Vacina australiana para covid-19 gerou resultados falso-positivos para HIV
Governo australiano planejava adquirir 51 milhões do imunizante produzido pela Universidade de Queensland, mas desistiu da compra
Rodrigo Loureiro
Publicado em 14 de dezembro de 2020 às 17h57.
O governo australiano informou na última sexta-feira (11) que realizou o cancelamento de um pedido de mais de 750 milhões de dólares em vacinas contra o coronavírus e que seriam produzidas pela Universidade de Queensland, que fica na própria Austrália. O imunizante, ainda em fase de teste, fez que alguns voluntários registrassem resultados falso-positivos para HIV .
De acordo com Scott Morrison, primeiro-ministro da Austrália, as 51 milhões de doses que iriam ser compradas do consórcio australiano serão agora divididas nos pedidos de doses feitos para as farmacêuticas AstraZeneca e Novavax, também envolvidas no desenvolvimento de uma vacina contra o vírus SARS-CoV-2
O jornal americano The New York Times lembra que esta vacina pode ser abandonada e que o caso é uma evidência do que pode acontecer quando cientistas são apressados para a criação de uma vacina que levaria anos para ser feita e que agora precisa estar disponível em apenas alguns meses. Mais 1,5 milhão de pessoas já perderam a vida em decorrência da covid-19.
“Fazer isso atrasaria o desenvolvimento em mais 12 meses e, embora seja uma decisão difícil de se tomar, a necessidade urgente de uma vacina deve ser a prioridade de todos”, disse Paul Young, virologista da universidade que ajudou no desenvolvimento da vacina, disse no comunicado.
Desenvolvida em conjunto com a empresa de biotecnologia CSL, obteve esses resultados falso-positivos para a presença do vírus HIV justamente pelo método de desenvolvimento do imunizante. Uma proteína encontrada no vírus era “pinçada” nas pontas que circundam o coronavírus. A intenção é que esta proteína formasse uma barreira, impedindo a disseminação da covid-19 no organismo.
O problema é que, mesmo que esta proteína não infecte os voluntários com o vírus HIV, ela faz com que o sistema imunológico crie anticorpos para combater uma o vírus (mesmo ele inexistindo). Isso já era esperado, mas não em níveis tão elevados como os obtidos durante a testagem da vacina.
A preocupação dos cientistas é de que o processo de vacinação poderia levar a problemas de ansiedade pelo receio da contaminação com o vírus da AIDS.
“Tenho certeza de que muitas pessoas ficam muito envergonhadas com isso”, disse o professor disse John P. Moore, imunologista do Weill Cornell Medical College, ao NYT. “Não é bom estar associado a um erro como este. Mas quando você está correndo a 145 km/h, às vezes você tropeça.”