Economia

Analistas afirmam que juro pode cair, mas duvidam da ;coragem; do BC

O arrazoado sobre os juros brasileiros não pára de crescer. Os setores produtivos clamam pelo corte, apoiados pelo vice e empresário José Alencar, e o governo jura que a decisão será técnica. Há ainda quem prefira usar de um certo misticismo e acreditar que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, esteja emitindo "sinais" de que […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h47.

O arrazoado sobre os juros brasileiros não pára de crescer. Os setores produtivos clamam pelo corte, apoiados pelo vice e empresário José Alencar, e o governo jura que a decisão será técnica. Há ainda quem prefira usar de um certo misticismo e acreditar que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, esteja emitindo "sinais" de que os juros vão cair. Há ainda quem prefira fazer cálculos estatísticos para acertar sobre qual será a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.

A equipe de economistas do BBV Banco, chefiada por Octavio de Barros, já acumula um índice de acerto de 75% sobre as decisões do BC. Das 16 reuniões analisadas, em 12 o banco acertou o veredicto da autoridade monetária. Na simulação do banco, o BBV pede uma "ousadia responsável" e sugere que o BC corte a Selic dos atuais 26,5% em 0,5 ponto percentual.

A opinião do banco é, obviamente, compartilhada pelo vice. O empresário mineiro e vice-presidente da república José Alencar está entre os maiores defensores do corte dos juros. Nesta segunda-feira (16/6), em entrevista no programa "Roda Viva", da TV Cultura, Alencar voltou a criticar a política de juros altos, alegando que o Brasil "se esvai em juros e está encabrestado pelos técnicos".

Para Alencar, a inflação já cedeu e os juros altos estão na contramão do mercado internacional, onde as principais economias tentam afasta o risco de deflação. Temos de nos antecipar a recessão que já ocorre em outros países e voltar a crescer o mais rápido possível , disse. A saída neste momento é ter superávit nas exportações para financiar o Balanço de Pagamento e não juros altos, que só servem para aumentar nossa dependência do capital internacional."

Como outros executivos, Antônio Maciel Neto, presidente da Ford, espera um corte nos juros na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). A diferença entre o remédio e o veneno é apenas o tamanho da dose , diz o presidente da Ford. O BC precisa entender que não temos inflação de demanda, mas inflação de custo.

"No último mês, tivemos vários indicativos de que a inércia inflacionária começa a ser quebrada e a valorização do real é sustentável", diz Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria Integrada. "Temos espaço para uma queda de meio ponto percentual na taxa de juros." Há um mês, às vésperas da reunião do Copom, Mailson estava entre os analistas mais cautelosos que recomendavam a manutenção da Selic.

Para grande parte dos analistas, porém, a redução da Selic seria muito mais para mostrar ao país que o governo não quer uma política econômica recessiva do que efetivamente para estimular a economia. "Não há muitas dúvidas que, no médio prazo, o BC terá condições de iniciar cortes na taxa Selic de forma segura. A inflação em queda é a senha para isso. Entretanto está muito difícil antecipar quando se dará esse início de corte", afirma o BBV, que tem a sua equipe técnica comandada pelo economista Octavio de Barros. "A decisão é indiscutivelmente técnica, mas cabe também uma dose de sensibilidade para antecipar o efeito da política monetária sobre os preços."

Se compararmos o cenário econômico em que a reunião de junho será realizada o Copom se reúne nesta terça-feira (17/6) e divulgação a taxa na quarta (18/6), os indicadores objetivos (inflação e dólar) estão muito mais favoráveis para uma redução de juros. O BBV Banco afirma que há espaço para um corte nos juros. Esse medida está sendo chamada pelo banco de uma "ousadia responsável". Mas os economistas do BBV acreditam que a diretoria do BC vai preferir manter a cautela e não alterar a taxa.

A posição do BBV é compartilhada pelo Lloyds TSB, que também acha viável uma redução nos juros, mas não tem certeza de que o BC cederá a pressões (ou a bons indicadores) e manterá a Selic inalterada por mais um mês. O Lloyds TSB exemplifica que, além do dólar e da inflação, vários bancos centrais do mundo estão promovendo corte nos juros básicos como forma de estimular e economia mundial.

O CSFB, em seu relatório especial sobre o Copom, avalia também que o Banco Central manterá mais uma vez a taxa de juros inalterada 26,5% ao ano, sem viés. "A manutenção dos juros não garante o cumprimento da meta de inflação ajustada para 2003 e muito menos da meta de inflação propriamente dita (4%, como mais ou menos 2,5%). Porém, os juros estáveis aumentam a certeza sobre a convergência da inflação para a meta estabelecida pelo Banco Central para 2004 (5,5%)", afirma.

Como fatores positivos para uma manutenção, o banco cita:

a preservação com maior certeza da estabilidade no nível de preços nos próximos meses, demonstrando o compromisso do governo com a rápida convergência da inflação para um patamar mais baixo;

consolidação da imagem de austeridade e competência da atual equipe do Banco Central, que permitirá um nível de crescimento econômico sustentável mais elevado no longo prazo.

"Nesse sentido, é bastante provável que esses benefícios de longo prazo superem os custos da atividade econômica mais fraca no curto prazo", afirma o CSFB.

A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), em encontro neste final de semana, afirmou que o BC deve adotar critérios exclusivamente técnicos para manter ou reduzir os juros, sem ceder a pressões políticas ou de vários setores produtivos. Na abertura da 19ª edição do Congresso Latino-Americano de Comércio Exterior, em São Paulo, o presidente da entidade Gabriel Jorge Ferreira afirmou que, embora os "juros altos não seja bom para economia" por reduzirem a oferta de crédito e aumentarem os riscos de inadimplência, um eventual corte tem de se ater a critérios técnicos.

"As pressões são normais, representam as preocupações dos empresários e outros setores, mas o importante é o Banco Central, mesmo sabendo dessas pressões, ter uma decisão autônoma", afirmou.

O evento teve a presença do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que adotou a campanha do governo e pediu por uma redução dos juros bancários. "Quando nós ultrapassarmos o período de ajustes e começarmos um período de crescimento, onde os juros começam a cair, é necessário que todos os agentes do sistema financeiro acompanhem esse movimento e derrubem também os spreads bancários."

Sobre a Selic, o ministro foi mais vago. "Não sei se cai [taxa Selic] esta semana. Como teve o momento de subida dos juros e o combate à inflação está eficiente, haverá o momento da queda", disse, após abertura da 19ª edição do Congresso Latino-Americano de Comércio Exterior, promovido pela Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).

No entanto, segundo ele, o fato dos índices inflacionários estarem todos convergindo para as metas é uma excelente notícia para o país. "Nós podemos planejar crescimento com inflação sob controle", afirmou.

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