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Taxa de Câmbio: deve cair mais... mas antes sobe de novo

Para quem acompanha o mercado de câmbio, a palavra incerteza vem acompanhada de diminuição de fluxo de capitais

Dólar; Câmbio; Dólares; Real (Nelson_A_Ishikawa/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de março de 2022 às 06h42.

O fluxo financeiro aumentou muito no último mês, refletindo o apetite às ações das empresas brasileiras e aos destinos com divisas de juros mais elevados atreladas às commodities. Claro, afinal, quanto mais altos os preços das commodities, mais dinheiro tende a ingressar nos países que as exportam, aumentando, assim, a oferta de moeda estrangeira, trazendo a taxa de cambio para baixo. Isso deu força para a taxa de câmbio querer testar US$/R$ 5,00, após fechar 2021 em US$/R$ 5,58!

Mas duas coisas precisam ser ditas antes de sairmos comemorando fim de uma era de dolar forte. A primeira é que uma análise dos dados de fluxo de investimentos do mundo, ainda não sugere uma explosão no apetite ao risco de forma geral. A segunda coisa é que até acho que final de 2022 e 2023 flertaremos com números mais palataveis de Brasil, mas até lá temos uma caminhada que não esta ganha.

Sobre o primeiro ponto: o mundo pós-pandemia ainda não aconteceu de fato, pois a doença ainda está entre idas e vindas, mas cada vez mais os investidores estão dispostos a usar a forte liquidez do mundo. Dito isso, o fluxo de investimento direto estrangeiro global se recuperou fortemente em 2021, mas a recuperação tem sido altamente desigual entre regiões e países.

Analisando informações da Unctad sobre fluxos de capitais, vemos que os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) devem ter se recuperado 77% em 2021 versus 2020. Sendo que as economias desenvolvidas tiveram o maior aumento, com o IDE atingindo cerca de US$ 777 bilhões em 2021, voltando para seu patamar pré covid, e com destaque para economias desenvolvidas fora do eixo Europa-EUA. As economias emergentes tambem tiveram aumento de IED, de 30% entre 2020 – 2021, para quase US$ 870 bilhões. E assim como no ano anteior, o destaque novamente ficou na Ásia, em especial na China. Alias, a China registrou uma entrada recorde de US$ 179 bilhões em 202 e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) retomou seu papel como motor de crescimento do IDE na Ásia e globalmente, com entradas de 35% e aumentos na maioria dos membros.

Do mesmo modo, o Brasil viu o IDE dobrar em 2021, mas as entradas permaneceram abaixo dos níveis pré-pandemia.
Além do mais, o Brasil vem ficando para trás na escolha de se investir em relação a pares da América Latina. Enquanto em 2019 o Brasil foi responsável por 43% do fluxo para América Latina em 2021 isso caiu para 33%.
Nas ultimas semana, o apetite por Brasil aumentou. A melhora do fluxo veio marcada por entradas no mercado acionário, o que se intensificou no início de 2022. Antes da crise investimentos em ações não costumava ser a vedete do investimento estrangeiro no Brasil, em detrimento da alocação em fundos de investimento. E conforme dito acima, tem sido crucial para a apreciação do real.

Porem, mesmo a US$/R$5,00, o nível da taxa de câmbio ainda está alto historicamente, e portanto, conjunturalmente, sugere que algo ainda está errado e, num ambiente de melhora institucional, tem espaço para ajuste.
Quero dizer que o nível da taxa de câmbio ainda sugere que a despeito de um bom momento na bolsa de valores, e o aumento recente do fluxo de capital no Brasil, nosso país ainda não é a principal escolha como alocação de investimento e capital. A decisão por alocaão massiça no Brasil virá por uma história positiva a ser contada. O que ainda não temos. As mazelas brasileiras ainda estao ai. Para resumir a conjuntura brasileira em um parágrafo: contas fiscais apertas, inflação alta (vejam o ultimo resultado do IPCA-15), pedindo forte ajuste nas taxas de juros e baixa perspectiva de crescimento economico. Tudo isso, num ano de eleições presidenciais, que naturalmente já aumenta incertezas.

E para quem acompanha o mercado de câmbio, a palavra incerteza vem acompanhada de diminuição de fluxo de capitais (esse mesmo que vem aumentado!), sobretudo para países emergentes e mais arriscados. Ora, não é para menos, quando estamos em um ambiente de incerteza, nada melhor que seu porto seguro, não é mesmo? Quanto maior o fluxo, mais provavél que a taxa de câmbio caia, e o inverso tambem é verdadeiro.

Assim, olhando nosso calendario econômico, tanto o fluxo de capital como a taxa de câmbio podem sofrer fortes (muitas) oscilações nos meses à frente. Porém passado a fase de incertezas, acreditamos que seja sim possível ver a taxa de cambio abaixo de US$/R$ 5,00 pós eleições --- mas, a depender da história que teremos para contar. Em resumo, se eu tivesse que chutar, diria que a taxa de câmbio vai cair mais... mas antes sobe de novo.

