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4 sinais que a Rússia já paga caro pelas aventuras de Putin

Enquanto seu líder surfa na popularidade, a economia russa sofre com crescimento baixo e uma perda de confiança que deve sair caro no futuro

Praça Vermelha em Moscou, Rússia: economia do país já sofre com instabilidade (Wikimedia Commons)

João Pedro Caleiro

Publicado em 10 de abril de 2014 às 15h55.

São Paulo – A julgar pelo ângulo político, a ousadia de Vladimir Putin no leste europeu está rendendo altos dividendos.

Sua tomada da Crimeia , península da Ucrânia , foi aprovada por referendo popular e gerou apenas reações tímidas das potências ocidentais.

Enquanto isso, sua aprovação em casa foi turbinada para mais de 80% (ajuda, é claro, o fato de que a Rússia não tem imprensa livre nem uma democracia de fato).

Com o aparente sucesso da ofensiva russa - e a retórica triunfal do seu líder - é fácil de esquecer que a economia do país tem muito a perder com os eventos recentes. Veja alguns sinais:

1. Queda no crescimento

Desde a invasão da Crimeia, bancos e órgãos internacionais revisaram suas projeções de crescimento da Rússia em 2014 – sempre para baixo.

O FMI , que em janeiro previa uma expansão da economia russa na ordem de 2%, agora espera 1,3%.

Já o Citi derrubou sua previsão de 2,6% para meros 1% - ainda menos do que os já magros 1,4% do ano passado.

2. Fuga de capital

Nos três primeiros meses deste ano, nada menos que US$ 63 bilhões deixaram a Rússia. É praticamente o mesmo número de 2013 inteiro.

O movimento é causado em parte por residentes que querem converter seus rublos em dólares. A demanda por moeda estrangeira atingiu US$ 19 bilhões no primeiro trimestre: o maior número desde o quarto trimestre de 2008, no auge da crise financeira.

De acordo com a Reuters, a confiança dos empresários também está nos níveis mais baixos desde aquela época.


3. Crise no mercado financeiro

O MICEX, principal índice da bolsa russa, caiu 10% desde meados de fevereiro. Já o rublo caiu 7,8% desde o início do ano.

As três grandes agências de classificação de risco - Fitch, Moody's e Standard & Poor's - rebaixaram a perspectiva da nota soberana da dívida russa.

O governo russo está incentivando as empresas do país a saírem de bolsas estrangeiras e transferirem seus recursos para a bolsa de Moscou. A ideia é que assim elas ficariam menos vulneráveis a novas sanções - que por enquanto, estão focadas em indivíduos e instituições próximas a Putin e não na economia como um todo.

4. Perda de credibilidade

Alguém poderia argumentar que a Rússia perde no curto prazo, mas ganha no longo – afinal, a Crimeia tem recursos naturais da ordem de US$ 10 bilhões (segundo a própria Ucrânia) e importância estratégica como sede de bases militares.

O problema é que Putin já provou que está disposto a usar a energia como arma política -  aumentando, por exemplo, o preço do gás para a Ucrânia em 80% de uma tacada só.

Os vizinhos estão de olho: afinal, um terço do gás natural consumido na Europa vem da Rússia. Em países como a Suécia e a Finlândia, é 100%. Pior: a maior parte é enviada por oleodutos que passam pela Ucrânia.

A Europa já estava buscando formas de se livrar desta dependência, um esforço que agora deve se acelerar. Isso é péssimo para a Rússia, que depende das exportações de óleo e gás para metade da sua receita total.

"Putin está prestes a descobrir que quando você está liderando um petroestado autoritário, lucros de energia são poder", escreve James Surowiecki na revista New Yorker.

São Paulo – Vladimir Putin apoiou o referendo na Crimeia sobre sua independência da Ucrânia afirmando que, assim, protegia os ucranianos de origem russa que ali viviam. Disse, também, que a manobra corrigia um erro histórico da época da União Soviética, quando a Crimeia foi “dada” à Ucrânia. Para Putin, a região sempre pertenceu à Rússia. Por essa lógica “histórica”, alguns outros países também poderiam reivindicar terras russas - que lhes foram tomadas décadas atrás após invasões, conquistas, guerras e negociações. Dessas regiões, algumas estão em franca disputa, outras são negociadas de maneira mais amena e, outras, estão sob total domínio russo e ninguém pensa em um conflito. Mas seus antigos donos poderiam tentar pegá-las de volta, se assim quisessem. Veja quais são:
  • 2. 1. Ilhas Kuril

    2 /16(Wikimedia Commons)

  • Veja também

    País que as reivindica: Japão As Ilhas Kuril estão localizadas ao norte do Japão e ao sudeste russo. Um século atrás, japoneses e russos assinaram um acordo dizendo que as quatro ilhas eram território japonês. Contudo, depois da Segunda Guerra Mundial, a Rússia tomou a região de volta e expulsou os japoneses que moravam ali em 1949.

