A profissão de contabilista ficou mais complexa

A imagem dos contadores está em baixa nos Estados Unidos. Mas o país não precisa de menos auditores, mas mais deles, diz Seymour Jones, professor de contabilidade e diretor-adjunto do Instituto de Pesquisa em Contabilidade da Escola de Administração da New York University:

EXAME - É preciso mudar as leis americanas que regem a contabilidade das empresas e o mercado de ações?

Seymour Jones - Na minha carreira de contador, trabalhei por quase 40 anos como contador. Sempre acreditei que dispúnhamos de leis suficientemente boas para dar conta de questões como essas, mas vejo que estava errado. Passei a acreditar que precisamos de uma supervisão governamental mais rigorosa em relação a práticas contábeis e de auditoria. Portanto, apesar de ser contra uma legislação excessivamente detalhista, hoje defendo um aumento da regulamentação nesse campo. Agora vemos o pêndulo oscilar para a direção de mais controle governamental, numa espécie de reação aos escândalos. O governo e o mercado de capitais querem mostrar ao público que ele pode voltar a confiar no mercado de ações. O governo Bush, marcadamente favorável a um menor grau de controle do Estado sobre a economia, teve de acabar cedendo espaço para os defensores de uma regulamentação mais forte. É importante perceber que toda a bancada republicana do Congresso americano votou favoravelmente a uma lei que estabelece punições duras e regras mais rigorosas para os chamados crimes do colarinho branco.

EXAME - No passado, a profissão de contador não despertava o mesmo grau de interesse que a de advogado ou administrador de empresas. Que tipo de impacto a crise atual trará para os contadores e escolas de contabilidade nos Estados Unidos?

Seymour Jones - Sempre achei minha profissão muito excitante! (Risos) Bem, acredito que tanto as regras que regem a profissão quanto as nossas ferramentas de trabalho se tornaram muito mais complexas com o passar dos anos. E, quanto mais complexas se tornam as finanças, com o surgimento de operações como derivativos, mais complicadas se tornam as transações e também as leis. Por isso, também ficou proporcionalmente mais complicado saber se as empresas estão cumprindo as regras. Estou realmente preocupado porque meus alunos, que são jovens, me perguntam se faz sentido entrar para essa profissão que é tão complexa e, se alguma coisa der errada, o auditor vai ser considerado culpado. A resposta que dou para eles é que o país não precisa de menos auditoria e menos auditores, mas justamente mais auditoria e mais auditores. Nossa profissão consiste em apurar a verdade dos números e ver se eles fazem sentido do ponto de vista do negócio que está sendo realizado. Com mais auditores, teremos muito menos escândalos como esses.