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Marcos Troyjo debate novas mídias, política e sociedade na CEAQ-Sorbonne

O Instituto Millenium publicou entrevista inédita produzida no Centro de Estudos sobre o Atual e o Quotidiano da Universidade Sorbonne (CEAQ), na qual o professor José Alexandre Hage, doutor em Ciência Política pela Unicamp debate o tema da influência das novas tecnologias na vida cotidiana com o italiano Fabio La Rocca, o francês Stéphane Hugon e com o brasileiro Marcos Troyjo, especialista do Imil. Mídia e a política estão esvaziadas? […] Leia mais

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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2011 às 20h34.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 10h12.

O Instituto Millenium publicou entrevista inédita produzida no Centro de Estudos sobre o Atual e o Quotidiano da Universidade Sorbonne (CEAQ), na qual o professor José Alexandre Hage, doutor em Ciência Política pela Unicamp debate o tema da influência das novas tecnologias na vida cotidiana com o italiano Fabio La Rocca, o francês Stéphane Hugon e com o brasileiro Marcos Troyjo, especialista do Imil. Mídia e a política estão esvaziadas? Com base nas análises do sociólogo francês Michel Maffesoli, co-fundado do centro com Georges Balandier, os pesquisadores falaram sobre política e mídia no cenário contemporâneo permeado por novas tecnologias. Leia aqui a entrevista na íntegra. José Alexandre Hage: Como a política se manifesta na sociedade pós-moderna? O que é política no espaço sociotecnológico intermediado pelo Facebook, pelo Twitter, pelo iPad, etc? Fabio La Rocca: A política na pós-modernidade muda de pele. É transfigurada através da Internet. Não é mais a política clássica, hoje obsoleta, que predomina. Pelo contrário, a participação e contribuição na Rede cria novas formas de ação visíveis no que poderíamos chamar de “Net-Ativismo”. Quanto ao uso do Facebook e do Twitter, a atualidade nos mostra o poder que exercem na opinião pública. São formas de exposição e denúncia. Podemos sentir seu impacto e significado através de fotos postadas na web em acontecimentos recentes no Irã, Tunísia, Egito, Líbia. Estas formas de rebelião sociopolítica oferecem a magnitude e visibilidade permitidas pelo imediatismo das “mensagens instantâneas” no Twitter e das fotos que circulam na paisagem da web. É um processo em que não há um líder. Trata-se de plataformas de participação coletiva para divulgar sentimentos. Facilitar a circulação de idéias e fatos que os poderes mais estabelecidos e tradicionais gostariam que permanecessem invisíveis. A profusão de artefatos como o iPad ou Galaxy é o resultado de uma forma de existência, a do homem pós-moderno sempre conectado. Esses objetos nos possuem. São nossos donos. Instalam uma nova forma arquetípica de relação com o mundo. Quase eróticos, os efeitos sociais de sua popularização são de ordem passional, de apego simbólico, espécie de prolongamento sensorial e extensão do nosso corpo cada vez mais tecnológico. Esses tabletes, como efeito fenomenológico, são também consequência do crescimento das identidades digitais e das “nuvens” informacionais, já que muito claramente a experiência existencial é móvel. Do ponto de vista social, há um hibridismo tecnoespacial que permite a presença de múltiplas identidades, máscaras coletivas no teatro da vida