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O fluxo financeiro aumentou muito no último mês, refletindo o apetite às ações das empresas brasileiras e aos destinos com divisas de juros mais elevados atreladas às commodities. Claro, afinal, quanto mais altos os preços das commodities, mais dinheiro tende a ingressar nos países que as exportam, aumentando, assim, a oferta de moeda estrangeira, trazendo a taxa de cambio para baixo. Isso deu força para a taxa de câmbio querer testar US$/R$ 5,00, após fechar 2021 em US$/R$ 5,58!

Mas duas coisas precisam ser ditas antes de sairmos comemorando fim de uma era de dolar forte. A primeira é que uma análise dos dados de fluxo de investimentos do mundo, ainda não sugere uma explosão no apetite ao risco de forma geral. A segunda coisa é que até acho que final de 2022 e 2023 flertaremos com números mais palataveis de Brasil, mas até lá temos uma caminhada que não esta ganha.

Sobre o primeiro ponto: o mundo pós-pandemia ainda não aconteceu de fato, pois a doença ainda está entre idas e vindas, mas cada vez mais os investidores estão dispostos a usar a forte liquidez do mundo. Dito isso, o fluxo de investimento direto estrangeiro global se recuperou fortemente em 2021, mas a recuperação tem sido altamente desigual entre regiões e países.

Analisando informações da Unctad sobre fluxos de capitais, vemos que os fluxos de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) devem ter se recuperado 77% em 2021 versus 2020. Sendo que as economias desenvolvidas tiveram o maior aumento, com o IDE atingindo cerca de US$ 777 bilhões em 2021, voltando para seu patamar pré covid, e com destaque para economias desenvolvidas fora do eixo Europa-EUA. As economias emergentes tambem tiveram aumento de IED, de 30% entre 2020 – 2021, para quase US$ 870 bilhões. E assim como no ano anteior, o destaque novamente ficou na Ásia, em especial na China. Alias, a China registrou uma entrada recorde de US$ 179 bilhões em 202 e a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) retomou seu papel como motor de crescimento do IDE na Ásia e globalmente, com entradas de 35% e aumentos na maioria dos membros.

Do mesmo modo, o Brasil viu o IDE dobrar em 2021, mas as entradas permaneceram abaixo dos níveis pré-pandemia.
Além do mais, o Brasil vem ficando para trás na escolha de se investir em relação a pares da América Latina. Enquanto em 2019 o Brasil foi responsável por 43% do fluxo para América Latina em 2021 isso caiu para 33%.
Nas ultimas semana, o apetite por Brasil aumentou. A melhora do fluxo veio marcada por entradas no mercado acionário, o que se intensificou no início de 2022. Antes da crise investimentos em ações não costumava ser a vedete do investimento estrangeiro no Brasil, em detrimento da alocação em fundos de investimento. E conforme dito acima, tem sido crucial para a apreciação do real.

Porem, mesmo a US$/R$5,00, o nível da taxa de câmbio ainda está alto historicamente, e portanto, conjunturalmente, sugere que algo ainda está errado e, num ambiente de melhora institucional, tem espaço para ajuste.
Quero dizer que o nível da taxa de câmbio ainda sugere que a despeito de um bom momento na bolsa de valores, e o aumento recente do fluxo de capital no Brasil, nosso país ainda não é a principal escolha como alocação de investimento e capital. A decisão por alocaão massiça no Brasil virá por uma história positiva a ser contada. O que ainda não temos. As mazelas brasileiras ainda estao ai. Para resumir a conjuntura brasileira em um parágrafo: contas fiscais apertas, inflação alta (vejam o ultimo resultado do IPCA-15), pedindo forte ajuste nas taxas de juros e baixa perspectiva de crescimento economico. Tudo isso, num ano de eleições presidenciais, que naturalmente já aumenta incertezas.

E para quem acompanha o mercado de câmbio, a palavra incerteza vem acompanhada de diminuição de fluxo de capitais (esse mesmo que vem aumentado!), sobretudo para países emergentes e mais arriscados. Ora, não é para menos, quando estamos em um ambiente de incerteza, nada melhor que seu porto seguro, não é mesmo? Quanto maior o fluxo, mais provavél que a taxa de câmbio caia, e o inverso tambem é verdadeiro.

Assim, olhando nosso calendario econômico, tanto o fluxo de capital como a taxa de câmbio podem sofrer fortes (muitas) oscilações nos meses à frente. Porém passado a fase de incertezas, acreditamos que seja sim possível ver a taxa de cambio abaixo de US$/R$ 5,00 pós eleições --- mas, a depender da história que teremos para contar. Em resumo, se eu tivesse que chutar, diria que a taxa de câmbio vai cair mais... mas antes sobe de novo.

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