Economia

Acordo entre UE e Mercosul pode render R$ 50 bi para agricultura

Até 2025, os europeus ampliariam em 29 bilhões de euros suas compras de produtos agrícolas de países envolvidos em acordos comerciais

Agricultura: o estudo foi preparado para informar aos governos do bloco europeu sobre as consequências dos acordos entre eles o Mercosul (Wikimedia Commons/Reprodução)

Agricultura: o estudo foi preparado para informar aos governos do bloco europeu sobre as consequências dos acordos entre eles o Mercosul (Wikimedia Commons/Reprodução)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de novembro de 2016 às 16h15.

Genebra - As exportações do Mercosul para a Europa poderiam aumentar em 14 bilhões de euros (R$ 50,3 bilhões) em dez anos, graças a um acordo comercial entre as duas regiões.

Os dados foram publicados pela própria Comissão Europeia que, em um estudo sobre o impacto dos tratados que negocia, revela que o Mercosul seria o bloco que mais ganharia em termos de vendas de bens agrícolas.

O estudo foi preparado para informar aos governos do bloco europeu sobre as consequências de doze tratados bilaterais e regionais que Bruxelas está negociando com diversos parceiros, entre eles o Mercosul.

O levantamento foi solicitado por governos, liderado pela França, que querem uma interrupção de qualquer iniciativa que possa significar a abertura de seu mercado para a concorrência externa no setor agrícola.

O estudo, apesar de apontar para os benefícios ao Mercosul, revela que a Europa teria importantes ganhos em praticamente todas as negociações que está implicada, inclusive no setor agrícola.

A estimativa aponta que, até 2025, os europeus ampliariam em 29 bilhões de euros suas compras de produtos agrícolas de países envolvidos em acordos comerciais com Bruxelas. Metade viria do Mercosul, mesmo com um tratado modesto e sem amplos cortes.

No total, isso representaria um salto em 24% nas exportações do Cone Sul para o mercado europeu. No caso de um pacote ambicioso de liberalização, o total de ganhos para o Mercosul chegaria a 18 bilhões de euros.

Os ganhos do bloco sul-americano com um acordo, na estimativa dos próprios europeus, seriam quase três vezes maiores do que os americanos poderiam obter no setor agrícola com um eventual tratado de comércio com a UE.

Segundo as estimativas oficiais de Bruxelas, os exportadores dos EUA registrariam um incremento em 4,8 bilhões de euros em vendas até 2025.

Um dos principais ganhos viria do setor de carnes. No segmento de produtos bovinos, o estudo da UE estima que "mais de 80% do aumento de importações viria do Mercosul".

"A balança de comércio se deteriorará profundamente", admitiu a Comissão Europeia. O aumento em vendas para o bloco do Cone Sul seria de pelo menos 1,4 bilhão de euros.

Outros 900 milhões de euros ainda seriam gerados no aumento de espaço para a carne suína e frangos do Mercosul no mercado europeu.

Entre os diversos setores avaliados, o estudo também indica que mesmo uma abertura limitada da economia da UE garantiria um aumento de vendas para o Brasil de 340 milhões de euros em açúcar.

O processo negociador entre os dois blocos foi relançado em outubro, depois de 12 anos parado. O governo brasileiro acredita que serão necessários dois anos para concluir um eventual acordo.

Mas a resistência será forte. Nesta quarta-feira, 30, por conta dos resultados do estudo da UE, as Cooperativas Agrícolas da Europa anunciaram que vão se opor a uma abertura ao Mercosul.

"O setor de carnes garante renda para 2,5 milhões de famílias pela Europa", disse Jean Pierre Fleury, o presidente das cooperativas, Copa & Cogeca, lembrando que o setor movimenta 30 bilhões de euros. "Isso precisa ser preservado", insistiu.

Segundo ele, o estudo da Comissão "confirma o impacto catastrófico" que teria um acordo comercial da Europa com o Mercosul.

"Acreditamos que um acordo como esse pode afetar severamente o setor europeu", disse.

Em 2015, as exportações brasileiras para a UE alcançaram US$ 33,9 bilhões, 19,3% menos que no ano anterior. A participação da União Europeia nas exportações nacionais também caiu de 18,7%, em 2014, para 17,8%, em 2015.

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