cotidiana. Stéphane Hugon: As tecnologias de rede são a pior e a melhor notícia para a política. Podemos considerar que a estrutura de delegação da palavra e do poder, tal como foi inventada e posta em prática no século XVIII, com base nos ideais filosóficos e democráticos, chegou a seu ponto de saturação. Isto pode ser observado, ao menos na Europa, onde se percebe um avanço lento do grau de abstenção política em qualquer tipo de votação. Em alguns casos (como o de algumas eleições europeias, a abstenção chega a quase 75% em determinadas faixas etárias). Isso não significa que as formas de participação tenham desaparecido, mas o fato é que a energia social se desloca em direção a outras estruturas, outras formas de mediação. As redes, e particularmente as ferramentas sociais, nos levam a essa “transfiguração da política”, como caracterizado por Michel Maffesoli, para quem a figura vertical da árvore e substituída pela horizontalidade dos rizomas. O sentimento dos participantes é o de que esta estrutura é mais direta, mais animada, e dá-lhes mais espaço. Eis a nova forma de política. O que talvez seja uma característica dos tabletes e dispositivos móveis é que permitem uma utilização para além dos limites do que foi a restrição de toda a Internet desde sua invenção, ou seja, a relação com um desktop ou computador fixo. A mobilidade hoje está se tornando o principal acesso à Internet. Durante os primeiros quinze anos da Internet, apenas uma em cada duas pessoas estava plugada a um computador. Mais recentemente, esses índices não avançam como antes. Com os novos instrumentos de conexão, novos usuários entram no mercado com outros imaginários, outras habilidades, outros requisitos. Esta é provavelmente uma oportunidade para o surgimento de novos sistemas operacionais, outras interfaces, outros serviços. E outras relações sociais. Marcos Troyjo: A política metamorfoseou-se. O ideal romântico de revolução não faz mais parte do elenco de aspirações. Ao contrário do que se poderia imaginar como efeito das redes sociais, as agendas propositivas e críticas estão mais locais. Sabe-se o que quer e como fazer no seu bairro, cidade. Menos, porém, no nível de uma unidade federativa (estado) ou país. Muito menos para o mundo. A política, ao menos em seu debate quotidiano, não é mais a dos grandes sistemas ou soluções. Além desse caráter de proximidade “epidérmica”, há a questão da política como espaço de defesa da voz de afinidades estéticas ou profissionais. Daí em eleições aos mais variados níveis testemunharmos o êxito de candidatos dos taxistas, surfistas ou de grandes torcidas de futebol. São essas afinidades estéticas que turbinam também as “células” de proximidades de seus “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter. O aparecimento dos tabletes só acelera esse processo, que tem ramificações que vão além da tecnologia. Pessoas andam na rua como “zumbis” dedilhando seus smartphones. Os tabletes dão acesso gratuito a tesouros da literatura universal. Experiências educacionais e de entretenimento multimídia são verdadeiramente possíveis. Já no nível da política de cargos eletivos, o que vemos é o decréscimo relativo da importância dos discursos programáticos e a instalação definitiva da construção de candidatos a partir de marketings de empatia. As redes sociais, dado seu caráter instantâneo e superficial, ajudam nessa “efemeridade”.

