BCE faz quinze anos, transformado em gestor de crise
Para os mercados e os políticos, o BCE se transformou no último recurso diante da crise, graças a seus meios financeiros e a sua capacidade de atuar com rapidez
Da Redação
Publicado em 31 de maio de 2013 às 18h22.
O Banco Central Europeu (BCE) faz quinze anos no dia 1º de junho, marcado por uma crise que o obrigou a modificar seu papel original para tentar salvar a zona do euro.
Nosso papel é "claro como a água", costumava dizer Jean-Claude Trichet, seu presidente durante oito anos, até 2011: manter a inflação abaixo de 2% para a zona do euro.
Em relação a isso, "a missão está cumprida", dizem os responsáveis da instituição de Frankfurt.
"Neste sentido, o BCE faz um excelente trabalho, melhor que qualquer outro banco central no mundo e muito melhor que o Bundesbank", o banco central alemão, disse Holger Schmieding, economista chefe do banco Berenberg.
Contudo, esta busca única de estabilidade de preços - em reação à elevada inflação dos anos 1970 - demonstrou seus limites porque não pôde evitar a formação de uma bolha financeira e uma crise da dívida pública em alguns Estados da zona do euro, que ameaçaram os pilares da moeda única.
Diante desta situação, o BCE não teve outro remédio além de reagir, reduzindo as taxas e adotando medidas "não convencionais".
O BCE injetou grandes quantidades de dinheiro, aceitou garantias em troca de empréstimos e, ainda mais importante, em 2010, adotou um programa de compra da dívida dos Estados em dificuldade, o SMP (Securities Market Programme), que foi substituído pelo OMT (Outright Monetary Transactions) em setembro de 2012, apesar de estar submetido a condições.
"Conseguiram ampliar ao máximo os limites de seu mandato", disse Gilles Moëc, economista do Deutsche Bank.
Para os mercados e os políticos, o BCE se transformou no último recurso diante da crise, graças a seus meios financeiros e a sua capacidade de atuar com rapidez, o que não acontece com o restante das instituições europeias.
Isso foi visto com a chamada "declaração de Londres" de seu atual presidente, Mario Draghi, que teve um efeito tranquilizador imediato nos mercados.
Em julho de 2012, no pior momento da crise para a zona do euro, cujo desmantelamento parecia iminente, Draghi afirmou que o BCE iria fazer tudo o que estivesse em suas mãos para salvá-la.
Para Christian Bordes, professor de economia da Universidade de Paris I, esta afirmação, que conseguiu acalmar os mercados sem necessidade de intervir, "constitui uma ruptura" com seu papel, como teve a decisão do banco central suíço de impor um teto para a taxa de câmbio.
"Os presidentes dos bancos centrais atuam como gestores da crise", disse Draghi, recentemente, em um discurso.
"Respondemos à crise com medidas que foram evoluindo ao mesmo tempo em que a crise se transformava", disse.
Entretanto, o BCE, ao aceitar esta responsabilidade, tem que tentar não pôr em perigo sua independência da política nem sua credibilidade.
"O BCE não pode ser o máximo responsável da política econômica da zona do euro, não é uma instituição eleita e há um risco de que a opinião pública considere que vai muito longe", explica Gilles Moëc.
"É algo que Draghi lembra cada vez mais em suas declarações: há um passo que o BCE não quer dar e é se transformar em ditador benevolente da zona do euro", acrescentou.
Em 2014, a instituição, que também ajuda a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional no centro da Troika, vai ter uma nova função, como é a de supervisionar os grandes bancos da zona da euro. "É um trabalho delicado (...) já que não tem a mesma competência sobre os sistemas bancários nacionais" que em matéria monetária, estima Christian Bordes.
O outro desafio que o espera é gerir a heterogeneidade das situações nos países da zona do euro, apesar de sua política monetária ter que ser uniforme e seu discurso, único.
Em uma zona monetária, são necessários mecanismos que permitam levar em conta a disparidade das situações "se não, são criados fenômenos de bolha", disse Christian Bordes.
A comunicação do BCE já leva em conta esta preocupação. Nos primeiros momentos de sua existência, Trichet, e antes dele, Wim Duisenberg, queriam forjar uma cultura do euro, "hoje, com a crise que afeta de forma diferente aos países membros, temos que reforçar a comunicação a nível dos Estados membros", disse à AFP, Peter Praet, seu economista chefe.
