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"Às vezes, dá impressão de que conversar com a Fazenda é pecado", diz Haddad sobre Banco Central

Haddad disse ainda que "estão querendo criar um problema que não existe" sobre a indicação do novo presidente do BC e que a decisão final será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

Haddad e Campos Neto: Ministro da Fazenda deixa claro que relação entre Fazenda e BC já foi mais azeitada (Lula Marques/Agência Brasil)

Publicado em 31 de maio de 2024 às 10h16.

Última atualização em 31 de maio de 2024 às 10h34.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Banco Central conversa "infinitamente" mais com o mercado financeiro do que com o ministério da Fazenda ao ser questionado sobre a relação com o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

“Eles conversam muito mais, infinitamente mais com o mercado financeiro do que com a Fazenda. Às vezes, dá impressão de que conversar com a Fazenda é um pecado e conversar com o mercado o dia inteiro não é. Os diretores do BC conversam quase todo dia com gente de mercado e, vez ou outra, com técnicos da Fazenda”, disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico.

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Haddad disse ainda que "estão querendo criar um problema que não existe" sobre a indicação do novo presidente do BC e que a decisão final será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"É uma prerrogativa do presidente. Ele não vai ouvir só a mim. Minha opinião vai pesar, mas esta é uma atribuição dele escolher e eu, evidentemente, se perguntado, vou emitir minha opinião, mas não vou tratar de nomes. Não seria bom nem para o BC", afirmou.

Sobre a meta de inflação, Haddad disse queem nenhum momento o governo cogitou mudar o índice, e que a declaração sobre a meta "exigentíssima" foi um elogio ao trabalho conjunto da Fazenda e do Banco Central, "que resulta em crescimento com baixa inflação".

"Falei que a meta de inflação é exigentíssima para o histórico do Brasil, que poucas vezes conseguiu chegar a esse patamar, e que nós, não obstante isso, estamos convergindo para a meta", disse.

O chefe da Fazenda tambémnegou que Lula critique a atenção dada por ele ao mercado financeiro. "Essa queixa nunca existiu", frisou. "Encontro com todo mundo. Recebo MST, Febraban, IDV [Instituto para o Desenvolvimento do Varejo], Shein. Dedico todas as sextas-feiras a ouvir os setores da economia, incluindo o movimento social. Erra-se menos quanto mais se ouve", afirmou.

Sobre um possível temor de empresários e agentes do mercado de que ele possa se afastar de seus compromissos iniciais, o ministro disse que não sabe"de onde saiu esse tipo de rumor".

"Muita gente ganha com a volatilidade do mercado", pontuou o ministro da Fazenda. "Nosso papel é comunicar bem para mitigar efeitos desse tipo de boataria que prejudica o pequeno poupador."

Haddad disse ainda que Lula retornou ao poder ansioso por responder aos anseios sociais, mas salientou que esse objetivo não impediu o presidente de aceitar o novo arcabouço fiscal. "A ansiedade dele é a expressão da ansiedade do País."

Ajuste de Tarcísio tem 80% de inspiração no trabalho da Fazenda

Hadadd disse que o plano de ajuste fiscal anunciado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é muito inspirado na Fazenda. "Oitenta por cento do plano é redução do gasto tributário e redução do juro da dívida de São Paulo, que é o trabalho que estamos fazendo", disse.

"No nosso caso, o juro não é contratual, é a Selic, mas o dele é. Ele depende do Executivo federal para conseguir. E sabe que há boa vontade do Executivo federal para isso", afirmou Haddad, que pontuou que Tarcísio está colocando na conta da Fazenda nacional parte do plano.

O ministro afirmou ainda que o trabalho de corte de gastos é contínuo. Questionado sobre o que está sendo feito em âmbito federal para o controle de gastos, Haddad disse que o mercado presta pouca atenção no que ocorre no Legislativo e no Judiciário, "como se o resultado fiscal fosse uma atribuição exclusiva do Poder Executivo".

O ministro também defendeu que o arcabouço fiscal não está arranhado, quando inquirido sobre a percepção de que há receitas superestimadas e despesas que não estão sendo cuidadas.

"Disse no fim do ano passado que o Orçamento estava com receitas extraordinárias superestimadas e receitas ordinárias subestimadas", emendou Haddad. "Reduzimos, no segundo relatório, de R$ 35 bilhões para R$ 10 bilhões as receitas com concessões. E você terá novidades positivas no terceiro bimestre com as transações [tributárias] que estão em curso no Carf."

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