Bradesco reduz projeção para o PIB de 2020 de 2,2% para 1,9%
O banco também reduziu a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, de 5% para 4,75% este ano, nível que deve ser mantido até o fim de 2020
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de setembro de 2019 às 14h32.
O Bradesco reduziu a previsão para a taxa básica de juros, a Selic, de 5% para 4,75% este ano, nível que deve ser mantido até o fim de 2020. Manteve, porém, a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 0,8%, reduzindo a estimativa para 2020, de 2,2% par 1,9%.
Ainda na revisão do cenário, o Bradesco manteve a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2019 em 3,5% e de 2020 em 3,9%.
No câmbio, a expectativa é de dólar mais forte este ano, com estimativa subindo de R$ 3,80 para R$ 4,00. Para 2020, a estimativa foi mantida em R$ 3,80.
A revisão do PIB tem "100% a ver" com o cenário externo, que está ficando mais desafiador, afirmou o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, que apresentou nesta sexta-feira, 6, revisão de cenário à imprensa.
"O potencial para crescer crédito no Brasil nos próximos anos é enorme se mantivermos os juros baixos", disse ele, ressaltando que o País passa por uma transição de política econômica, com ajuste fiscal e setor privado ganhando maior protagonismo. Honorato ressaltou que as empresas já se financiam no mercado local a taxas mais baixas e prazos mais longos. "Estamos diante de oportunidade de convergir juro no Brasil ao padrão internacional."
No Credit Default Swap (CDS), um termômetro do risco país, o economista ressalta que as taxas já precificam uma melhora do cenário, enquanto o câmbio anda não. As taxas do CDS de 5 anos estão ao redor de 125 pontos, nível que o Brasil tinha quando era grau de investimento. "A solvência externa do Brasil está sendo vista como positiva."
Teto de gastos
O economista-chefe do Bradesco disse nesta sexta-feira a jornalistas que o momento não é propício para discutir revisão do teto de gastos públicos. Em sua avaliação, "conceitualmente falando", com o ajuste fiscal consolidado, "não há grande problema em rever" a medida, estabelecida no governo de Michel Temer por uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
"O papel do teto foi estimular debate sobre controle dás contas públicas", afirmou ele. "O momento não é propício para discutir revisão", completou.
A discussão de revisão do teto tem por trás a demanda da sociedade por maior crescimento da economia, mas para isso, o Banco Central pode cortar os juros.
Perguntado sobre o impacto dos ruídos das declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro, e de outros membros do governo, Honorato disse que um quadro de previsibilidade política é sempre melhor para os mercados e investidores. Ao mesmo tempo, o grau de volatilidade política cresceu no mundo todo, não só no Brasil, completou.
Os mercados estão começando a separar o que é mero ruído de declarações polêmicas das ações reais dos governos, disse o economista. Uma das mostras é que a curva longa de juros e as taxas do CDS de cinco anos, em níveis baixos. Em outro momento, se a reforma da Previdência nem tivesse começado a andar, estes ruídos poderiam ser mais problemáticos, avalia o economista.
Desoneração de folha de pagamento
Segundo Barbosa, desoneração de folha de pagamento é perfeitamente defensável em momentos de elevada taxa de desemprego. A afirmação foi feita após ele ser perguntado pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) se estudos no governo com objetivo de desonerar a folha em nome de se gerar emprego não seria a volta a medidas econômicas criticadas.
"No governo Dilma, a desoneração ocorreu num momento em que a economia estava com baixa taxa de desemprego. Não vejo nenhuma relação com o que está sendo proposto agora com o que foi feito no governo Dilma", disse Barbosa.
Conforme noticiado pelo Broadcast ao longo dos últimos dias, o governo Bolsonaro estuda um programa de desoneração da folha de pagamento de empresas que contratarem jovens e pessoas que estão desempregadas há mais de dois anos.
Também na semana passada, o secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, anunciou um acordo com representantes do Sistema "S" para que a reforma tributária inclua desoneração gradual sobre a folha de pagamento, que chegaria ao final do processo em 20% das alíquotas pagas pelas empresas ligadas ao sistema. Segundo disse o secretário, a desoneração somaria R$ 4,5 bilhões por ano.
No último dia 2, o relator da reforma tributária no Senado, Roberto Rocha (PSDB-MA), disse que estuda propor uma desoneração parcial da folha de pagamento na proposta. Ele anunciou a intenção de apresentar o relatório da proposta até o dia 15 deste mês na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. A ideia é reduzir a contribuição patronal para a Previdência de 20% para 10%.
Para o economista do Bradesco, as propostas de desoneração agora são diferentes também porque têm por trás uma preocupação de não prejudicar o ajuste fiscal. Há uma preocupação, segundo Barbosa, de se compensar as desonerações que estão sendo propostas, ainda que com "impostos de não tão boa qualidade".
"Toda a discussão em torno da desoneração associada a compensar com impostos de outros cantos ainda que não de tão boa qualidade", disse o economista ao se referir, por exemplo, a um imposto semelhante à CPMF.