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CEO da beuty'in
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 06h01.
A disputa tecnológica que marcará a próxima década não será travada apenas entre empresas, mas entre Estados.
E nenhum país articula um projeto tão sistêmico, integrado e agressivo quanto a China. De 2025 a 2035, o país projeta combinar fusão nuclear, computação quântica, energia renovável, veículos elétricos, robótica avançada e mobilidade hiper-rápida em um bloco coerente de política industrial, algo sem paralelo no Ocidente.
Enquanto Estados Unidos, Europa e Japão discutem incentivos e cadeias produtivas, a China testa, escala e exporta tecnologias de ponta em ciclos cada vez mais curtos.
O resultado é um cenário em que o país não busca apenas competir nos mercados globais: ele tenta redesenhar as regras tecnológicas que definirão a próxima fase da economia mundial.
A seguir, uma análise crítica do que está em jogo, e do que o Brasil arrisca ao permanecer sem estratégia.
A fusão nuclear é o Santo Graal da energia. Diferente da fissão usada em reatores atuais, a fusão não gera resíduos de longa duração e tem potencial teórico para fornecer energia abundante, estável e com baixíssima emissão de carbono. A China avança rapidamente com seu tokamak EAST, responsável por recordes de aquecimento e estabilidade do plasma.
O cronograma chinês é ousado:
É um prazo apertado e tecnicamente arriscado o principal gargalo são os materiais capazes de suportar condições extremas. Mas se o país chegar perto dessa meta, terá nas mãos não apenas a solução energética mais promissora do século, mas uma plataforma geopolítica incomparável.
A China disputa com os EUA o topo da computação quântica. Em 2025, o supercondutor Zuchongzhi 3.0 mostrou vantagens quânticas em tarefas específicas, reforçado pelo sistema fotônico Jiuzhang 3.0².
Mas a narrativa vai além de recordes:
Analistas apontam que entre 2028 e 2033 deverão surgir as primeiras aplicações comerciais em setores intensivos em dados. É menos sobre “computadores mágicos” e mais sobre vantagem estratégica de Estado.
O CRRC 600, trem de levitação magnética que pode atingir 600 km/h, está em testes avançados e deve começar a operar comercialmente antes de 2030³.
A China pretende exportar o modelo para países asiáticos, árabes e africanos — reproduzindo o mesmo movimento que fez com ferrovias convencionais na década passada.
Para 2035, o país projeta protótipos de maglev em túneis de vácuo parcial, com velocidades próximas a 1.000 km/h.
É uma aposta tecnológica cara e complexa, mas coerente com a estratégia nacional: ampliar mobilidade elétrica limpa e reduzir a dependência de aviação regional.
A grande virada já aconteceu: em 2024, a China se tornou líder absoluta na produção e exportação de veículos elétricos⁴.
Empresas como BYD e SAIC dominaram toda a cadeia de baterias a software, e transformaram o EV em um produto de massa.
Até 2030, carros chineses podem representar 25% a 35% das novas vendas globais, especialmente em países emergentes. É a prova de que política industrial consistente supera vantagem histórica.
A China lidera a instalação de robôs industriais há mais de 10 anos.
Em 2030, projetos de portos totalmente automatizados, obras robóticas e bairros completos com infraestrutura de IA devem estar consolidados. A urbanização acelerada oferece ao país uma vantagem única: pode testar tecnologias em escala real — cidades inteiras se tornam laboratórios.
Isso não significa ausência de riscos. A governança de dados, a privacidade e o impacto sobre o trabalho são preocupações reais. Mas a diferença é que o país não paralisa a inovação enquanto busca solução. Ele avança — e corrige depois.
A China já é líder mundial em solar e eólica. A integração de baterias, hidrogênio verde e redes inteligentes cria uma matriz energética diversificada que pode suportar as indústrias de computação, IA e manufatura avançada.
Se a fusão nuclear entregar resultados parciais, a China se torna o país com a matriz mais robusta e estratégica do planeta.
O Brasil possui energia limpa, biodiversidade, mercado consumidor e talentos. Mas falha no essencial: estratégia.
O país sofre com oito gargalos centrais:
Cada governo reinicia planos, desfaz incentivos e desmonta instituições. Sem continuidade, não há deep tech.
Complexidade, insegurança jurídica e custo burocrático minam margens e afastam capital.
Pouca liquidez, poucas saídas e quase nenhum fundo especializado em deep tech.
Infraestrutura logística lenta, cara e fragmentada.
Engenharia avançada, semicondutores, IA, fusão e materiais são áreas críticas e subfinanciadas.
Startups e indústrias emergentes esperam meses para licenças, importações e liberações.
Juros estruturais altos tornam deep tech proibitivamente cara.
Aversão a risco e preferência por retorno rápido inviabilizam projetos de fronteira.
O resultado é previsível: o Brasil fica como importador de tecnologia, não produtor.
A China trabalha com metas até 2060. O Brasil, com metas até o próximo ciclo eleitoral. Enquanto isso, o país perde competitividade em energia, agro 4.0, biotecnologia, semicondutores e manufatura avançada.
O risco não é apenas econômico, é geopolítico.
Na próxima década, os países que controlarem:
ditarão as condições do comércio global.
O Brasil não precisa escolher entre EUA e China, precisa escolher não ficar irrelevante.
A China está construindo o conjunto tecnológico mais ambicioso da história recente. Não se trata apenas de inovação, mas de poder. E, ao contrário do Brasil, faz isso com continuidade, foco e integração.
A pergunta central não é se essas tecnologias vão transformar a economia global.
É:
onde o Brasil estará quando isso acontecer?