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Por que a democracia é um pressuposto da estratégia ESG?

Estudo aponta que apenas 6,4% da população global vive em uma democracia absoluta e mais de 37% das pessoas vivem em regimes autoritários absolutos

A escuta de perspectivas diversas tem muito a ensinar às empresas sobre a verdadeira sustentabilidade (Divulgação/Shutterstock)
A escuta de perspectivas diversas tem muito a ensinar às empresas sobre a verdadeira sustentabilidade (Divulgação/Shutterstock)
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Rodrigo Santini

Publicado em 31 de agosto de 2022 às, 14h07.

Última atualização em 31 de agosto de 2022 às, 16h50.

Por Rodrigo Santini, Denise Hills e Sergio Serapião assinam a coluna deste mês*

Falar sobre a defesa da democracia como ponto central das práticas ESG (Environmental, Social and Governance, que, numa tradução livre, significa ambiental, social e governança) é significativo no contexto no qual o mundo observa uma queda da força desse modelo de governo. Segundo o índice Economist Intelligence Unit´s Democracy 2021, a América Latina foi a região mais afetada no mundo. O índice mostra que apenas 6,4% da população global vive em uma democracia absoluta e, no outro extremo, mais de 37% das pessoas vivem em regimes autoritários absolutos.

Nesse contexto, o setor empresarial tem papel determinante para não permitir retrocessos de qualquer natureza na, relativamente recente, democracia brasileira. Entendendo que as práticas ESG são essenciais — como parte da estratégia da empresa — é condição sine qua non entender que para que elas sejam colocadas em prática, depende-se da garantia de uma sociedade participativa, transparente e democrática.

A escuta de perspectivas diversas tem muito a ensinar às empresas sobre a verdadeira sustentabilidade; é apenas no exercício da democracia em sua melhor versão que será possível incluir pluralidade de vozes.

No aspecto ambiental, as práticas ESG compreendem o meio ambiente não como mero recurso financeiro, mas reconhecem seu equilíbrio como primordial para a vida humana. Se estamos falando de participação social, a sigla também pede consideração justa a perspectivas indígenas, quilombolas, ribeirinhas e tantas outras que vivem numa relação simbiótica com ecossistemas que precisam ser protegidos. Como falar de extrativismo sem que aqueles que vivem nas regiões de extração possam expressar suas questões? Como falar de impacto periférico se a periferia não tem protagonismo conjunto nas reuniões?

Outra preocupação do ESG ligada à garantia da democracia no campo social é a participação ativa da sociedade civil e das organizações sociais, uma vez que ajudam a direcionar movimentos empresariais ao representarem e defenderem causas diversas de interesse coletivo. Todos precisam ter vozes ativas na construção de um novo modelo econômico.

ESG deve ser, antes de tudo, sobre uma governança transparente. Assim, as agendas não devem ser ocultas e as conversas acontecem de portas abertas, para que grupos interessados possam opinar, criticar e construir as novas práticas de impacto positivo. A democracia equilibra a influência dos três setores, permitindo o diálogo entre eles.

O Movimento B defende uma nova economia, um capitalismo de stakeholders, em que diversos atores participam das decisões, com transparência, liberdade e a segurança de poderem se posicionar sem sofrerem represálias ou serem calados.

Com questões globais que desafiam a sobrevivência de muitas espécies, incluindo a humana, temos que, cada vez mais, pensar coletivamente, distribuir poder. No entanto, esse ainda é um tipo de alinhamento relativamente novo para as empresas, tradicionalmente orientadas apenas ao capital.

Não é mais aceitável que empresas fiquem alheias ao bem-estar coletivo e trabalhem apenas para mitigar seus impactos negativos. Fomentamos o protagonismo empresarial que é capaz de co-construir um sistema econômico mais inclusivo, regenerativo e equitativo com participação ativa de todos os envolvidos. Pois para além das empresas, somos todos - CEOs, acionistas, consumidores - sociedade civil. Cuidar da sociedade e do planeta é, na verdade, pensar em cada um de nós. A urgência dessa perspectiva deve pautar todas as nossas decisões.

*Rodrigo Santini é Diretor Executivo do Sistema B Brasil; Denise Hills e Sergio Serapião são co-presidentes do Conselho Deliberativo do Sistema B Brasil.

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