade, fez mais direcionamento, então isso deve começar a fluir melhor", disse, admitindo que isso não significa que o preço do crédito será o mesmo de antes, já que o prêmio de risco está maior.
Ele ainda citou dados divulgados mais cedo pelo próprio BC sobre concessões de crédito em março, quando o país já sofria o baque do Covid-19. As concessões aumentaram, e, segundo o órgão, esse desempenho está relacionado às medidas tomadas pela autarquia para promover o bom funcionamento do mercado financeiro.
Campos Neto citou que, da linha de 91 bilhões de reais criada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o Banco Central conceder empréstimos aos bancos com garantia de debêntures, já houve operações totalizando "mais ou menos" 9 bilhões de reais.
Mas tem havido "pouca demanda" do lado de operações com Depósito a Prazo com Garantia Especial, cujo garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) foi elevada para 40 bilhões de reais.
Entre as operações compromissadas com títulos em moeda estrangeira, "mais ou menos" 15% do total esperado já foram realizados, disse o chefe do BC. E já existem empréstimos aprovados com lastro em letras financeiras garantidas.
"De certa forma, o potencial de 1,2 trilhão (de reais nas medidas), estamos caminhando nele."
Campos Neto classificou como "falta de conhecimento" propostas de venda de dólares das reservas a fim de levantar recursos para investimento em infraestrutura, por exemplo. Segundo ele, dado o histórico da formação das reservas no país, vendê-las com esse fim seria o mesmo que emitir dívida, o que elevaria a dívida líquida.
Atuação com tesouro
O chefe do Banco Central disse que não há ideia de "competir" com o Tesouro Nacional no mercado de títulos públicos, mas sim "complementá-lo", e que a intenção é atuar no mercado de juros quando se perceber disfuncionalidades.
"O Tesouro pode entrar. Ele vai ter as limitações, e a gente vai estar sempre agindo em coordenação", afirmou. Campos Neto frisou que o objetivo não seria "forçar" a curva longa de juros para baixo em momentos de estresse, mas "evitar que ela suba de forma disfuncional".
O economista declarou que o Tesouro tem limitações de caixa–o qual, segundo ele, atualmente atende a seis meses de vencimentos–, enquanto o BC tem um balanço com "espaço bastante grande".
O Banco Central pode atuar no mercado secundário de títulos via leilão e hoje não há nenhuma dificuldade de financiamento para o governo, também porque as taxas de juros caíram.