  • 3. Ilhas Kuril

    3 /16(GoogleMaps)

  • Em uma das ilhas, há uma base militar russa. Em outra, há uma comunidade de 30 mil russos. O governo japonês nunca desistiu de reivindicar a posse das ilhas e desde os anos 1940 tenta, por vias diplomáticas, resolver o impasse. Tecnicamente, a Segunda Guerra Mundial não acabou para os dois países.
  • 4. 2. Ilha Bolshoi Ussuriysky

    4 /16(Wikimedia Commons)

    País que a reivindica: China A ilha Bolshoi Ussuriysky fica no Rio Ussuri, na ponta do extremo leste chinês, na fronteira com a Rússia. Após um impasse de décadas, os dois países fizeram uma redefinição de fronteiras em 2008. A Rússia cedeu a ilha Tarabarov e metade da ilha Bolshoi Ussuriysky.

  • 5. Ilha Bolshoi Ussuriysky

    5 /16(GoogleMaps)

    A União Soviética ocupara a região em 1929. Desde 1960, o governo chinês começou a pressionar o país para mudar as fronteiras. Ainda falta que metade da ilha vá par ao lado chinês.
  • 6. 3. "As 64 vilas do Rio Zeya"

    6 /16(Wikimedia Commons)

    País que as reivindica: China O apelido das "64 vilas" se refere às moradias presentes na região.  As vilas se localizam na margem direita do Rio Zeya. Do outro lado, está a cidade russa de Blagoveshchensk.  A região era chinesa, mas durante o Império Qing, foi cedida aos russos em 1858, após um conflito.

  • 7. "As 64 vilas do Rio Zeya"

    7 /16(GoogleMaps)

    Em 1991, o governo chinês decidiu que não reivindicaria mais as terras tomadas. Contudo, em Taiwan, a decisão nunca foi reconhecida e o governo chinês local continua a exigir a devolução da região. Há mapas em Taiwan que mostram a região como chinesa.
  • 8. 4. Distrito de Pytalovsky

    8 /16(Wikimedia Commons)

    País de origem: Letônia A região da Letônia viveu séculos de ocupações, até definir suas fronteiras no começo dos anos 1920. Durante a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética anexou o país e ainda tirou parte de suas terras, Pytalovsky, dizendo que ali a maioria era russa e, portanto, deveria ser território russo.

  • 9. Distrito de Pytalovsky

    9 /16(GoogleMaps)

    Mesmo com o fim da União Soviética e a independência da Letônia, o país não recebeu suas terras de volta. Em 2007, a Letônia aceitou deixar as fronteiras como estão. Mas poderia reivindicar a região novamente, se quisesse. Muitos moradores locais se identificam com a cultura da Letônia, não russa, e protestam até hoje.
  • 10. 5. Ivangorod

    10 /16(Keystone/Getty Images)

    País de origem: Estônia Em 1945, a cidade de Ivangorod se separou da cidade de Narva, divididas pelo Rio Narva. Elas pertenceram à Estônia até a União Soviética tomar a região e considerar que o rio seria a fronteira entre eles. Assim, as duas cidades ficaram separadas, cada uma em um país.

  • 11. Ivangorod

    11 /16(GoogleMaps)

    Após o fim da União Soviética, a Estônia tentou redefinir as fronteiras, como eram antes de 1945. Sem sucesso. Em 2010, os moradores de Ivangorod também tentaram voltar ao domínio estoniano, mas não conseguiram.
  • 12. 6. Karelia

    12 /16(Wikimedia Commons)

    País de origem: Finlândia Antes de começar a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética reivindicou terras do sul da Finlândia, na região de Leningrado, cidade estratégica do império. A Finlândia recusou ceder as terras, que acabaram sendo invandidas e tomadas em 1939 - em uma guerra que matou milhares.

  • 13. Karelia

    13 /16(GoogleMaps)

    A maior parte desse território perdido era a província de Karelia (Karjala). Junto, a segunda maior cidade finlandesa naquele tempo, Viipuri. Os russos batizaram Viipuri de Vyborg. Os finlandeses, com ajuda dos nazistas, até recuperam as terras, mas foram retomadas após o fim da guerra. Até hoje há grupos políticos que reivindicam as terras de volta.
  • 14. 7. Kaliningrado

    14 /16(Harry Engels/Getty Images)

    País de origem: Prússia (Alemanha) A região de Kaliningrado não está conectada ao restante do território russo, cercada pelo Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. Por séculos, foi uma região prússia, de expressão alemã, chamada Königsberg. A região foi tomada pelas tropas russas dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.

  • 15. Kaliningrado

    15 /16(GoogleMaps)

    A região foi para os braços dos russos com o fim da guerra. Os residentes germânicos foram imediatamente expulsos. Ao mesmo tempo, imigrantes russos foram enviados para a cidade - rebatizada de Kaliningrado, em homenagem ao líder Mikhail Kalinin. Hoje, é uma ilha russa no meio da Europa.
  • 16. Agora veja o que Putin pensa sobre a Crimeia

    16 /16(REUTERS/Baz Ratner)

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