O Banco Central Europeu (BCE) faz quinze anos no dia 1º de junho, marcado por uma crise que o obrigou a modificar seu papel original para tentar salvar a zona do euro.
Nosso papel é "claro como a água", costumava dizer Jean-Claude Trichet, seu presidente durante oito anos, até 2011: manter a inflação abaixo de 2% para a zona do euro.
Em relação a isso, "a missão está cumprida", dizem os responsáveis da instituição de Frankfurt.
"Neste sentido, o BCE faz um excelente trabalho, melhor que qualquer outro banco central no mundo e muito melhor que o Bundesbank", o banco central alemão, disse Holger Schmieding, economista chefe do banco Berenberg.
Contudo, esta busca única de estabilidade de preços - em reação à elevada inflação dos anos 1970 - demonstrou seus limites porque não pôde evitar a formação de uma bolha financeira e uma crise da dívida pública em alguns Estados da zona do euro, que ameaçaram os pilares da moeda única.
Diante desta situação, o BCE não teve outro remédio além de reagir, reduzindo as taxas e adotando medidas "não convencionais".
O BCE injetou grandes quantidades de dinheiro, aceitou garantias em troca de empréstimos e, ainda mais importante, em 2010, adotou um programa de compra da dívida dos Estados em dificuldade, o SMP (Securities Market Programme), que foi substituído pelo OMT (Outright Monetary Transactions) em setembro de 2012, apesar de estar submetido a condições.
"Conseguiram ampliar ao máximo os limites de seu mandato", disse Gilles Moëc, economista do Deutsche Bank.
Para os mercados e os políticos, o BCE se transformou no último recurso diante da crise, graças a seus meios financeiros e a sua capacidade de atuar com rapidez, o que não acontece com o restante das instituições europeias.
Isso foi visto com a chamada "declaração de Londres" de seu atual presidente, Mario Draghi, que teve um efeito tranquilizador imediato nos mercados.
Em julho de 2012, no pior momento da crise para a zona do euro, cujo desmantelamento parecia iminente, Draghi afirmou que o BCE iria fazer tudo o que estivesse em suas mãos para salvá-la.
Para Christian Bordes, professor de economia da Universidade de Paris I, esta afirmação, que conseguiu acalmar os mercados sem necessidade de intervir, "constitui uma ruptura" com seu papel, como teve a decisão do banco central suíço de impor um teto para a taxa de câmbio.
"Os presidentes dos bancos centrais atuam como gestores da crise", disse Draghi, recentemente, em um discurso.
"Respondemos à crise com medidas que foram evoluindo ao mesmo tempo em que a crise se transformava", disse.
Entretanto, o BCE, ao aceitar esta responsabilidade, tem que tentar não pôr em perigo sua independência da política nem sua credibilidade.
"O BCE não pode ser o máximo responsável da política econômica da zona do euro, não é uma instituição eleita e há um risco de que a opinião pública considere que vai muito longe", explica Gilles Moëc.
"É algo que Draghi lembra cada vez mais em suas declarações: há um passo que o BCE não quer dar e é se transformar em ditador benevolente da zona do euro", acrescentou.
Em 2014, a instituição, que também ajuda a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional no centro da Troika, vai ter uma nova função, como é a de supervisionar os grandes bancos da zona da euro. "É um trabalho delicado (...) já que não tem a mesma competência sobre os sistemas bancários nacionais" que em matéria monetária, estima Christian Bordes.
O outro desafio que o espera é gerir a heterogeneidade das situações nos países da zona do euro, apesar de sua política monetária ter que ser uniforme e seu discurso, único.
Em uma zona monetária, são necessários mecanismos que permitam levar em conta a disparidade das situações "se não, são criados fenômenos de bolha", disse Christian Bordes.
A comunicação do BCE já leva em conta esta preocupação. Nos primeiros momentos de sua existência, Trichet, e antes dele, Wim Duisenberg, queriam forjar uma cultura do euro, "hoje, com a crise que afeta de forma diferente aos países membros, temos que reforçar a comunicação a nível dos Estados membros", disse à AFP, Peter Praet, seu economista chefe.