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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.
As grandes empresas não terão um segundo semestre favorável. Fortes exportadoras, essas companhias serão prejudicadas pela taxa de câmbio desfavorável, que reduzirá o ritmo das exportações e freará a expansão do faturamento. Um dos resultados será a menor margem de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Em termos práticos, isso significa que as empresas chegarão a dezembro menos capitalizadas. "A descapitalização é negativa, porque reduz a capacidade de investimento", diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Uma pesquisa com 10 000 empresas, realizada pela Fiesp e pela Serasa, estima que a margem de Ebitda das grandes companhias (aquelas que faturam mais de 50 milhões de reais por ano, pelos critérios da amostra) deve encerrar o ano em 16,3% sobre o faturamento líquido. A estimativa é menor que os 17,4% registrados em 2004 e pouco maior que os 15,7% do ano retrasado. Para Roriz, um dado preocupante é que a projeção também é menor que os 18,2% com que as grandes companhias fecharam o primeiro trimestre o que indica deterioração do cenário.
Até o início do ano, o câmbio era visto como um aliado das empresas para estimular as exportações (se você é assinante, leia ainda reportagem de EXAME sobre a vida com o real forte). Entre 1999 e 2004, por exemplo, o faturamento das grandes empresas, descontada a inflação, cresceu 53,4%. Já as pequenas e médias indústrias (com receita inferior a 50 milhões de reais por ano) acumularam alta de 17,7%. Para Laércio de Oliveira Pinto, diretor de Produtos para Pessoas Jurídicas da Serasa, o crescimento da economia mundial, que abriu novos mercados para o Brasil, e o câmbio favorável explicam uma parte razoável da diferença de desempenho entre as grandes e as pequenas indústrias. As pequenas, que atendem tradicionalmente o mercado interno, sofreram os efeitos negativos da renda estagnada e do desemprego elevado.
Inversão
É justamente essa dependência do mercado interno que permitirá que as pequenas empresas se mantenham capitalizadas até o fim do ano. Enquanto a pesquisa projeta uma queda da margem de Ebitda para as grandes companhias, as pequenas devem encerrar 2005 com margem de 9,2%, praticamente a mesma do primeiro trimestre (9,1%), apesar de menor que os 10,1% de 2004.
Os mesmos motivos favorecerão o crescimento das receitas entre as pequenas empresas mas irão desacelerar o faturamento das grandes. Para as maiores companhias, a pesquisa avalia que o faturamento crescerá 6,4% no acumulado do ano, ante os 10,8% registrados entre janeiro e março. Já as pequenas, que fecharam o primeiro trimestre com uma pequena retração de 0,8% no faturamento, tendem a reverter o resultado nos próximos meses e encerrar o ano com uma alta acumulada de 1,2% nas receitas. "A perspectiva de expansão do mercado interno e a estabilidade da inflação favorecem esses negócios", diz Pinto, da Serasa.
O lado positivo da valorização cambial é a menor pressão sobre dívidas em moeda estrangeira. As maiores empresas encerraram o primeiro trimestre com um endividamento total equivalente a 145% de seu patrimônio líquido. Como parte dessa dívida é feita em dólar, a valorização do real ajudará a reduzir o total de dívidas dessas empresas para 127% até dezembro. O mesmo ocorrerá com as dívidas bancárias. No primeiro trimestre, 68% do total de débitos das maiores empresas pertenciam aos bancos. No final do ano, essa porcentagem deve cair para 59%.
Nas companhias de menor porte, que não contam com acesso fácil ao crédito internacional, a maior parte das dívidas é contraída em reais junto a fornecedores. Por isso, o câmbio valorizado não ajudará tanto essas empresas. O endividamento total deve subir de 155% para 156% do patrimônio líquido, entre o primeiro trimestre e o fim do ano. Já a parcela das dívidas bancárias recuará de 52% do total de vencimentos para 45% na mesma comparação.
Nível de atividade
A Fiesp também divulgou, nesta quinta-feira (28/7), que o nível de atividade da indústria paulista cresceu 2,2% em junho em relação a maio e 4,4% sobre junho do ano passado. No acumulado do primeiro semestre, o nível de atividade aumentou 4,6%. De acordo com Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da federação, os números de junho surpreenderam positivamente, mas não revertem a tendência de queda projetada para os próximos meses.
"Junho foi um mês fora da curva", diz. Segundo Francini, o resultado foi puxado por três setores com expansão muito acima da média dos demais no mês passado o de outros materiais de transporte, onde se contabiliza o desempenho da indústria aeronáutica; automotiva, e a de produtos químicos, petroquímicos e farmacêuticos. "Desconsiderando-se esses setores, o nível de atividade teria crescido apenas 1,5%", afirma.
O diretor da Fiesp afirma que, apesar dos resultados do primeiro semestre, o nível de atividade vem desacelerando desde fevereiro e deve encerrar o ano com alta acumulada de 4%. "Nada indica que julho repetirá o mesmo desempenho inesperado desse mês", diz.