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2019 já é um ano perdido para a economia, diz Mendonça de Barros

Para o economista, se a economia fiscal da reforma da Previdência em 10 anos for reduzida de R$ 1 tri para menos de R$ 500 bi, país não volta a crescer

Mendonça de Barros: “O custo já está pago, infelizmente (Flávio Santana / Biofoto/Exame)

Ligia Tuon

Publicado em 15 de abril de 2019 às 11h56.

Última atualização em 15 de abril de 2019 às 15h23.

São Paulo - O ano de 2019 está perdido para a economia, na avaliação de José Roberto Mendonça de Barros , fundador da MB Associados.

“O custo já está pago, infelizmente. Agentes econômicos já estão revendo para baixo o avanço do PIB deste e dos próximos anos, o mercado de trabalho não deve melhorar e as empresas vão continuar tendo dificuldades com isso”, disse o economista em debate no Fórum VEJA EXAME 100 dias de governo, nesta segunda-feira, 15.

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Um sinal importante de que a avaliação de Mendonça de Barros vai no caminho certo é a publicação do IBC-BR, visto como uma prévia do PIB, feita hoje pelo Banco Central.

O índice apresentou recuo de 0,73% em fevereiro na comparação com o mês anterior, segundo a instituição. Foi o segundo mês de queda seguido e o pior resultado para o indicador desde uma queda de 3,1% vista em maio de 2018.

O boletim Focus também reduziu sua expectativa para o PIB nesta segunda-feira pela sétima vez consecutiva, de 1,97% para 1,95% este ano. O Itaú revisou sua previsão de 2% para 1,3%.

O problema que começou a aparecer, segundo o economista, é que o presidente Jair Bolsonaro esfria um pouco a forma como a reforma da Previdência está sendo apresentada. "Primeiro, disse que preferia não fazer a reforma, agora, a regra para aposentadoria rural e o BPC já estão fora antes de começar a tramitação praticamente. Isso é um problema. Acaba com o discurso de que todo mundo vai ter sacrifício", afirma Barros.

Para o Mendonça de Barros, se a economia fiscal da reforma em 10 anos for reduzida de cerca de R$ 1 trilhão para menos de R$ 500 bilhões, o Brasil não volta a crescer. Se ficar em algo em torno de R$ 800 bilhões, “não é o ideal, mas o país pode crescer 3% em 2020, impulsionado por investimentos”.

Para ele, a reforma é boa, a equipe econômica é boa, o trabalho do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é positivo, mas nada disso será suficiente para acelerar a tramitação do projeto, que "vai levar o ano inteiro para ser aprovada no Congresso".

Ele também destacou que não é possível saber o resultado do choque entre alas do governo Bolsonaro:

"O programa do Paulo Guedes é muito mais do que um programa liberal, ele tenta fazer uma revolução liberal, mas o presidente não é liberal".

Além da agenda fiscal do governo, Daniel Goldberg, sócio-diretor da gestora Farallon Capital, destacou a necessidade de uma agenda de produtividade do setor privado e do setor público.

Segundo ele, se, de um lado, esse primeiro ainda se beneficia de "um pacotão de medidas maduras dos governos anteriores", na forma de reformas microeconômicas, o segundo depende da "eliminação de regras e subsídios que destroem a economia", e da capacidade de o governo se relacionar com o Congresso.

"A tabela de frete está distorcendo os preços mais importantes da economia. E o governo está pagando centenas de dezenas de reais por causa disso", diz.

"É fácil dizer que vai eliminar privilégios e subsídios, mas, quando você se defronta com a realidade, a história é outra (...) Mexer com privilégios tributários, por exemplo, não é mole. Tem que mobilizar o Congresso e fazer política com P maiúsculo. Sabemos que isso é difícil para o atual governo", completa.

Na previsão de Goldberg, se o país aprovar uma reforma da Previdência "meia boca", com economia de até R$ 600 bilhões em 10 anos, vamos nos arrepender quando a liquidez da economia global piorar. "Hoje, o carro está subindo a rampa, mas não temos chuva, os pneus estão bons, não há lama. Quando o cenário mudar, vamos olhar para trás e dizer: Tivemos a oportunidade de acertar (com a aprovação de uma reforma a melhor)."

Iniciativas

Carlos Alexandre Da Costa, secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, fez uma palestra no evento e listou iniciativas que vem comandando.

Entre elas estão a ampliação do programa Brasil mais Produtivo, que busca elevar a produtividade dos processos internos das empresas, assim como a unificação e revisão do sistema nacional para conectar empresas e trabalhadores (o "Tinder" do emprego).

O secretário estimou que cerca de metade das medidas dependem do Legislativo e destacou uma mudança de rumo do "dirigismo" de governos anteriores. Sua visão é oposta: “o problema está no governo e a solução está na iniciativa privada”.

Questionado sobre choques de alas nacionalistas com os liberais dentro do governo, o secretário disse que houve um entendimento interno do "risco de um governo grande nas mãos erradas”.

Ele citou nominalmente o general Floriano Peixoto, ministro da secretaria-geral da Presidência, como alguém com "visão extraordinária de abertura da economia".

Depois da palestra, afirmou que não cabe a ele ser avaliador do presidente, mas que se a agenda liberal é possível é porque Bolsonaro está comprometido com ela.

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