Apesar de calma de Powell, rendimentos em alta preocupam bancos centrais
Como os juros de títulos públicos são usados como referência para precificar empréstimos para empresas e consumidores, qualquer aumento dos rendimentos se reflete na economia real
Fabiane Stefano
Publicado em 24 de fevereiro de 2021 às 18h36.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2021 às 19h55.
A missão de resgate sem precedentes deUS$ 9 trilhões de bancos centrais para tirar a economia mundial da recessão causada pelo coronavírus enfrenta um teste quando o aumento dos rendimentos dos títulos e apostas de inflação ameaçam a capacidade das autoridades de manter os juros baixos.
Embora nesta semana o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell , tenhachamadoa recente alta dos rendimentos dos títulos de “declaração de confiança” nas perspectivas econômicas, outras autoridades monetárias parecem menos otimistas, já que a recuperação de suas economias é superada pelo ritmo dos EUA.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde , disse na segunda-feira que a instituição está “monitorando de perto” os rendimentos dos títulos públicos. O Banco da Coreia avisou que vai intervir no mercado se os custos de financiamento subirem; o banco central da Austrália teve queretomaras compras de títulos para manter a meta dos rendimentos; e, na quarta-feira, o banco central da Nova Zelândiaprometeuum período prolongado de estímulos, mesmo com a melhora do cenário econômico.
O mercado de títulos de dívida não está ouvindo. Na quarta-feira, os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de 30 anos chegaram a subir 11 pontos-base, para 2,29%, o nível mais alto desde antes da onda vendedora em março. A taxa dos títulos do Reino Unido com prazo semelhante também disparou, assim como o rendimento da dívida da Alemanha.
Como os juros de títulos públicos são usados como referência para precificar empréstimos para empresas e consumidores, qualquer aumento dos rendimentos se reflete na economia real. Isso joga contra a campanha dos bancos centrais para impulsionar a recuperação econômica com dinheiro barato, o que pode levar à necessidade de oferecer ainda mais estímulos em algum momento.
Rendimentos mais altos dos Treasuries também são uma ameaça para as economias emergentes, onde historicamente a tendência causa aumento da volatilidade cambial e fluxos de capital instáveis, especialmente para países que dependem de financiamento externo. Isso acaba por desacelerar o crescimento, como aconteceu em 2013, quando a preocupação sobre a retirada de estímulos pelo Fed desencadeou um efeito cascata.
A Bloomberg Economics prevê que os bancos centrais da Argentina, Brasil e Nigéria devem apertar a política monetária neste ano.
“O Fed permanece em uma posição mais confortável em comparação com muitos de seus pares nos mercados emergentes”, disse Frederic Neumann, corresponsável de pesquisa de economia asiática do HSBC. “A inflação nos EUA está muito mais bem ancorada do que em economias pequenas e abertas.”