Exame Logo

Apesar de alta em fevereiro, varejo deve ter semestre negativo

Agravamento da pandemia a partir de março comprometerá atividade também no segundo trimestre, avaliam economistas

Recuperação do setor deve encontrar entraves com inflação e desemprego em alta (Eduardo Frazão/Exame)
FS

Fabiane Stefano

Publicado em 13 de abril de 2021 às 18h55.

Última atualização em 13 de abril de 2021 às 21h04.

O crescimento de 0,6% do varejo em fevereiro não representará alívio para o setor no primeiro semestre de 2021, avaliam economistas ouvidos pela EXAME. A atividade deve fechar os dois primeiros trimestres do ano com contração significativa, segundo os especialistas, mesmo com o resultado das vendas divulgado nesta terça-feira, 13.

O economista Arthur Mota, da Exame Invest PRO, braço de análise de investimentos da Exame, avalia que o aumento registrado em fevereiro, além de estar dentro da expectativa, representou em boa parte uma recomposição do índice de vendas, que caiu em janeiro. Ele ressalta que o aumento não anularia as quedas se considerado também o mês de dezembro.

Veja também

"Isso tem uma importância muito forte. Dá aquela impressão de que o varejo estava muito forte em fevereiro. Mas se você não consegue nem anular essas duas quedas, o efeito para o trimestre fica muito ruim", afirma.

Arthur Mota, da Exame Invest PRO, braço de análise de investimentos da Exame

Além disso, a eclosão da fase mais intensa da pandemia em março colocou por água abaixo qualquer previsão de continuidade de recuperação. Segundo o economista, a expectativa para o fechamento do trimestre é de uma queda intensa que deve marcar também o segundo trimestre, mesmo com a possibilidade de flexibilização do isolamento.

"O resumo nesse primeiro semestre é de uma atividade mais fraca. A gente não vai ter uma contração tão forte como no ano passado, o país já se adaptou mais ao cenário de pandemia, mas as alavancas de recuperação também são diferentes", avalia.

Uma retomada de vendas a partir de maio, com a flexibilização das restrições de circulação e funcionamento do comércio caso os números da pandemia reduzam, também não deve ocorrer de forma intensa, segundo o economista. A contração dos índices de confiança do consumidor deve seguir impactando negativamente o setor.

Índices de inadimplência baixos, por exemplo, são consequência de níveis baixos de consumo do brasileiro, aponta o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), Claudio Felisoni de Angelo. A projeção da entidade para abril indica que a inadimplência não deve crescer, se mantendo em 4,1%, valor que representa leve queda, de 0,03% em relação a fevereiro, e estabilidade em relação à projeção para março. "Com o cenário cada vez mais instável, o consumidor tem optado por frear os gastos, o que auxilia para essa queda nos números ”, afirma.

A alta da inflação é outro entrave para a retomada do consumo da população. Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, a tendência é que o aumento de preços principalmente dos alimentos ocasione a substituição no consumo e consequente redução da compra de outros bens.

Com um aumento do IPCA acumulado nos últimos 12 meses de 6,1%, o Copom já sinalizou para um novo aperto monetário com o aumento da Selic em maio, levando a taxa a 3,5%.

Os especialistas apontam também para o desemprego, que segue crescendo, como impeditivo de uma retomada mais célere da economia uma vez que ocorra a reabertura do comércio físico. "Para ter um crescimento pleno precisaremos também nos livrar dos danos causados pela pandemia. Com o desemprego elevando-se podemos ver o comércio ainda demorar para ser restabelecido", afirma Sanchez.

Retomada depende de vacinas

O calendário de vacinas é o principal fator associado às possibilidades de um prejuízo menor ao varejo a partir de maio e início de retomada no segundo semestre na avaliação dos economistas.

"Se não tiver nenhuma frustração no calendário de vacinas, a gente pode entrar melhor em maio. Se continuar tendo frustrações como tivemos em março vamos acabar prolongando essa dinâmica mais fraca de atividade", pondera Mota.

Para Sanchez, há uma expectativa de avanço gradativo da atividade do setor no segundo semestre condicionada à questão. "A principal variável disso é a associada à vacinação. Ela será determinante nesse processo. Existe uma demanda reprimida", afirma.

 

 

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoPandemiaVarejo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame