Brasil se volta à Índia diante de piora da relação com Argentina
Governo vê a possibilidade de aumentar de US$ 7 bilhões para US$ 25 bilhões o comércio com o país
Ligia Tuon
Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 18h35.
Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 19h35.
O presidente Jair Bolsonaro chega à Índia na próxima semana para um movimento de aproximação comercial com o gigante global de olho num mercado valioso para alimentos e commodities minerais. Esse passo ocorre ao mesmo tempo em que a relação do Brasil com a Argentina, seu principal parceiro no Mercosul, se deteriora.
A estratégia do governo brasileiro se baseia no fato de que a Índia cresceu a uma taxa de cerca 7% ao ano na última década, dobrou sua renda per capita e vai ultrapassar a China como país mais populoso do mundo nos próximos 10 anos.
“A experiência internacional mostra que as pessoas comem mais e investem em infraestrutura quando sua renda dobra”, disse o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, em entrevista.
O governo vê a possibilidade de aumentar de US$ 7 bilhões para US$ 25 bilhões o comércio com a Índia.
Argentina
Já o clima com a Argentina, com quem o Brasil viveu um período de aproximação em 2019, o que abriu caminho para o fechamento do acordo União Europeia-Mercosul, piorou desde as eleições no país vizinho, com a vitória de Alberto Fernandez.
“Temos direção de maior integração do Brasil à economia mundial. O que vamos fazer com o Mercosul está direcionado a essas diretrizes. Mas todos os sinais que a gente recebe nas últimas semanas são ruins”, disse Troyjo. “Não vamos nos permitir, como no passado, trafegar em velocidade de comboio, em que a velocidade de todos é determinada pela velocidade do veículo mais lento.”
Davos
Antes da viagem à Índia, a equipe econômica, incluindo Troyjo e o ministro Paulo Guedes, irá ao Fórum Econômico Mundial de Davos . A mensagem levada é de que o Brasil conseguiu fazer a reforma da Previdência, ao contrário de países que vêm aumentando suas despesas com pensões, e que está “nadando contra a corrente” mundial, reduzindo o tamanho do estado -- o que Troyjo chamou de “grande diferenciação” do Brasil no contexto global.
“Temos um gigantesco estoque de liquidez no mundo e falta de investimentos em infraestrutura. Queremos resolver este grande paradoxo”, disse o secretário.
China
O Brasil também continua buscando aproximação com a China, mas isso não passa pelo fechamento de um acordo comercial. O que o país busca é que o acordo UE-Mercosul torne o país mais atraente para os chineses, abrindo espaço para aumentar o volume e diversificar a pauta exportadora.
Troyjo disse que a assinatura da primeira fase doacordo comercialEUA-China é uma ótima sinalização e terá reflexo positivo no Brasil. Segundo ele, neste momento o que mais o país precisa é a diminuição dos níveis de incerteza global para avançar com as reformas econômicas. “É melhor fazer isso num ambiente de céu azul do que de chuva forte.”