Economia

Acusações partem de "pessoas sem limites", afirma Palocci

Em sua primeira aparição pública desde o agravamento da crise política, o ministro da Fazenda afirma que as conquistas econômicas não são obra sua e prevê eleições agressivas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h16.

Após uma semana acuado no Palácio do Planalto, para onde se transferiu para escapar do assédio da imprensa, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, atribuiu as denúncias de que participaria de um esquema de distribuição de dinheiro e caixa 2 do PT a "pessoas que, dentro do jogo político, não têm limites e não vêem limites entre investigar o que é justo e perseguir".

As respostas aos ataques que vem sofrendo nos últimos dias foram dadas durante a cerimônia de posse dos novos conselheiros da Câmara Americana de Comércio (Amcham), em São Paulo. Palocci preferiu deixar o discurso que escrevera de lado - classificado por ele como "muito longo e muito chato" - e optou por ter uma "conversa franca" com os presentes. "Vou deixar a razão de lado e deixar mais o coração falar", afirmou.

Em um pronunciamento improvisado de aproximadamente 40 minutos, Palocci afirmou que os fundamentos do Brasil melhoraram, o que permite uma "dicotomia". "Temos uma economia que começa a voar em céu de brigadeiro e um ministro da Fazenda que está mais para o lado do inferno", afirmou, arrancando risos da platéia.

Disputa exagerada

A exemplo de outros momentos em que foi alvejado por denúncias - como a suposta mesada de 50 mil reais recebida da empresa Leão Leão - Palocci voltou a afirmar que não é insubstituível e que a estabilidade econômica é fruto de um esforço de todos os governos que o precederam. "Não julgo que essa maturidade econômica seja apenas resultado do meu período ou de meu trabalho. É um esforço que governos e mais governos fizeram, e que permitiu que o Brasil atingisse políticas com um grau de estabilidade mais permanente do que as pessoas", disse.

Para o ministro, o acirramento dos ataques é reflexo de um ano político que promete ser mais "agressivo" que os anteriores. "Neste momento, as forças políticas encontram-se num conflito extremamente negativo para o país", afirmou. O aumento da disputa está levando a atitudes exageradas, segundo Palocci. "Penso que as coisas que são naturais em um ano político às vezes chegam a um nível de exacerbação além do razoável", disse.

Palocci também tentou justificar seu afastamento da imprensa nos últimos dias. Segundo ele, isso foi um modo de preservar o Ministério da Fazenda e separar a crise política da condução da economia. "Eu não posso, como ministro da Fazenda, responder a todo tipo de acusação baixa e ofensas que são apresentadas no jogo politiqueiro. [Se o fizesse] Aí sim, comprometeria a economia", afirmou. Palocci também criticou uma parcela da imprensa. "Alguns jornalistas fazem pré-julgamentos. Ofendem pessoas e ofendem famílias", disse.

Apesar de se dirigir explicitamente aos jornalistas que participavam da cerimônia para se justificar, Palocci evitou um contato direto com a imprensa. A pedidos do ministério, a organização do evento segregou os profissionais de mídia em uma área distante da mesa de Palocci, que entrou e saiu sem responder a nenhuma pergunta. A requisição original dos assessores da Fazenda era que a imprensa não permanecesse, sequer, no mesmo ambiente de Palocci, sendo acomodada em uma sala à parte - o pedido foi negado pela Amcham.

Repercussões

Os empresários presentes ao evento mostraram confiança de que a crise política não afetará a economia, mesmo que Palocci deixe o gabinete. "A proposta de estabilidade econômica é do governo. Acredito que as políticas sejam independentes de nomes", afirmou Hélio Magalhães, presidente do conselho de administração da Amcham, antes do início da cerimônia.

Para Francisco Gros, ex-presidente do Banco Central e da Petrobras, e atual membro do conselho de administração do Ponto Frio, os investidores já mostram que separaram Brasília do resto do Brasil. "Enquanto a política econômica for mantida, a presença física deste ou daquele ministro já não tem mais a mesma importância", declarou ao final do evento.

As críticas mais pesadas partiram de João Carlos de Souza Meirelles, secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Representante do governador Geraldo Alckmin no evento, Meirelles afirmou que "não é Palocci que está mantendo a economia longe da crise, mas a economia que está longe do ministro".

Meirelles negou que a crise política seja obra do PSDB, interessado em desestabilizar Lula para conquistar a presidência. "A crise foi gerada pelo PT e pelo governo", afirmou.

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