Economia

As incubadoras que dão certo

Esqueça o fracasso das ponto-com. Nas universidades, as estufas de idéias funcionam muito bem

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h49.

Parceria com universidades e centros de pesquisa não é a única opção para as grandes empresas que procuram inovação tecnológica mais barata e de qualidade. Nos últimos anos, pipocaram nos campi brasileiros as chamadas incubadoras. Seu modelo é muito parecido com o das incubadoras ponto-com: dar cara de produto final a idéias de negócio e depois sair em busca de compradores e clientes. A diferença é que as incubadoras universitárias deram certo.

A grande empresa dificilmente vai garimpar aleatoriamente nos laboratórios para ver se encontra algo interessante. Ela já sabe o que pretende desenvolver e vender, sabe qual conhecimento quer adicionar ao que ela já tem. E vai atrás só do que interessa, porque tem pressa, diz Gina Paladino, do Instituto Euvaldo Lodi. As incubadoras, portanto, servem como uma espécie de intérprete do conhecimento acadêmico para o mercado. Vendem inovação tecnológica e produtos recém-saídos do laboratório a preços tão baixos quanto os encontrados na fonte. Foi numa delas que a americana Becton Dickinson encontrou sua fornecedora de tecnologia. A centenária BD é uma das maiores fabricantes de material hospitalar do mundo e grande financiadora de pesquisas em áreas como biochips; tem ações na Bolsa de Nova York, receita de 3,6 bilhões de dólares anuais e em 2000 obteve lucro de 393 milhões de dólares.

Só que ela foi surpreendida pela concorrência no Brasil, que estava ganhando mercado com um novo sistema de anestesia. Tudo graças ao aparelho chamado eletroestimulador, que acha o ponto exato para a aplicação de certas anestesias, nas quais a margem de erro passava de 20%. Igor Leão, gerente de produtos da BD, diz que a empresa teve de sair à procura da novidade: Precisávamos de um sistema completo para a aplicação dessas anestesias.

Temos a agulha, especial, mas não tínhamos o eletroestimulador. A BD encontrou o aparelho numa das empresas, a BGE, do Centro Incubador de Empresas de Tecnologia (Cietec), da Universidade de São Paulo. Não tínhamos conhecimento nesse tipo de equipamento. Começar do zero era impensável. Só com o desenvolvimento e a criação da linha de produção de um produto recente, gastamos 5 milhões de dólares, afirma Leão.
A BGE, fabricante de equipamentos médicos, está hospedada no Cietec desde 1999. Seu principal produto é um sensor ultra-sônico para bombas que injetam medicamentos no paciente. Não trombamos com as grandes fabricantes de equipamento. Procuramos sempre descobrir nichos que não interessem a elas, diz José Carlos Borges, fundador da BGE. O eletroestimulador testado pela americana BD fica pronto em novembro. A BD vai lançar aqui uma agulha especial para essa anestesia, do tipo mais moderno. Eu não tenho essa agulha. E eles não têm o eletroestimulador. Um vai recomendar o produto do outro.

Empresas como a BGE nada mais são do que empreendimentos de cientistas que ousaram sair do laboratório e se arriscar no mercado. O Cietec da USP reúne pelo menos 130 deles. Tem um pouco de tudo: tecnologia da informação, nuclear, médica, engenharia de materiais, química e meio ambiente. Tem para todos os gostos -- é só chegar.

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