Câmara aprova projeto que limita crescimento real do salário mínimo a até 2,5%; texto vai ao Senado
Relator afrouxou as mudanças propostas pela equipe econômica nas regras de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 20h56.
Última atualização em 19 de dezembro de 2024 às 21h17.
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira, 19, com 264 votos favoráveis e 209 contrários, o projeto de lei nº 4614 de 2024, que limita o crescimento real do salário mínimo. O texto segue para o Senado.
O relator manteve no parecer o trecho que trava o crescimento do piso salarial às regras do arcabouço fiscal. Pela proposta, o salário mínimo será corrigido pela inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes, mas limitado a até 2,5%.
A expectativa inicial da equipe econômica era de que a trava implicasse economia de R$ 2,2 bilhões em 2025 e R$ 9,7 bilhões em 2026. No entanto, a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, de 2,9% para 3,2%, aumentará paraR$ 15 bilhões a economia com a medida.
BPC flexibilizado
O relator do texto, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), entretanto, afrouxou as mudanças propostas pela equipe econômica nas regras de concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda.
O parlamentar derrubou a proposta governista que alterava a definição de deficiência, retirou a norma que presume que o patrimônio representaria garantia de condições financeiras e excluiu a regra sobre coabitação, que ampliava o conceito de família para o cálculo da renda a ser considerada.
Isnaldo também rejeitou a definição de “pessoa com deficiência” proposta no projeto inicial do governo e retomou o conceito original da lei que regulamenta o BPC. Ele, porém, inseriu dispositivos que condicionam o acesso ao benefício a uma “avaliação que ateste deficiência de grau moderado ou grave”.
Em outra alteração, o parlamentar excluiu a regra de coabitação para cômputo da renda familiar. Na justificativa, Isnaldo cita uma “evidente dificuldade de aplicação” da norma. Segundo ele, é possível afirmar que a alteração resultará em perda do benefício por muitas pessoas, que ficarão desamparadas pelo simples fato de que um familiar, que sequer vive sob o mesmo teto, possuir condições de lhes prestar auxílio, sem qualquer garantia de que irá, de fato, fazê-lo.
O deputado também rejeitou a regra do projeto inicial, segundo a qual, para a concessão do BPC, seria considerado como meio de prover a própria manutenção a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive de terras. Para o relator, a regra confunde patrimônio com rendimento,“como se a posse de um bem representasse, por si só, alguma garantia de condições financeiras de garantir seu próprio sustento”, diz o parecer.
O texto manteve a obrigatoriedade de cadastro biométrico para concessão, manutenção e renovação de benefícios de seguridade social. Além disso, prevê que o Proagro respeite a disponibilidade orçamentária. O projeto muda ainda os parâmetros relativos à permanência no Bolsa Família, incluindo o estabelecimento de índices máximos de famílias unipessoais.
Fundo Constitucional do DF
O relator retirou do texto o trecho que estabelecia que a despesa federal alocada no Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) cresceria limitada ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Atualmente, o fundo é corrigido pela Receita Corrente Líquida (RCL).
O FCDF, que é mantido com dinheiro da União, é usado para manter a Polícia Civil, a Polícia Penal, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, além de dar assistência à execução de serviços públicos de saúde e educação.Isnaldo excluiu todo o trecho referente ao fundo.
A equipe econômica estimativa que a mudança geraria uma alteração de R$ 18,1 bilhões entre 2025 e 2030.