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O Instituto Millenium publicou entrevista inédita produzida no Centro de Estudos sobre o Atual e o Quotidiano da Universidade Sorbonne (CEAQ), na qual o professor José Alexandre Hage, doutor em Ciência Política pela Unicamp debate o tema da influência das novas tecnologias na vida cotidiana com o italiano Fabio La Rocca, o francês Stéphane Hugon e com o brasileiro Marcos Troyjo, especialista do Imil. Mídia e a política estão esvaziadas? Com base nas análises do sociólogo francês Michel Maffesoli, co-fundado do centro com Georges Balandier, os pesquisadores falaram sobre política e mídia no cenário contemporâneo permeado por novas tecnologias. Leia aqui a entrevista na íntegra. José Alexandre Hage: Como a política se manifesta na sociedade pós-moderna? O que é política no espaço sociotecnológico intermediado pelo Facebook, pelo Twitter, pelo iPad, etc? Fabio La Rocca: A política na pós-modernidade muda de pele. É transfigurada através da Internet. Não é mais a política clássica, hoje obsoleta, que predomina. Pelo contrário, a participação e contribuição na Rede cria novas formas de ação visíveis no que poderíamos chamar de “Net-Ativismo”. Quanto ao uso do Facebook e do Twitter, a atualidade nos mostra o poder que exercem na opinião pública. São formas de exposição e denúncia. Podemos sentir seu impacto e significado através de fotos postadas na web em acontecimentos recentes no Irã, Tunísia, Egito, Líbia. Estas formas de rebelião sociopolítica oferecem a magnitude e visibilidade permitidas pelo imediatismo das “mensagens instantâneas” no Twitter e das fotos que circulam na paisagem da web. É um processo em que não há um líder. Trata-se de plataformas de participação coletiva para divulgar sentimentos. Facilitar a circulação de idéias e fatos que os poderes mais estabelecidos e tradicionais gostariam que permanecessem invisíveis. A profusão de artefatos como o iPad ou Galaxy é o resultado de uma forma de existência, a do homem pós-moderno sempre conectado. Esses objetos nos possuem. São nossos donos. Instalam uma nova forma arquetípica de relação com o mundo. Quase eróticos, os efeitos sociais de sua popularização são de ordem passional, de apego simbólico, espécie de prolongamento sensorial e extensão do nosso corpo cada vez mais tecnológico. Esses tabletes, como efeito fenomenológico, são também consequência do crescimento das identidades digitais e das “nuvens” informacionais, já que muito claramente a experiência existencial é móvel. Do ponto de vista social, há um hibridismo tecnoespacial que permite a presença de múltiplas identidades, máscaras coletivas no teatro da vida cotidiana. Stéphane Hugon: As tecnologias de rede são a pior e a melhor notícia para a política. Podemos considerar que a estrutura de delegação da palavra e do poder, tal como foi inventada e posta em prática no século XVIII, com base nos ideais filosóficos e democráticos, chegou a seu ponto de saturação. Isto pode ser observado, ao menos na Europa, onde se percebe um avanço lento do grau de abstenção política em qualquer tipo de votação. Em alguns casos (como o de algumas eleições europeias, a abstenção chega a quase 75% em determinadas faixas etárias). Isso não significa que as formas de participação tenham desaparecido, mas o fato é que a energia social se desloca em direção a outras estruturas, outras formas de mediação. As redes, e particularmente as ferramentas sociais, nos levam a essa “transfiguração da política”, como caracterizado por Michel Maffesoli, para quem a figura vertical da árvore e substituída pela horizontalidade dos rizomas. O sentimento dos participantes é o de que esta estrutura é mais direta, mais animada, e dá-lhes mais espaço. Eis a nova forma de política. O que talvez seja uma característica dos tabletes e dispositivos móveis é que permitem uma utilização para além dos limites do que foi a restrição de toda a Internet desde sua invenção, ou seja, a relação com um desktop ou computador fixo. A mobilidade hoje está se tornando o principal acesso à Internet. Durante os primeiros quinze anos da Internet, apenas uma em cada duas pessoas estava plugada a um computador. Mais recentemente, esses índices não avançam como antes. Com os novos instrumentos de conexão, novos usuários entram no mercado com outros imaginários, outras habilidades, outros requisitos. Esta é provavelmente uma oportunidade para o surgimento de novos sistemas operacionais, outras interfaces, outros serviços. E outras relações sociais. Marcos Troyjo: A política metamorfoseou-se. O ideal romântico de revolução não faz mais parte do elenco de aspirações. Ao contrário do que se poderia imaginar como efeito das redes sociais, as agendas propositivas e críticas estão mais locais. Sabe-se o que quer e como fazer no seu bairro, cidade. Menos, porém, no nível de uma unidade federativa (estado) ou país. Muito menos para o mundo. A política, ao menos em seu debate quotidiano, não é mais a dos grandes sistemas ou soluções. Além desse caráter de proximidade “epidérmica”, há a questão da política como espaço de defesa da voz de afinidades estéticas ou profissionais. Daí em eleições aos mais variados níveis testemunharmos o êxito de candidatos dos taxistas, surfistas ou de grandes torcidas de futebol. São essas afinidades estéticas que turbinam também as “células” de proximidades de seus “amigos” no Facebook ou “seguidores” no Twitter. O aparecimento dos tabletes só acelera esse processo, que tem ramificações que vão além da tecnologia. Pessoas andam na rua como “zumbis” dedilhando seus smartphones. Os tabletes dão acesso gratuito a tesouros da literatura universal. Experiências educacionais e de entretenimento multimídia são verdadeiramente possíveis. Já no nível da política de cargos eletivos, o que vemos é o decréscimo relativo da importância dos discursos programáticos e a instalação definitiva da construção de candidatos a partir de marketings de empatia. As redes sociais, dado seu caráter instantâneo e superficial, ajudam nessa “efemeridade”.

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