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Por que não estamos falando sobre as transições de governo?

À medida que prefeitos eleitos se preparam para assumir, a forma como conduzem a transição revela suas prioridades e capacidade de liderança

Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva: transição entre os governos dos dois, no fim de 2002, mostrou como um processo bem coordenado pode consolidar a estabilidade nacional (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva: transição entre os governos dos dois, no fim de 2002, mostrou como um processo bem coordenado pode consolidar a estabilidade nacional (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)

Vivemos um momento singular na gestão pública, com as transições de governo municipal trazendo oportunidades e desafios significativos. Foram eleitos prefeitos em 5.569 municípios que agora se preparam para assumir seus mandatos.

Desses, milhares estarão enfrentando pela primeira vez o desafio de iniciar uma nova administração, enquanto outros lidam com a responsabilidade de continuar e aprimorar gestões em andamento. Apesar de sua importância, as transições ainda não recebem a atenção devida no debate público.

À medida que prefeitos recém-eleitos se preparam para assumir seus mandatos, a maneira como conduzem esse período de transição é um indicador importante de suas prioridades e capacidade de liderar.

Essa fase, que se estende entre a eleição e a posse, vai muito além de um procedimento formal; ela tem o potencial de estabelecer as bases para uma administração eficiente, alinhada às necessidades da população e à construção de políticas públicas de longo prazo.

A transição não deve ser vista apenas como uma troca de gestão, mas como uma oportunidade estratégica para revisar políticas, organizar informações e assegurar a continuidade de serviços essenciais.

Para além de manter o funcionamento imediato das administrações, é o momento de se pensar em planos que transcendam mandatos, estruturando políticas de longo prazo que se tornem verdadeiras agendas de Estado. Esse pensamento estratégico contribui para garantir que as mudanças não sejam meramente conjunturais, mas sustentáveis e voltadas para o progresso contínuo.

Equipes de transição bem preparadas desempenham um papel central nesse processo, com acesso garantido a dados críticos, como a situação financeira, contratos vigentes e projetos em andamento.

A criação de mandatos claros e a institucionalização de processos por meio de leis ou decretos fortalecem a transparência e a responsabilidade, garantindo que as novas gestões possam começar com uma visão clara e organizada. Essa estrutura minimiza as descontinuidades que poderiam prejudicar os cidadãos e comprometer a credibilidade da nova administração.

O Brasil tem exemplos de transições bem-sucedidas que reforçam a importância de uma abordagem madura e colaborativa. A passagem entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, mostrou como um processo bem coordenado pode consolidar a estabilidade nacional.

No entanto, em muitos municípios, a falta de protocolos formais e uma cultura política baseada na cooperação ainda representam desafios significativos, com projetos interrompidos e informações essenciais se perdendo.

Conteúdos para a transição

Reconhecendo essas dificuldades, a Comunitas desenvolveu uma formação específica para apoiar gestores públicos nesse momento tão importante. Disponível gratuitamente, essa formação já beneficiou dezenas de territórios, oferecendo ferramentas práticas e conhecimento especializado para tornar as transições mais colaborativas e eficazes.

O programa enfatiza a importância de organizar equipes de transição com estrutura adequada, promover o acesso a informações estratégicas e fomentar uma cultura de cooperação entre gestões, sempre com o olhar voltado para a institucionalização de políticas públicas perenes.

Ao equilibrar a necessidade de transparência com a proteção de dados sensíveis, prefeitos eleitos podem tomar decisões informadas e garantir que as políticas públicas não sejam interrompidas.

Relatórios detalhados, elaborados pela gestão cessante, são instrumentos valiosos para orientar a continuidade administrativa, enquanto a definição de prazos claros e a capacitação técnica das equipes de transição fortalecem o processo como um todo.

Esse é um momento importante para que os novos líderes demonstrem visão, pragmatismo e compromisso com o interesse público. Ao adotar práticas que garantam a continuidade e aprimoramento das políticas públicas, eles fortalecem não apenas suas administrações, mas também as instituições e a confiança dos cidadãos.

E, acima de tudo, criam a oportunidade de estruturar políticas de longo prazo, capazes de atravessar mandatos e consolidar agendas de Estado que reflitam o compromisso com o futuro das comunidades.

O sucesso de uma transição não se mede apenas pela organização administrativa, mas principalmente pelo impacto positivo que gera na vida das pessoas. Prefeitos eleitos têm, agora, a oportunidade de mostrar que a gestão pública pode ser transformadora desde o primeiro dia, marcando o início de um mandato dedicado ao progresso e à construção de comunidades mais fortes.