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Além da imaginação

Por que o mercado financeiro passou do pânico à euforia

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.

  • Veja especial sobre o conflito

    Desarranjos gastrintestinais em combatentes às vésperas de batalhas decisivas são uma regularidade empírica na história da humanidade. É natural, portanto, que os mercados financeiros, extraordinariamente sensíveis a humores e percepções de grande número de participantes, tenham também registrado dores estomacais e diarréias à medida que rufavam os tambores da guerra.

  • As bolsas americana, européia e japonesa experimentaram deterioração sincronizada, atingindo os níveis mais baixos, respectivamente, dos últimos meses, anos e décadas. O aumento dos preços do petróleo, configurando choque adverso de oferta (menos crescimento, mais inflação), veio justamente no pior momento. O Japão, que tenta escapar de duas décadas de estagnação, apontava para um crescimento industrial de 7% ao ano. Isto é, já estava com as mãos abrindo a tampa para sair do caixão. O Federal Reserve prossegue derrubando taxas de juro, atraindo para o mesmo jogo o Banco Central Europeu, e uma recidiva inflacionária com queda de produção e de emprego pelo choque do petróleo seria simplesmente desastrosa.

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    Era nesse ambiente de deterioração de expectativas que caíam os mercados acionários, o dólar despencava diante das principais moedas, subiam o petróleo e o ouro -- a relíquia bárbara que se alimenta de inflação, maior incerteza e riscos geopolíticos.

    Como as grandes batalhas acabaram ocorrendo, é razoável a hipótese de que, pouco antes da deflagração do conflito, uma estimulante descarga de adrenalina e uma seqüência de sinapses no sistema límbico produziram o estado de euforia típico dos combatentes, tirando-os, literalmente, da fossa em que pouco antes se encontravam.

    Pois o mesmo fenômeno acaba de ocorrer pouco antes da deflagração do conflito dos Estados Unidos contra o Iraque. Os mercados financeiros ensaiaram uma ciclópica inversão de tendências. Explosão para cima nos mercados acionários, desabamento das principais moedas diante do dólar, implosão nos preços do petróleo e do ouro. Uma sensação de euforia histérica, em busca de alívio para os meses de tensão acumulada à espera do trágico desfecho. A mensagem dos mercados é clássica: "Venha o que vier, não pode ser pior do que imaginamos antes. Está tudo nos preços".

    O que importa para os mercados é sempre a dissonância entre a percepção e a realidade. Se a dramática realidade da guerra, quando chega, é menos terrível que a percepção já embutida nos preços, um fenômeno aparentemente paradoxal ocorre: a guerra é "comemorada" (rápida e cirúrgica: mais breve e menos cruel que o esperado).

    E quais são os efeitos na economia brasileira? Se agora, com o início efetivo da guerra, os mercados confirma rem a inversão de tendências já ensaiada, as implicações são extremamente favoráveis. Embora soprem contra os ventos externos, os mercados indicam que o pior já passou. O preço do petróleo, a aversão ao risco nos mercados acionários e o risco Brasil já teriam passado pelos pontos mais altos. Como também teriam atingido o pico o preço do dólar em nosso mercado cambial, as expectativas inflacionárias e a taxa de juro estabelecida pelo Banco Central.

    É sensato creditar a melhora do risco Brasil a fatores internos (a opção de Lula por Palocci, descartando qualquer Plano B) e externos (o aumento da procura de fundos de renda fixa nos Estados Unidos e a redução do prêmio de risco de companhias e países emergentes). Mas também é plausível que o desempenho relativamente favorável de nossos mercados (acionário, cambial e de títulos da dívida) deva-se em parte à síndrome da ciclotimia "pânico-euforia" que assola os mercados internacionais.

    A psicologia dos mercados imaginou o pior do governo do PT e constata agora a determinação do alto comando do partido em busca de superávit fiscal, flexibilidade cambial, metas inflacionárias e reformas estruturais. Passou-se do pânico à euforia. Por enquanto, nem a guerra nem o governo Lula são tão feios quanto se pensava.

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