Economia

Alta de juros americanos complica captação externa;para o Brasil

Preferência por títulos americanos, com remuneração cada vez mais alta, e deterioração do interesse dos investidores estrangeiros pelo Brasil irão se;refletir no câmbio, no risco-país e na bolsa de valores

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h16.

A taxa básica de juros dos Estados Unidos, chamada de Fed Funds, subiu 0,25 ponto percentual, para 2,75% ao ano, nesta terça-feira (22/3). O aumento o sétimo consecutivo foi decidido pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), sob o argumento de que as pressões inflacionárias cresceram no último mês, puxadas pelo reajuste generalizado das commodities. Segundo os analistas, a medida iniciará uma reversão do fluxo de capitais dos países emergentes para os títulos do Tesouro americano, com reflexos sobre o câmbio e sobre o risco-país.

"Nos próximos meses, haverá um enxugamento da liquidez internacional para os emergentes", afirma o economista Alex Agostini da consultoria GRC Visão. Após o anúncio do Fed, nesta tarde, o mercado já deu um sinal do que está por vir. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que operava em alta, inverteu sua trajetória e fechou em queda de 2,89%, com 26 618 pontos. O risco-país subiu 1,86%, para 439 pontos, e o dólar comercial fechou em 2,698 reais.

Ontem, os investidores internacionais já davam sinais de que iniciariam uma migração rumo aos títulos americanos. O C-Bond, que vinha sendo negociado acima de seu valor de face desde novembro, se desvalorizou e atingiu a cotação de 99,72% do valor de face. Trata-se da menor cotação desde 16 de novembro, quando o papel foi vendido a 99,84%. Hoje, o C-Bond continuou em queda e encerrou o dia a 98,625% (veja, abaixo, a evolução do C-Bond no último mês).

Futuro incerto

O agravante é que este não será o último aumento dos juros americanos neste ano, segundo os analistas. Até novembro, os juros americanos devem subir para 4% ao ano, segundo a Tendências Consultoria. A evolução da taxa deverá alimentar ainda mais o interesse dos investidores pelos papéis americanos. Apenas nesta terça-feira, os Treasuries (títulos da dívida pública dos Estados Unidos) de dez anos apresentaram alta de dez pontos percentuais, de 4,52% ao ano para 4,62%, como reflexo da nova taxa de juros.

Com os próximos reajustes da Fed Funds, a Tendências espera que a remuneração dos Treasuries suba para 5,5% ao ano até dezembro. Para o Brasil, isso significa que ficará mais difícil para o governo e as empresas brasileiras captarem dinheiro barato no exterior. "Os investidores buscarão os papéis americanos, que oferecem menos riscos e agora estão com taxas mais altas", afirma Alessandra Ribeiro, analista de mercados internacionais da Tendências.

Para convencer o capital estrangeiro a investir em papéis do Brasil, o governo e as empresas precisarão oferecer uma remuneração maior. Por isso, a expectativa é que o risco-país feche o ano em 450 pontos, de acordo com Alessandra. Como a captação de recursos estrangeiros ocorre, principalmente, em dólar, o menor fluxo de capitais para os emergentes pressionará o câmbio. A Tendências espera que a moeda americana feche o ano cotada a 2,75 reais.

Juros brasileiros

Para Agostini, da GRC Visão, o aumento dos juros americanos também complicou o cenário da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para abril. Se, antes, a maioria do mercado apostava que a autoridade monetária manteria a Selic estável no mês que vem, agora a discussão é sobre a intensidade do próximo ajuste. "Ficou mais difícil manter a Selic no mesmo patamar. A dúvida é em quanto o Copom vai reajustar a taxa em abril", diz Agostini.

Na média, o mercado projetava uma Selic de 17% ao ano em dezembro. Para a GRC Visão, será mais difícil que o Copom promova um corte dessa magnitude num momento de juros altos nos Estados Unidos. Por isso, a projeção da consultoria é de juros de 18% ao ano em dezembro no Brasil.

Desempenho recente dos C-Bonds

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Fonte: GRC Visão
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