Exame Logo

3 razões para apostar novamente em blockchain empresarial

A próxima geração de projetos poderá escolher entre utilizar blockchains privadas e a blockchain Ethereum: veja motivos para escolher a primeira opção

(TimeStopper/Getty Images)
GR

Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 19 de novembro de 2020 às 19h01.

Última atualização em 20 de novembro de 2020 às 11h26.

Eu gosto muito de conversar sobre como o mercado era diferente quando comecei a trabalhar durante a bolha da Internet, nos anos 2000. Hoje mesmo falei com uma amiga millennial sobre o lançamento do browser Netscape Navigator quando ela tinha dois anos de idade. Eu sei, pode ser um tanto quanto ofensivo para alguns.

As dificuldades de entregar aplicações web em 1999 me ajudaram a acreditar em computação em nuvem quando li o trabalho seminal do Nicholas G. Carr em 2003, mas não evitaram que eu achasse que as empresas migrariam para nuvens privadas criadas com o projeto OpenStack, por exemplo, antes das nuvens públicas da Oracle, AWS e Microsoft.

Eu me enganei, porque não havia percebido que o perfil dos consumidores também estava mudando. Avançando alguns anos, me encontro novamente numa situação em que os negócios estão favorecendo tecnologias como nuvens e blockchains públicas que conseguem acompanhar o ritmo acelerado e constante da transformação digital.

Embora observe com atenção os projetos como o Hyperledger Fabric, Corda e ConsenSys Quorum para criação de blockchains privadas (ou DLTs, na sigla em inglês), estou apostando na adoção da blockchain pública Ethereum por três razões:

1 – Crescimento de uso

A Ethereum processou novos recordes de 1,4 milhões de transações diárias e 900 mil chamadas diárias de contratos inteligentes durante um boom de soluções de DeFi (decentralized finance ou finanças descentralizadas) em setembro.

O criptoativo LINK, que é usada para remunerar os participantes da rede descentralizada de oráculos Chainlink, que fornece dados de sistemas que estão fora de DLTs e blockchains públicas para contratos inteligentes, valorizou mais de 200% desde 2019. A Chainlink é uma participante do programa de startups da Oracle.

Apesar do sucesso da Chainlink ser um pouco especulativo, é muito considerável que uma tecnologia que é tão fundamental para a utilização da Ethereum pelas empresas (a maioria delas tem algumas centenas de sistemas) evolua tão rapidamente.

Além disso, a Ethereum 2.0, que deverá ser concluída até 2021, poderá atingir algo em torno de 100 mil transações por segundo. Esta quantidade está acima até mesmo da Visa, umas das maiores processadoras de transações do mundo.

Esse upgrade da Ethereum também substituirá o mecanismo de consenso de prova de trabalho pelo de prova de participação (ou respectivamente PoW e PoS, nas siglas em inglês). O PoW requer que cada participante consuma muitos recursos de CPU e memória (e consequentemente de energia elétrica) para resolver um desafio matemático complexo, mas o PoS exige apenas que ele possua criptoativos suficientes para garantir a transação.

Outra mudança significativa será o suporte a fragmentação, que permitirá que os participantes armazenem apenas alguns blocos em vez da blockchain inteira (a Ethereum já tem 11 milhões de blocos). A redução dos requisitos técnicos para participação no consenso poderá diminuir muito a taxa de transação (ou gás), que também atingiu um novo recorde de US$ 10.33 em setembro.

2 – Privacidade de dados

O OASIS, que é um dos consórcios de padronização de TI mais importantes do mundo, lançou em março o projeto de código aberto Protocolo Baseline, apoiada pela EY, ConsenSys e Microsoft.

O Protocolo Baseline sugere, por exemplo, que o sistema de gestão empresarial Oracle ERP Cloud grave provas de conhecimento-zero em vez dos próprios dados quando se comunicar com o sistema de gestão de armazéns Oracle WMS Cloud por meio da blockchain. A publicidade inerente do conteúdo das transações sempre foi um impeditivo para a utilização de blockchains públicas para algumas aplicações.

O uso do Protocolo Baseline também auxilia no atendimento da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), GDPR (General Data Protection Regulation) e outras leis internacionais similares. Afinal, os dados não são expostos na blockchain, que não suporta alteração ou deleção de transações.

3 – Investimentos crescentes na indústria

Os investidores também estão acreditando na escolha da Ethereum pelas empresas. Um sinal importante dessa tendência é o fato da ConsenSys, que é a empresa líder de desenvolvimento de soluções empresariais com a Ethereum, já recebeu aportes de US$ 10 milhões, incluindo um investimento estratégico do JPMorgan em agosto.

A oferta pública (ou ICO, na sigla em inglês) do criptoativo LINK, em 2019, levantou em torno de US$ 32 milhões, provenientes de investidores do mundo todo. Esses investimentos demonstram para o mercado que o ecossistema da Ethereum está financeiramente sólido para entregar grandes projetos, além de provas de conceito.

Considerações finais

Existem outros desafios para o blockchain empresarial. Um estudo recente do LinkedIn confirmou a falta de profissionais qualificados até em grandes mercados como os Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha. Também houve o novo desgaste da imagem pública dos criptoativos após os ataques de ransomware durante a pandemia do COVID-19, ainda que eles mostrem mais a fragilidade da infraestrutura básica de TI das empresas (notebooks, servidores e armazenamento) do que desse novo meio de pagamento.

Ainda assim, quando olho para o crescimento expressivo de uso, a solução pragmática do Protocolo Baseline para privacidade de dados e os investimentos significativos em startups, vejo que a Ethereum será uma alternativa excepcional a DLTs para os novos projetos de vários setores, como serviços financeiros, logística e varejo. Reforço a importância de reavaliar a adoção desta blockchain para não deixar de aproveitar o seu novo potencial.

