Brexit já aumenta onda protecionista na União Europeia
Acordos da Europa com outros países e blocos, inclusive com o Mercosul, foram ameaçados pela saída do Reino Unido da UE
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2016 às 11h32.
Genebra - A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia abriu espaço para o fortalecimento de governos protecionistas na Europa.
Ontem, a França já deixou claro que, a partir de agora, poderá enterrar acordos comerciais como o da UE com os Estados Unidos. O tratado entre europeus e o Mercosul também corre risco de ser colocado em segundo plano.
Foi a partir de uma iniciativa de Londres que americanos e europeus passaram a negociar, desde 2013, a criação do maior acordo de livre-comércio do mundo.
No domingo, 26, porém, a França deu um primeiro sinal concreto de que, sem o impulso britânico, Paris está disposta a frear qualquer abertura do bloco.
"A partir de agora, nenhum acordo de livre-comércio deve ser fechado se ele não respeita os interesses da UE", disse o primeiro-ministro francês, Manuel Valls. Para ele, o acordo negociado com os EUA "não vai no bom caminho".
"A Europa deve ser firme e a França vigiará para que esse seja o caso. Não pode haver um acordo transatlântico", insistiu, num gesto aplaudido por governos do Leste Europeu e economias com forte presença agrícola.
As declarações, feitas apenas três dias depois do Brexit, foram interpretadas por negociadores com um sinal claro de que a saída do Reino Unido deixará como herança um bloco europeu mais protecionista e menos disposto a abrir mão de seus subsídios agrícolas.
Diplomatas e especialistas, desde sexta-feira, mergulharam nos tratados comerciais para tentar entender o que ocorrerá com a relação de mais de uma dezena de países com Londres.
Mas admitiram que, por alguns meses, a prioridade de Bruxelas não será suas relações com novos mercados, e sim recosturar a estrutura que ameaça ser desmontada no bloco.
Golpe
Nos EUA, a saída do Reino Unido também foi considerado como um golpe contra a estratégia comercial. Especialistas e políticos como o senador Mark Warner alertaram que decisão britânica é uma "ameaça" a propostas de acordos de livre-comércio.
"Sem o Reino Unido, será muito difícil fechar um acordo de livre-comércio entre EUA e UE em 2017 ou mesmo mais tarde", disse o economista Gary Hufbauer, do Peterson Institute for International Economics.
A declaração da França ainda confirma o temor do chanceler José Serra de que o Brasil perdia um "aliado" nas negociações comerciais com a saída de Londres.
Diplomatas brasileiros consultados pelo Estado apontaram que, internamente, o temor é que o mesmo tom adotada pela França com os EUA possa ser feito em relação ao Mercosul.
A preocupação do Itamaraty é compartilhada por especialistas, como Isabel Schnabel, da Universidade de Bonn. "Um dos custos do Brexit pode ser a mudança política dentro da UE em direção a um maior protecionismo, maior intervencionismo e forças menos amistosas ao mercado", disse.
Dentro da UE, diplomatas em Bruxelas confirmaram que a perspectiva de que a Comissão faça propostas liberalizantes no setor de agricultura serão cada vez menores.
"A Europa passará a olhar para si mesma por alguns meses, tentando entender o que ocorreu e como resolver sua pior crise", afirmou um negociador, na condição de anonimato.
"O acordo com o Mercosul tem uma chance grande de ficar em alguma gaveta, por enquanto."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Genebra - A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia abriu espaço para o fortalecimento de governos protecionistas na Europa.
Ontem, a França já deixou claro que, a partir de agora, poderá enterrar acordos comerciais como o da UE com os Estados Unidos. O tratado entre europeus e o Mercosul também corre risco de ser colocado em segundo plano.
Foi a partir de uma iniciativa de Londres que americanos e europeus passaram a negociar, desde 2013, a criação do maior acordo de livre-comércio do mundo.
No domingo, 26, porém, a França deu um primeiro sinal concreto de que, sem o impulso britânico, Paris está disposta a frear qualquer abertura do bloco.
"A partir de agora, nenhum acordo de livre-comércio deve ser fechado se ele não respeita os interesses da UE", disse o primeiro-ministro francês, Manuel Valls. Para ele, o acordo negociado com os EUA "não vai no bom caminho".
"A Europa deve ser firme e a França vigiará para que esse seja o caso. Não pode haver um acordo transatlântico", insistiu, num gesto aplaudido por governos do Leste Europeu e economias com forte presença agrícola.
As declarações, feitas apenas três dias depois do Brexit, foram interpretadas por negociadores com um sinal claro de que a saída do Reino Unido deixará como herança um bloco europeu mais protecionista e menos disposto a abrir mão de seus subsídios agrícolas.
Diplomatas e especialistas, desde sexta-feira, mergulharam nos tratados comerciais para tentar entender o que ocorrerá com a relação de mais de uma dezena de países com Londres.
Mas admitiram que, por alguns meses, a prioridade de Bruxelas não será suas relações com novos mercados, e sim recosturar a estrutura que ameaça ser desmontada no bloco.
Golpe
Nos EUA, a saída do Reino Unido também foi considerado como um golpe contra a estratégia comercial. Especialistas e políticos como o senador Mark Warner alertaram que decisão britânica é uma "ameaça" a propostas de acordos de livre-comércio.
"Sem o Reino Unido, será muito difícil fechar um acordo de livre-comércio entre EUA e UE em 2017 ou mesmo mais tarde", disse o economista Gary Hufbauer, do Peterson Institute for International Economics.
A declaração da França ainda confirma o temor do chanceler José Serra de que o Brasil perdia um "aliado" nas negociações comerciais com a saída de Londres.
Diplomatas brasileiros consultados pelo Estado apontaram que, internamente, o temor é que o mesmo tom adotada pela França com os EUA possa ser feito em relação ao Mercosul.
A preocupação do Itamaraty é compartilhada por especialistas, como Isabel Schnabel, da Universidade de Bonn. "Um dos custos do Brexit pode ser a mudança política dentro da UE em direção a um maior protecionismo, maior intervencionismo e forças menos amistosas ao mercado", disse.
Dentro da UE, diplomatas em Bruxelas confirmaram que a perspectiva de que a Comissão faça propostas liberalizantes no setor de agricultura serão cada vez menores.
"A Europa passará a olhar para si mesma por alguns meses, tentando entender o que ocorreu e como resolver sua pior crise", afirmou um negociador, na condição de anonimato.
"O acordo com o Mercosul tem uma chance grande de ficar em alguma gaveta, por enquanto."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.