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Agricultores australianos tentam curar feridas após incêndios

Grande parte das áreas queimadas na Austrália eram usadas na pastagem

Austrália: incêndios gigantescos que ocorrem desde setembro na Austrália já causaram 28 mortes (Brett Hemmings / Correspondente/Getty Images)
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AFP

Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 15h45.

Depois que o fogo devastou a ilha Kangaroo, um santuário da fauna e flora australianas, o agricultor Rick Morris teve que enfrentar uma tarefa especialmente dura e enterrar 400 das ovelhas de sua fazenda, incendiada. "E estou no lado dos que tiveram sorte", comenta.

Os incêndios gigantescos que ocorrem desde setembro na Austrália já causaram 28 mortes, duas delas na ilha Kangaroo, e devoraram 10 milhões de hectares, uma superfície superior à Coreia do Sul ou Portugal.

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Grande parte das áreas queimadas eram usadas na pastagem. O gado australiano supera 100 mil cabeças, das quais pelo menos 43 mil se encontram na ilha Kangaroo, segundo estimativas oficiais.

Agricultores como Rick Morris, que explora 930 hectares, sofreram três incêndios em 10 dias. "Vimos toda a fúria da mãe natureza", disse Morris, que preside a Câmara de Agricultura da ilha.

Feno por helicóptero

O fogo varreu "a ilha do lado sul ao lado norte. Fico surpreso de não ter havido mais mortes", comentou Morris.

O Exército australiano, que mobilizou 3 mil homens para prestar assistência às áreas atingidas do país, transportou pelo ar os bombeiros à ilha Kangaroo. Também lançou pacotes de feno de helicópteros para agricultores da ilha isolados do mundo.

Para o general Damian Cantwell, que dirige a força conjunta de luta contra incêndios na Austrália, a ilha Kangaroo tem "um longo caminho pela frente" até se recuperar. "Vi um nível de destruição que ainda me surpreende", declarou à AFP. "Muitos agricultores estão em apuros, muita gente sofre, algumas famílias perderam tudo", lamentou.

A atividade agrícola na ilha Kangaroo representa 150 milhões de dólares australianos (103 milhões de dólares americanos) em volume de negócios. A agricultura é o principal empregador da ilha, e os incêndios deixaram um rastro duradouro, assinalou o agrônomo local Daniel Pledge, segundo quem os camponeses terão que comprar suplementos para o gado e sementes para os lotes incendiados. Além disso, seus animais serão menos férteis devido ao estresse sofrido.

"É um efeito bola de neve que não podemos medir. Estamos muito preocupados com a economia local. Para alguns indivíduos, estes efeitos poderão durar até cinco anos", indicou Pledge.

Os agricultores australianos sofreram com uma seca prolongada, que afetou o acesso à água no sudeste do país. Para Fiona Simpson, que preside a Federação Nacional da categoria, todos os agricultores australianos estão sob pressão. "Seja pela seca ou pelos incêndios recentes, as condições de aridez empurram muitos de nossos agricultores para o limite. A situação piora a cada dia e não há sinais de melhora."

O governo prometeu uma ajuda imediata aos agricultores de 75.000 dólares australianos dos 2 bilhões destinados ao fundo nacional de apoio à reconstrução nos próximos dois anos. Segundo Rick Morris, a ajuda será bem-vinda na ilha Kangaroo. Enquanto isso, ele mantém seu rebanho confinado (restaram a ele 4.500 cabeças de gado) até que o fogo deixe de representar uma ameaça.

Os agricultores da ilha, que sofreram graves danos psicológicos e financeiros, deverão ver algumas explorações desaparecerem, mas muitos olham com otimismo para o futuro.

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