As opiniões expressas aqui são minhas e não refletem necessariamente as opiniões da Exame ou da Oracle.

Veja também

Eu gosto muito de conversar sobre como o mercado era diferente quando comecei a trabalhar durante a bolha da Internet, nos anos 2000. Hoje mesmo falei com uma amiga millennial sobre o lançamento do browser Netscape Navigator quando ela tinha dois anos de idade. Eu sei, pode ser um tanto quanto ofensivo para alguns.

As dificuldades de entregar aplicações web em 1999 me ajudaram a acreditar em computação em nuvem quando li o trabalho seminal do Nicholas G. Carr em 2003, mas não evitaram que eu achasse que as empresas migrariam para nuvens privadas criadas com o projeto OpenStack, por exemplo, antes das nuvens públicas da Oracle, AWS e Microsoft.

Eu me enganei, porque não havia percebido que o perfil dos consumidores também estava mudando. Avançando alguns anos, me encontro novamente numa situação em que os negócios estão favorecendo tecnologias como nuvens e blockchains públicas que conseguem acompanhar o ritmo acelerado e constante da transformação digital.

Embora observe com atenção os projetos como o Hyperledger Fabric, Corda e ConsenSys Quorum para criação de blockchains privadas (ou DLTs, na sigla em inglês), estou apostando na adoção da blockchain pública Ethereum por três razões:

1 – Crescimento de uso

A Ethereum processou novos recordes de 1,4 milhões de transações diárias e 900 mil chamadas diárias de contratos inteligentes durante um boom de soluções de DeFi (decentralized finance ou finanças descentralizadas) em setembro.

O criptoativo LINK, que é usada para remunerar os participantes da rede descentralizada de oráculos Chainlink, que fornece dados de sistemas que estão fora de DLTs e blockchains públicas para contratos inteligentes, valorizou mais de 200% desde 2019. A Chainlink é uma participante do programa de startups da Oracle.

Apesar do sucesso da Chainlink ser um pouco especulativo, é muito considerável que uma tecnologia que é tão fundamental para a utilização da Ethereum pelas empresas (a maioria delas tem algumas centenas de sistemas) evolua tão rapidamente.

Além disso, a Ethereum 2.0, que deverá ser concluída até 2021, poderá atingir algo em torno de 100 mil transações por segundo. Esta quantidade está acima até mesmo da Visa, umas das maiores processadoras de transações do mundo.

Esse upgrade da Ethereum também substituirá o mecanismo de consenso de prova de trabalho pelo de prova de participação (ou respectivamente PoW e PoS, nas siglas em inglês). O PoW requer que cada participante consuma muitos recursos de CPU e memória (e consequentemente de energia elétrica) para resolver um desafio matemático complexo, mas o PoS exige apenas que ele possua criptoativos suficientes para garantir a transação.

Outra mudança significativa será o suporte a fragmentação, que permitirá que os participantes armazenem apenas alguns blocos em vez da blockchain inteira (a Ethereum já tem 11 milhões de blocos). A redução dos requisitos técnicos para participação no consenso poderá diminuir muito a taxa de transação (ou gás), que também atingiu um novo recorde de US$ 10.33 em setembro.

2 – Privacidade de dados

O OASIS, que é um dos consórcios de padronização de TI mais importantes do mundo, lançou em março o projeto de código aberto Protocolo Baseline, apoiada pela EY, ConsenSys e Microsoft.

O Protocolo Baseline sugere, por exemplo, que o sistema de gestão empresarial Oracle ERP Cloud grave provas de conhecimento-zero em vez dos próprios dados quando se comunicar com o sistema de gestão de armazéns Oracle WMS Cloud por meio da blockchain. A publicidade inerente do conteúdo das transações sempre foi um impeditivo para a utilização de blockchains públicas para algumas aplicações.

O uso do Protocolo Baseline também auxilia no atendimento da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), GDPR (General Data Protection Regulation) e outras leis internacionais similares. Afinal, os dados não são expostos na blockchain, que não suporta alteração ou deleção de transações.

3 – Investimentos crescentes na indústria

Os investidores também estão acreditando na escolha da Ethereum pelas empresas. Um sinal importante dessa tendência é o fato da ConsenSys, que é a empresa líder de desenvolvimento de soluções empresariais com a Ethereum, já recebeu aportes de US$ 10 milhões, incluindo um investimento estratégico do JPMorgan em agosto.

A oferta pública (ou ICO, na sigla em inglês) do criptoativo LINK, em 2019, levantou em torno de US$ 32 milhões, provenientes de investidores do mundo todo. Esses investimentos demonstram para o mercado que o ecossistema da Ethereum está financeiramente sólido para entregar grandes projetos, além de provas de conceito.

Considerações finais

Existem outros desafios para o blockchain empresarial. Um estudo recente do LinkedIn confirmou a falta de profissionais qualificados até em grandes mercados como os Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha. Também houve o novo desgaste da imagem pública dos criptoativos após os ataques de ransomware durante a pandemia do COVID-19, ainda que eles mostrem mais a fragilidade da infraestrutura básica de TI das empresas (notebooks, servidores e armazenamento) do que desse novo meio de pagamento.

Ainda assim, quando olho para o crescimento expressivo de uso, a solução pragmática do Protocolo Baseline para privacidade de dados e os investimentos significativos em startups, vejo que a Ethereum será uma alternativa excepcional a DLTs para os novos projetos de vários setores, como serviços financeiros, logística e varejo. Reforço a importância de reavaliar a adoção desta blockchain para não deixar de aproveitar o seu novo potencial.

As opiniões expressas aqui são minhas e não refletem necessariamente as opiniões da Exame ou da Oracle.

Acompanhe tudo sobre:Blockchain

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se